Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Apesar das inúmeras evidências apresentadas
até aqui, a respeito da fundamentação bíblica do sistema contributivo que
emprega o dízimo como referencial para a manutenção de uma receita mensal,
ainda existem questões não respondidas. Uma delas é a razão da ausência do
termo “dízimo” na fraseologia neotestamentária. Afinal de contas, a maioria das
críticas à sua observância se baseia nesse fato.
Para encontrar uma resposta satisfatória, é
preciso levar em conta o ambiente de liberalidade que caracterizava a igreja
primitiva. Porquanto, numa comunidade em que as pessoas dão muito mais que 10%,
não há porque enfatizar o dízimo como princípio norteador da atividade
contributiva. Pense comigo: se numa igreja local todos decidissem,
unanimemente, dar 90% de sua renda para a igreja, mensalmente, não haveria
necessidade de enfatizar a observância do dízimo. A inexistência dessa ênfase
(ou menção), entretanto, não seria sinônimo da extinção desse percentual. O
mesmo ocorria com os primeiros cristãos.
Contudo, embora a ausência do termo seja um
fato, é igualmente verdadeiro que não há um texto sequer do Novo Testamento que
abula o dízimo. Portanto, se seguirmos o mesmo raciocínio dos críticos, teremos
de concluir que, se por um lado a escassa ocorrência da palavra justifica sua
abolição, por outro, a inexistência de uma ordem que determine sua extinção
testemunha em favor de sua contemporaneidade.
Não podemos esquecer também que, em ambos os
testamentos, a entrega de recursos para o sustento da obra é um elemento do
culto. Senão vejamos: ao orientar os cristãos coríntios acerca das doações, o
apóstolo Paulo os instruiu a ofertar no primeiro dia da semana (1Coríntios
16.2), quando a igreja costumava reunir-se para adoração (Atos 20.7). Ora, qual
seria a finalidade de fazer a coleta especificamente no domingo, se a ideia não
fosse fazê-lo durante o culto? Não faria sentido algum. O apóstolo poderia ter
optado por qualquer outro dia. Mas, por que justamente o dia de culto? Porque
as ofertas faziam parte do culto cristão, assim como acontecia no culto
veterotestamentário (Malaquias 3.10). Isso fica evidente no fato de que a mesma
ordem foi dada às igrejas da Galácia (1Coríntios 16.1). Isto é, não se tratava
de uma orientação exclusiva para os cristãos coríntios.
Acerca disso, digna de nota é a declaração
paulina em 1Coríntios 9.13,14: “Não sabeis vós que os que administram o que é
sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar
participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o
evangelho, que vivam do evangelho”. Perceba que o apóstolo fundamenta a defesa
do sustento ministerial na lei do dízimo! Pois, de acordo com Números 18.21, os
levitas (aqueles que administravam o que era sagrado) eram sustentados pelos
dízimos do povo de Israel. Ou seja, embora o termo dízimo não apareça nesse
texto, ele é claramente o pano de fundo da argumentação de Paulo. Afinal de
contas, como seria possível manter um obreiro se as contribuições não fossem
baseadas em um percentual periódico? Pensando nisso, o apóstolo recorreu ao
modelo veterotestamentário, visto que compreendia que o mesmo fora ordenado por
Deus. Ele nem sequer cogitou a possibilidade de utilizar um modelo
extrabíblico! Por que, então, muitos o fazem atualmente?
Vale ressaltar que, ao mencionar a legislação
mosaica, o apóstolo descarta as estipulações específicas para o sacerdócio
levítico (leis casuísticas), e fica apenas com o princípio subjacente.
Exatamente o que temos falado até aqui! Ora, se usar os princípios da lei fosse
algo tão errado conforme defendem alguns, por qual razão Paulo faria isso? Não
faria sentido! Sendo assim, por que não podemos fazer o mesmo hoje? Por que
seria proibido utilizar princípios bíblicos? Às vezes, parece que a motivação
dos críticos é a ojeriza ao comprometimento financeiro com algo que não lhes
proporciona um retorno palpável.
Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
KISTEMAKER,
Simon J. Comentário do Novo Testamento:
exposição da primeira epístola aos coríntios. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? – PARTE XV
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