Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Acerca do dízimo, há quem diga que, embora
devamos contribuir para o caixa de uma igreja local, chamar as contribuições de
dízimo é totalmente inadequado, pois tal termo pertence ao vocabulário do
Antigo Testamento. No entanto, penso que essa compreensão está equivocada.
Porquanto, não existe um vocabulário exclusivo da antiga aliança. A bem da
verdade, a linguagem neotestamentária é praticamente a mesma do Antigo
Testamento. Não há solução de continuidade. Afinal de contas, o Novo Testamento
é construído sobre os alicerces do Antigo. Um exemplo bem claro dessa afinidade
fraseológica é o termo “culto”, o qual, conquanto se origine no contexto
veterotestamentário (Êxodo 12.25,26), é usado pelo apóstolo Paulo para
referir-se à adoração cristã coletiva (Romanos 12.1). O mesmo acontece com as
palavras oração, unção, fé, pecado, graça, louvor, glória, entre outras. Até
mesmo o título “Messias” (Cristo, no Novo Testamento) é de origem
veterotestamentária! Por conseguinte, é indevida a conclusão de que há impropriedade
na utilização de termos nascidos no ambiente da antiga aliança. Até porque, se
assim fosse, os escritores do Novo Testamento teriam incorrido num grave erro.
Não obstante, diante da explanação acima,
alguém pode objetar, apontando a diferença de idiomas entre os testamentos como
um impedimento para essa argumentação; haja vista que tal distinção constitui
uma dificuldade para a correspondência linguística. Porém, embora o Antigo Testamento
tenha sido redigido em hebraico e o Novo em grego, existe uma maneira de
verificar a correspondência dos termos. Basta comparar o Novo Testamento grego
com a Septuaginta (Tradução da Bíblia hebraica para a língua grega). Ao
fazê-lo, verificar-se-á que as palavras supracitadas são as mesmas em ambos os
testamentos. Isto é, trata-se da linguagem bíblica, e não de um vocabulário
exclusivo do Antigo Testamento. Ademais, levando-se em conta que o termo
“dízimo” também aparece no Novo Testamento, o mesmo não pode ser considerado
como parte de uma linguagem técnica exclusivamente veterotestamentária.
Outrossim, é importante notar que, à luz do
registro bíblico, é bem provável que Jesus fosse dizimista. Até porque, no
contexto da lei, ninguém estava isento do dízimo. Até quem o recebia tinha de
dizimar (Números 18.25-29)! Logo, se o Ele não dizimasse, seus inimigos
prontamente o teriam acusado de transgressor da lei, como fizeram em diversas
ocasiões no tocante à suposta profanação do sábado. Aliás, conquanto tenha
ensinado seus discípulos a não jejuar (Marcos 2.18-22), Ele nunca os ensinou a
não dizimar. Ao contrário, mesmo tendo o direito de não pagar o imposto do
templo (taxa instituída pelo Senhor na lei mosaica – Êxodo 30.12-14; 2Crônicas
24.6,9), por ser o Filho de Deus, abriu mão de Sua prerrogativa para não causar
escândalo (Mateus 17.24-27). Com isso, fica bem claro que o Mestre nunca visou
interesses e conveniências pessoais. Por isso, não considerava ultrajante dar
dinheiro para a manutenção da atividade religiosa, mesmo que não precisasse
dar.
Portanto, ainda que para alguns seja difícil
aceitar a prática do dízimo, não podemos dizer que Jesus enfrentou tal
dificuldade. Na verdade, Ele não via problema algum em dar dinheiro para a
manutenção da estrutura religiosa do judaísmo, mesmo que discordasse das
atitudes de seus líderes. Tanto, que, ao criticar a religiosidade farisaica,
não condenou o dízimo e nem as ofertas; apenas os acusou de exagerar na
cobrança e na observância da legislação mosaica referente ao dízimo, enquanto
negligenciavam as exigências mais importantes da lei (Mateus 23.23).
Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? – PARTE XVI
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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