Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
No
afã de justificar as “palmas pra Jesus” como elemento do culto, muitos buscam
passagens bíblicas que fundamentem sua argumentação. A mais empregada para esse
fim é o salmo 47. Contudo, ao analisarmos o contexto desse salmo, veremos que
ele não legitima tal prática. Senão vejamos: ao contrário do que muitos pensam,
a convocação feita no salmo (“aplaudi com as mãos”), não é dirigida
exclusivamente aos servos de Deus, mas sim a “todos os povos” (Sl 47.1). Logo,
podemos, naturalmente, concluir que o texto não está tratando do culto prestado
ao Senhor. Afinal, os outros povos serviam a outros deuses. Como, pois,
participariam de um culto dirigido a uma divindade que exigia
exclusividade?
É
importante observar, entretanto, que a convocação feita no salmo não se trata
de um convite para um evento especial, mas da proclamação da universalidade do
senhorio de Deus. Justamente por isso, o salmista alude a uma prática bastante
comum nas cerimônias de coroação do Antigo Oriente Próximo: aplaudir o rei. Um
exemplo disso, aparece em 2Rs 11.12: “Então, ele tirou o filho do rei, e lhe
pôs a coroa, e lhe deu o testemunho; e o fizeram rei, e o ungiram, e bateram
as mãos, e disseram: Viva o rei!” A partir daí, fica evidente que o
propósito do salmista é destacar o Deus de Israel como o “grande rei de toda a
terra” (Sl 47.2), e convocar os povos subjugados a reconhecerem Sua realeza.
Outra
evidência de que o cântico visa exaltar o governo universal do Senhor, e não
incentivar aplausos durante o culto é o uso da expressão “grande rei”.
Porquanto, era comum referir-se aos governantes da Antiguidade utilizando o
título “grande rei”. Em 2Rs 18.19, por exemplo, Senaqueribe, rei da
Assíria, é chamado dessa forma. No entanto, no salmo em questão, embora o mesmo
título seja atribuído a Deus, destaca-se que Seu território não é limitado como
dos demais reis, mas, antes, abarca toda a terra.
Vale
salientar também que o cântico composto pelo salmista traz à memória a
conquista de Canaã (Sl 47.3,4), a qual fora concedida a Israel pelo próprio
Deus. Sendo assim, diante dessa nítida manifestação de poder, todas as nações
deveriam aplaudir o Todo-poderoso, ou seja, reconhecê-lo como Rei dos reis e
Senhor dos senhores. Dessa forma, fica bem claro que, ao mencionar aplausos, a
intenção era ressaltar que o Senhor, muito mais do que os reis humanos, é digno
de exaltação e reconhecimento. Em momento algum os “aplausos” são apontados
como uma expressão de louvor que deve estar presente no culto, nem no Antigo e
nem no Novo Testamento.
Todavia,
há outros textos, além do salmo 47, em que as “palmas” aparecem. Contudo,
nenhum deles serve para legitimar os aplausos. Até porque, no período veterotestamentário
as palmas, normalmente, expressavam ira (Nm 24.10; Ez 21.17; 22.13), desprezo
(Jó 34.17; Lm 2.15; Na 3.19), aprovação pela queda dos inimigos (Jó 27.23;
Ez 6.11; 25.6). Mas havia também uma conotação positiva das palmas, como
podemos ver no salmo 98.8, no qual a natureza personificada é convocada a
louvar o Todo-poderoso: “Os rios batam palmas; regozijem-se também as
montanhas”. Porém, essa passagem é claramente metafórica. Afinal, rios não
batem palmas. O mesmo ocorre em Is 55.12, onde é dito que, diante da
prosperidade do justo, “todas as árvores do campo baterão palmas”. Destarte, é
evidente que não há um texto sequer que fundamente as famosas “palmas pra
Jesus”.
Continua...
Pr.
Cremilson Meirelles
PALMAS PRA JESUS? – PARTE II
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
on
20:16
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Aprendi muito Pastor, gostei.
ResponderExcluirQue bom! Continue acompanhando!
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