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O CRISTÃO E A POLÍTICA DE COTAS RACIAIS – ÚLTIMA PARTE

Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
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            É importante salientar que, ao apontar exemplos de meritocracia nas Escrituras, nossa intenção não é defender a salvação pelas obras, mas destacar os princípios bíblicos acerca do trabalho. Até porque, embora a redenção humana seja seu tema principal, a Bíblia traz orientações sobre outros assuntos. A respeito das relações trabalhistas, por exemplo, conforme explicamos anteriormente, as Escrituras deixam bem claro que o esforço individual deve ser recompensado. “Porque ‘o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita’” (1Coríntios 9.10).
            Apesar disso, a esquerda evangélica, a partir de uma leitura tendenciosa, afirma que o sistema de cotas tem fundamentação bíblica. Um dos textos empregados para justificar essa afirmação é a parábola dos trabalhadores e as diversas horas de trabalho (Mateus 20.1-16). Pois, segundo o pensamento progressista, a narrativa em questão deve nortear a relação entre o povo e o governo; de modo que, assim como o dono da vinha pagou o mesmo salário a todos independente das horas trabalhadas, o Estado deve agraciar alguns cidadãos, aprovando-os em concursos públicos, mesmo que estes não tenham atingido a pontuação necessária.  
            No entanto, essa interpretação falha em identificar o verdadeiro propósito de Jesus ao proferir a parábola, uma vez que pressupõe que Ele visava estabelecer a base para a concessão de benefícios trabalhistas e educacionais. Afinal de contas, é evidente que o objetivo do Mestre era demonstrar que a salvação não é concedida como retribuição pela retidão ou pelo serviço prestado ao Senhor, mas constitui um favor livremente oferecido pelo proprietário do universo. Isto é, o texto trata da graça salvadora, e não da graça estatal.
Outro erro crasso dessa distorção textual é pressuposição de que o pano de fundo da parábola é uma sociedade comunista ou socialista. Porquanto, contexto da narrativa é claramente capitalista. Senão vejamos: o dono da vinha é um latifundiário que contrata empregados para trabalhar em sua propriedade, e goza da liberdade de dispor de seus bens como quer; de maneira que o fator determinante para a concessão do benefício é a vontade do proprietário, e não do Estado. Além disso, a cor da pele dos trabalhadores nem é mencionada. Como, pois, poderíamos usar essa narrativa para defender o sistema de cotas? Fazê-lo seria o mesmo que realizar uma “eisegese”, ou seja, implantar no texto ideias e conceitos que não estão lá.
            Ademais, embora existam preconceitos por causa da cor da pele, o problema da ascensão educacional em nosso país é obviamente social, e não racial. A solução, portanto, deveria ser a melhoria da educação para todos, e não apenas a concessão de vagas para alguns. Isso estaria mais de acordo com a parábola que as chamadas “políticas afirmativas”; visto que o dono da vinha paga o salário a todos os seus empregados, e não somente a alguns. Até porque, o sistema de cotas, ao invés de minimizar a desigualdade, a institucionaliza. Por essa e outras razões, penso que o cristão pode e deve discordar das cotas raciais.

Pr. Cremilson Meirelles

 


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