Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
No cotidiano evangélico há palavras,
expressões e conceitos que, por serem usados frequentemente, passaram a compor
o vocabulário dos fiéis; de modo que as ideias por trás dos termos se tornaram
axiomas, ou seja, verdades inquestionáveis. Um exemplo disso é o conceito de
que as igrejas modernas são, na verdade, instituições religiosas. Isto é,
segundo esse raciocínio, as comunidades cristãs que se reúnem em templos,
recebem contribuições mensais e são dirigidas por um pastor, não são igrejas no
sentido bíblico do termo, mas sim agremiações semelhantes aos partidos
políticos. Isso porque, sua estrutura organizacional inclui CNPJ, movimentação
financeira, hierarquia, endereço fixo e reuniões regulares.
Essa
compreensão foi tão amplamente propagada através da internet que muitos
concluíram que se tratava de uma verdade absoluta. Contudo, uma análise simples
revela que a coisa não é bem assim. Basta considerar a condição de qualquer
indivíduo adulto. Pois, todos são registrados no Cadastro de Pessoa Física (CPF)
e identificados pelo Registro Geral (RG). Isso, no entanto, não faz com que o
indivíduo seja despersonalizado; isto é, não o transforma em outra coisa. O
fulano cadastrado/registrado continua sendo o fulano. Ele apenas se adaptou às
exigências de uma sociedade organizada. Entretanto, se seguíssemos a lógica
empregada para diferenciar a igreja neotestamentária da igreja adaptada à
legislação de seu país, deveríamos necessariamente concluir que o fulano
registrado não é a mesma pessoa que era antes de se registrar. Dessa maneira,
só os moradores de rua, por não possuírem tais identificações, seriam “pessoas
reais”. Todos os demais seriam indivíduos “institucionalizados”. Evidentemente,
isso não faz sentido algum. Por essa razão, entendemos que a igreja continua
sendo igreja, ainda que se adeque às exigências legais e às demandas de seu
tempo. Não é por adquirir um CNPJ e possuir endereço fixo que ela se torna
outra coisa. Uma comunidade cristã deixa de ser igreja somente quando abandona
as Escrituras.
Outro
ponto importante a ser salientado acerca dessa questão é a origem dessa
dicotomia (instituição e igreja). Porquanto, seu nascedouro é um movimento
anarcoevangélico conhecido como desigrejamento, o qual demoniza toda e qualquer
forma de organização abraçada por quem professa a fé cristã; de modo que, para
os desigrejados, as igrejas modernas são apóstatas, e seus líderes são
charlatões. Por conseguinte, a fim de distinguir as congregações atuais das
neotestamentárias, passaram a chamar as igrejas de instituições.
Vale
ressaltar que há um claro equívoco nessa designação. Afinal, quem foi que disse
que instituição é sinônimo de pessoa jurídica? Certamente, alguém que
desconsiderou, por exemplo, a família; haja vista que, embora ela seja a mais
antiga das instituições, não possui CNPJ. Esse dado revela que o conceito de instituição
é muito mais abrangente. De acordo com Roland de Vaux (2004, p.15),
renomado historiador e arqueólogo francês, “instituições de um povo são as
formas de vida social que esse povo aceita por costume, escolhe livremente ou
recebe de uma autoridade”. Partindo desse princípio, concluímos que, em
essência, a igreja é de fato uma instituição. Mas, não no sentido pretendido
pelos desigrejados, mas sim a partir de uma perspectiva da igreja como grupo
social que reproduz um comportamento estabelecido pelas Escrituras, sua única
autoridade em matéria de fé e prática. Isso, porém, não justifica a distinção
presente no vocabulário de muitos evangélicos. Até porque, nesse sentido,
igreja e instituição são uma e a mesma coisa. Pois, a igreja de Cristo
permanece viva, com CNPJ e tudo.
Pr. Cremilson Meirelles
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São
Paulo: Vida Nova, 2004.
QUEM DISSE QUE IGREJA E INSTITUIÇÃO SÃO COISAS DIFERENTES?
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