O CRISTÃO PODE JOGAR NA LOTERIA? – PARTE I

Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa

Certamente, para muitos evangélicos, esse questionamento não faz sentido algum. Isso porque, na sua compreensão, a inadequação dessa prática à conduta cristã é tão evidente que não há necessidade sequer de tratar do assunto. Apesar disso, existem indivíduos que, afirmando serem cristãos, costumam apostar na loteria, sem nenhum peso na consciência. Pois, para eles, como não há um versículo que proíba explicitamente o crente de fazer apostas, tal como “não apostarás”, quem faz não está em pecado. E daí surge o dilema: quem está certo? Podemos ou não podemos apostar?

Encontrar respostas satisfatórias para essa questão é o desafio que nos propusemos neste texto. Entretanto, antes de nos engajarmos nessa busca, é preciso salientar que, além de mandamentos explícitos, a Bíblia também revela princípios. De modo que, quando não há uma norma claramente estabelecida, são os princípios que devem nortear nossa conduta. Até porque, há várias questões que não são claramente regulamentadas pelas Escrituras, e, mesmo assim, os cristãos mantêm posicionamentos firmes. A pedofilia é um exemplo disso. Porquanto, embora não haja no texto bíblico nenhuma menção direta desse crime, e nenhum versículo que o proíba, baseados em princípios bíblicos, nós o condenamos. Por essa razão, creio que uma resposta adequada para a pergunta relativa às apostas deve, necessariamente, levar em conta o ensino bíblico acerca da relação entre o homem e o dinheiro.

Sendo assim, o melhor caminho é iniciar a análise a partir do livro do Gênesis. Afinal, no começo de tudo, o Senhor expressou Sua vontade por meio do que fez e declarou; e uma das coisas que Moisés relatou que Deus realizou antes da queda do homem foi a instituição do trabalho. Pois, o Criador pôs o homem no jardim do Éden para lavrá-lo e guarda-lo (Gênesis 2.15). Obviamente, esse trabalho não visava prover alimentação, mas fazer a manutenção do jardim; haja vista que o Senhor ordenara ao homem que comesse livremente de toda árvore (Gênesis 2.16). Contudo, após a queda, Deus o sentenciou a obter o alimento a partir do seu trabalho: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra” (Gênesis 3.19). Esse veredito não se restringiu ao período da Antiga Aliança. No Novo Testamento ele foi reiterado no ensino apostólico. Senão vejamos: em 2Tessalonicenses 3.10, Paulo declara: “...se alguém não quiser trabalhar, não coma também”. Semelhantemente, em 1Tessalonicenses 4.11,12,  o apóstolo “manda” que os crentes de Tessalônica trabalhem com as próprias mãos, para que não dependam de esmolas. Isso porque, ele compreendia que o trabalho é o meio bíblico para provisão do sustento.

Quem joga na loteria está na contramão desse ensino, visto que espera se beneficiar de um sistema no qual, embora somente um ganhe, muitos desperdiçam seu dinheiro. Ou seja, a vitória é conquistada à custa dos outros pagantes. Isto contraria o preceito bíblico de não ser pesado aos outros: “porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem, de graça, comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós” (2Tessalonicenses 3.7,8). Ademais, a Bíblia deixa bem claro que a prosperidade financeira é resultado do trabalho, e não da “sorte”: “os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta à força do trabalho terá aumento” (Provérbios 13.11). Isto é, segundo as Escrituras, não existe dinheiro fácil.

Continua...

Pr. Cremilson Meirelles

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