Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
O palavrão, na
maioria das vezes, não é uma declaração verdadeira, mas apenas a expressão da
ira de quem o profere. Quer dizer, geralmente quem xinga não tem a intenção de
revelar a promiscuidade da mãe alheia. Na verdade, o que se pretende é
extravasar a raiva e ofender o receptor. Por essa razão, afirmar que Jesus
falava palavrões é o mesmo que reconhecer que, em algum momento, Ele mentiu ou
mencionou frivolamente a genitália humana. Até porque, em Mateus 12.36, apontou
as palavras frívolas como evidência de um coração mau (Mateus 12.35).
Acerca desse
texto, é importante salientar que, se observarmos todo o discurso do Cristo,
identificaremos uma das frases que os defensores dos xingamentos, normalmente,
caracterizam como palavrão, a saber: “raça de víboras”. Ora, se de fato fosse
um palavrão, mais uma vez, teríamos de admitir uma contradição no discurso do
Filho de Deus. Porquanto, logo após proferi-la, Ele diz que, por suas palavras,
os homens maus seriam condenados (Mateus 12.37); dando a entender que a
expressão que acabara de usar não era má. Pois, se fosse algo ruim, Jesus
estaria assumindo que era mau. Afinal, como Ele mesmo afirmou, “do que há em
abundância no coração, disso fala a boca” (Mateus 12.34b); de modo que “o homem
bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira
coisas más” (Mateus 12.35). Mas, como seria possível aquele que declarou ser “o
bom pastor” (João 10.11) ser um homem mau? A simples cogitação desse absurdo já
constitui uma heresia!
Além do mais,
vale sublinhar que o termo traduzido como frívola (o grego argos) dá a ideia de algo inativo, ocioso, não usado, inútil; e é
usado pelo Mestre a fim de advertir os ouvintes contra o emprego de palavras
falsas, blasfemas, ferinas, tais como as utilizadas por seus oponentes em
Mateus 12.24; acerca das quais Ele ressalta: “E, se qualquer disser alguma
palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar
contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro”
(Mateus 12.32). Decerto, essa afirmação alude à declaração farisaica referente
ao poder pelo qual Jesus expulsava demônios (Mateus 12.24), e evidencia que, ao
invés de filhos do Reino, seus opositores eram, na verdade, uma raça de
víboras; ou seja, homens malvados, distantes de Deus, muito mais identificados
com a serpente do que com a geração eleita. Por conta disso, tal frase não pode
ser caracterizada como um palavrão; haja vista que Jesus não a usou para
expressar sua ira e nem tinha a intenção de ofender seus algozes. Seu propósito
exclusivo era expor a verdadeira condição daqueles homens. Esse efeito jamais
seria alcançado se Ele os chamasse, por exemplo, de filhos de uma prostituta,
tal como fazem os xingadores contemporâneos. Até porque, isso não seria
verdade. E mesmo se fosse, qual seria o problema? Duvido que o Rei dos reis
ficaria indignado com o fato de alguém ser filho de uma mulher promíscua. Afinal
de contas, o próprio Deus, certa vez, usou o filho de uma prostituta para
libertar seu povo da opressão amonita (Juízes 11), e, posteriormente, mediante
a inspiração, o inseriu na galeria dos heróis da fé (Hebreus 11.32).
Ademais, como
diz a Escritura, “os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos, pelos pais;
cada qual morrerá pelo seu pecado” (Deuteronômio 24.16); “de maneira que cada
um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Romanos 14.12). Portanto, para o
Senhor, pouco importa o que nossos pais fazem ou fizeram, o que faz a diferença
é o reconhecimento do que Cristo fez por nós. Sendo assim, creio que Jesus
jamais condenaria alguém só porque a mãe praticou a prostituição. Ao contrário,
penso que Ele convidaria tanto a mãe quanto os filhos a se arrependerem e crerem
no evangelho (Marcos 1.15).
Continua...
Pr.
Cremilson Meirelles
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
COENEN,
Lothar; BROWN, Colin. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. Trad. Gordon Chown. 2. ed.
São Paulo: Vida Nova, 2000. 1 v.
HENDRICKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus
vol. 2. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
O CRENTE PODE FALAR PALAVRÃO? - PARTE III
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