Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Conquanto o palavrão tenha um caráter imoral, e isso
ofenda e constranja a muitos, de acordo com alguns estudiosos, é justamente seu
sentido negativo que lhe dá força (SANTOS e COSTA, 2013). Ou seja, ele é
empregado porque está carregado de agressividade; se tornando, por conta disso,
um instrumento para expressão de estados emocionais intensos. Afinal, “o
gatilho que dispara o palavrão é a emoção individual de cada falante” (op. cit,
p.337). Pensando assim, acadêmicos da Faculdade de psicologia da Universidade
de Keele, na Inglaterra, concluíram, após analisar o comportamento de 70
voluntários diante da dor, que quem xinga durante uma experiência dolorosa
tende a suportá-la por mais tempo. Porquanto, segundo os pesquisadores, o
palavrão promove a descarga emocional necessária para aliviar a dor.
Apesar do método científico utilizado, é evidente que
a pesquisa supracitada falha nos elementos de sua amostragem; haja vista que
desconsidera a experiência de muitos monges budistas, os quais suportam a dor e
o desconforto mantendo o silêncio e esvaziando a mente, sem proferir nenhum
palavrão. Até porque, a raiva não pode aliviar a dor. Na verdade, mais do que
isso, o xingamento visa, na maioria das vezes, expressar agressividade em
relação ao outro ou a algo que tenha provocado dor (tal como quando se tropeça
em uma pedra). Isto é, o palavrão, de um modo geral, é um revide a uma injúria
física ou moral, e tem um impacto psicológico negativo.
Considerando que todo crente deve ser imitador de
Cristo (1Coríntios 11.1), devendo, portanto, procurar reproduzir Seu
comportamento, é importante verificar como Jesus procedia diante das ofensas.
Em 1Pedro 2.21-23, um dos homens que caminhou com Ele, destaca que “Cristo
padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas, o
qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano, o qual, quando o
injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se
àquele que julga justamente” (1Pedro 2.21-23). Ora, se nosso Mestre, quando
o injuriavam, não injuriava, quem somos nós para o contrário?
Todavia, embora essa argumentação pareça irrefutável,
nem todos se dobram ante suas premissas. Pois, alguns acreditam que o próprio
Jesus, por andar na companhia de pessoas marginalizadas pela sociedade da
época, tinha o hábito de xingar. Essa conclusão baseia-se no pressuposto de que
muitas das palavras usadas por Cristo em seus discursos eram, na verdade,
palavrões na cultura judaica. Um exemplo disso é o termo aramaico rhaka, usado
por Jesus no sermão do monte ao destacar a real abrangência do sexto
mandamento. Segundo os defensores dessa teoria, rhaka seria um palavrão
equivalente aos xingamentos contemporâneos.
Não obstante, ainda que o termo em questão fosse
empregado desdenhosamente, não era um palavrão como os de hoje; uma vez que não
trazia consigo nenhuma ideia vinculada ao ato sexual ou à genitália. Isso não
significa, porém, que não seja depreciativo. Seu sentido se aproxima da
expressão “cabeça-oca”. No entanto, mesmo que alguém argumente que seu caráter
ofensivo o torna um palavrão, Jesus o utilizou uma única vez, com o propósito
de apontar um comportamento reprovável, e não como parte de seu vocabulário.
Até porque, se as palavras mencionadas em Mateus 5.22 fossem comumente usadas
pelo Filho de Deus, Seu discurso seria contraditório! Seria como dizer: “faça o
que eu falo, mas não faça o que eu faço”.
Contudo, as Escrituras parecem mostrar justamente o
oposto; ou seja, que no comportamento de Jesus não havia contradição e nem erro
de espécie alguma. Afinal de contas, ainda que, como nós, em tudo tenha sido
tentado, Ele não pecou (Hebreus 4.15). Isto é, nunca descumpriu as diretrizes
bíblicas. Por conseguinte, concluímos que o Mestre não andou em perversidade de
boca (Provérbios 6.12). Pois, “o coração do justo medita o que há de responder,
mas a boca dos ímpios derrama em abundância coisas más” (Provérbios 15.28).
Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ACHKAR, Michelle. Falar palavrão é uma forma de
aliviar a dor, diz pesquisa. Disponível em:
<http://saude.terra.com.br/falar-palavrao-e-uma-forma-de-aliviar-a-dor-diz-pesquisa,18498c3d10f27310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html>.
HENDRICKSEN, William. Comentário do Novo
Testamento: Mateus vol. 1. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
SANTOS, Demócrito Cruz; COSTA, Kátia Regina Lopes. Palavrão:
um olhar sobre a possível não arbitrariedade deste signo linguístico.
Web-Revista Sociodialeto. Bacharelado e Licenciatura em Letras. UEMS/Campo
Grande, vol. 3, n. 9, mar. 2013. Disponível em:
<http://www.sociodialeto.com.br/edicoes/14/01042013045626.pdf>.
O CRENTE PODE FALAR PALAVRÃO? – PARTE II
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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