Conforme foi dito no texto anterior, o objetivo da geração de filhos sempre foi a multiplicação da adoração. Com a queda, entretanto, a procriação por si só não garante mais a geração de adoradores. Agora, os adoradores nascem pela obra do Espírito Santo, através da pregação do evangelho. Mas, como isso começou? É o que veremos neste texto.
1 – Deus apresentou Cristo como a solução para o problema
Em Gênesis 3, antes do anúncio do juízo divino, uma excelente notícia foi proclamada: apesar da desobediência humana, Deus providenciara uma solução para o problema do pecado. Isso foi registrado em Gênesis 3.15, texto que passou a ser conhecido na teologia cristã como o protoevangelho, haja vista que constitui prenúncio da obra redentora de Jesus Cristo. Eis o que diz o texto: “...porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Vale ressaltar que as circunstâncias em que essa declaração foi proferida reforçam verdades fundamentais para a missão. A primeira delas é a universalidade do pecado e da oferta de salvação, pois o fato de a mensagem ter sido dirigida a Adão, o representante da humanidade naquela ocasião, deixa claro que a redenção visava alcançar pessoas de todo canto da terra.
Ademais, o anúncio de que a concretização da promessa viria por intermédio da procriação mostra que a meta original (multiplicação da adoração por meio da geração de filhos) ainda estava em vigor. Porém, seu cumprimento se daria por meio do nascimento de um único filho, o Filho de Deus, o qual daria origem a uma multidão de adoradores.
Mas, antes que isso acontecesse no palco da história, seria necessário estabelecer uma árvore genealógica que culminasse no advento do Messias. O uso do hebraico zera‛ (semente) no enunciado da promessa parece indicar isso, haja vista que se trata de um termo frequentemente usado com referência à linhagem escolhida.
A importância da descendência física, no entanto, ficou restrita ao seu propósito original: servir de veículo para a encarnação do Verbo. Após alcançar esse fim, a ênfase recaiu sobre a descendência espiritual. Isto é, embora na Antiga Aliança a expectativa messiânica motivasse a geração de filhos, o que predomina na Nova é o desejo de participar da geração de discípulos de Jesus Cristo. Porquanto, os filhos de Deus por adoção são gerados pela obra do Espírito Santo.
2 – Deus estabeleceu a proclamação como estratégia missionária
Como a geração de filhos se tornou insuficiente para o cumprimento da missão de multiplicar a adoração no mundo, Deus levantou homens para divulgarem a promessa redentora do Criador. Entre eles, destacaram-se Enoque e Noé, os quais estão entre os primeiros missionários. Sua pregação era marcada pela proclamação universal da necessidade de justiça (2 Pedro 2.5; Judas 14-16). O cerne da mensagem era a oferta de salvação mediante o arrependimento. Isso pode ser depreendido do fato de eles andarem com Deus (Gn 5.24; 6.9) e apregoarem o juízo. Ou seja, diante do castigo iminente, os ouvintes deveriam retroceder de seus maus caminhos e, como eles, se aproximar de Deus.
Esse discurso, por ter ocorrido antes da separação dos povos em Babel, era evidentemente dirigido a toda humanidade, tal como é ordenado no Novo Testamento: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15).
Além desse ponto de contato com a missão neotestamentária, é importante destacar o alinhamento entre a conduta daqueles homens e sua pregação. Afinal, o comportamento desalinhado com a pregação pode comprometer a evangelização. A missão requer que o missionário seja um adorador. Até porque, seu objetivo é multiplicar a adoração no mundo.
3 – A diversidade cultural
Para o cumprimento da promessa protoevangélica, Deus prometeu a Sem, filho de Noé, que habitaria em suas tendas (Gn 9.27). Essa promessa indica que a linhagem escolhida viria dos semitas. Isso foi confirmado quando o Senhor se revelou a Abraão, um dos descendentes do filho de Noé (cf. Gn 11.1-26).
Em Babel, porém, a rebelião humana levou os povos a se oporem a esse aspecto da missão, por meio da autoexaltação e da homogeneização cultural. Isto é, eles buscaram exatamente o oposto do que Deus ordenara. Ao invés de se espalharem pela terra, a fim de enchê-la de adoradores (Gn 1.28), decidiram permanecer todos na mesma região e buscaram exaltar as criaturas (Gn 11.4), e não o Criador (Rm 1.24-25).
Em resposta, Deus interveio promovendo a diversidade através do espalhamento dos povos (Gn 11.5-9). Com isso, além de manifestar o juízo sobre “a injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1.18), o Todo-Poderoso mostrou que a diversidade cultural se enquadra no seu propósito de multiplicar a adoração no mundo. Os missionários, portanto, devem considerá-la antes de se lançarem no campo.
Conclusão
A presença desses princípios nas páginas do Antigo Testamento evidencia a unidade da revelação. Afinal, ambos os testamentos foram progressivamente revelados pelo mesmo Deus, de sorte que o mesmo caráter está presente em cada livro. Sendo assim, é natural que os propósitos se mantenham. Aquilo que o Criador intentou no começo foi o que ele realizou no decorrer da história da redenção.
Por conseguinte, o missionário deve se alicerçar nos princípios revelados por Deus e confiar no poder do Espírito Santo para levante avante a missão.
Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
MISSÕES NA BÍBLIA, PARTE II: A MISSÃO DEPOIS DA QUEDA
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