ACÃ FOI SALVO?

            Curiosamente, a declaração de Acã acerca de seu delito, registrada em Josué 7.20, assemelha-se à confissão de Davi, em 2Samuel 12.13. Afinal, ambos afirmaram: “Pequei contra o SENHOR”. Partindo dessa similaridade, há quem sugira a possibilidade de “o perturbador de Israel” (forma como Acã é chamado em 1Crônicas 2.7) ter sido salvo. Até porque, no episódio narrado em 2Samuel 11 e 12, Davi, conquanto tenha transgredido três mandamentos - não cobiçarás, não adulterarás e não matarás (Êxodo 20.13,14,17) - tendo reconhecido o seu pecado, alcançou misericórdia (2Samuel 12.13). Semelhantemente, Acã, após transgredir a Lei do Senhor, cobiçando o que não era seu (Josué 7.20,21; Êxodo 20.17) e tomando para si algo que fazia parte do anátema[1] (Deuteronômio 13.17), ao ser abordado por Josué, confessou seu pecado. Na perspectiva de alguns, isso é suficiente para concluir que o resultado foi o mesmo nos dois casos. Ou seja, os dois transgressores foram igualmente perdoados. Será que é possível entender dessa forma? É o que veremos a seguir.

            Primeiramente, é preciso destacar que há evidências bíblicas do arrependimento de Davi. A mais clara é o Salmo 51. Ao passo que Acã não deixou nada registrado que indique seu suposto arrependimento. Diante disso, alguém pode objetar: “Isso não ocorreu porque não houve tempo hábil; assim que ele confessou foi apedrejado”. Sim, isso é verdade. Entretanto, no momento da confissão, ele poderia ter declarado que estava arrependido. Mas não o fez. Soma-se a isso o fato de que, mesmo testemunhando a perda de trinta e seis homens na batalha (Josué 7.5) e sendo informado que a posse do anátema era a causa das mortes (Js 7.13,14), ele não confessou sua transgressão. Ao contrário, manteve as provas do delito enterradas sob a sua tenda. Isso não parece indicar arrependimento.

Além disso, em Josué 22.20, afirma-se que Acã “não morreu só na sua iniquidade”. Isto é, não foi só ele quem morreu por causa do seu pecado, outros também perderam suas vidas. Mas, o pecado foi dele. E, por isso, ele morreu. Se compararmos essa afirmação com a declaração do profeta Natã, em 2Samuel 12.13, concluiremos que ele não alcançou a misericórdia divina. Porquanto, em face do arrependimento de Davi, Deus não aplicou sobre ele a penalidade prevista para suas transgressões, a saber: a morte (Êxodo 21.12-14; Levítico 20.10). Logo, levando em conta que a pena foi aplicada no caso de Acã, é plausível a conclusão de que ele não se arrependeu. Pois, em vez de misericórdia, ele recebeu ira. Haja vista que, segundo Josué 22.20, as mortes ligadas ao anátema resultaram da ira de Deus. Ou seja, não se tratou de uma medida disciplinar, mas do juízo do Todo-poderoso.

            É claro que isso pode ser contestado. Alguém pode argumentar que da mesma forma que o arrependimento de Acã não foi mencionado no livro de Josué, a obstinação também não foi. Logo, é possível conjecturar tanto um quanto o outro. No entanto, não creio que essa seja a melhor conclusão. Na verdade, penso que as indicações de que ele não se arrependeu são fortes. Sua confissão, inclusive, parece ter sido resultado de pressão, e não de um coração quebrantado. De modo que se nos limitarmos àquilo que a Bíblia diz, e não argumentarmos com base no que ela não diz, a conclusão inevitável será que ele não foi salvo. Até porque, a salvação sempre foi pela graça por meio da fé. E a fé sempre foi acompanhada de arrependimento. Um fruto que parece estar ausente no relato sobre o pecado de Acã.

Deus te abençoe!

Pr. Cremilson Meirelles

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[1] Tudo o que havia sido separado, por ordem divina, para ser destruído.