Recentemente, circulou um vídeo pelas redes sociais no qual um pastor, afirmando estar cumprindo o que fora acordado num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado entre ele o Ministério Público (MP) do estado em que reside, fez uma pública retratação referente a uma de suas falas num culto realizado no templo da igreja que preside, cujo conteúdo, segundo o órgão estadual, era homofóbico. Ao que parece, o fato de o culto ter sido veiculado pelo youtube foi decisivo para o posicionamento do MP. Isso porque, conforme noticiado no site oficial, “o pastor utilizou-se de exemplo em que tomava por inadequada a conduta de duas empresas que realizaram campanhas publicitárias promovendo o Dia Internacional do Orgulho LGBTIA+, instando fiéis a não adquirirem seus produtos”[1].
Após cumprir sua parte no acordo, o pastor saiu do anonimato e o vídeo contendo a retratação, em menos de dez dias, recebeu cerca de duas mil visualizações. Vale ressaltar que os vídeos postados no canal da igreja em questão raramente passam de quinhentas visualizações. O aumento fenomenal, entretanto, não se deve à militância LGBT, mas sim aos evangélicos que, indignados com a situação, fizeram com que o vídeo circulasse entre os líderes e membros de igrejas. Isso pode ser constatado através dos comentários postados no youtube. A maioria é de evangélicos[2]. Ou seja, aparentemente o tiro saiu pela culatra. Pois, além de assistir e divulgar o vídeo da retratação, os cristãos começaram a expressar publicamente sua discordância da decisão do MP e da postura do pastor. Porque viram nessa situação um precedente para o cerceamento da liberdade religiosa. O pastor Silas Malafaia foi um dos primeiros a se manifestar sobre o caso[3].
Mas será que há alguma orientação bíblica acerca da atitude correta quando algo dessa natureza acontece? A resposta é um sonoro “sim”. Deus deixou bem claro em Sua Palavra os limites do Estado. Isso pode ser visto na declaração de Jesus em Mateus 22.21: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Com essa afirmação, o Filho de Deus ensinou que tanto a igreja quanto o Estado têm esferas de atuação bem definidas, que não podem ser confundidas. Quando o rei Uzias ousou fazê-lo, usurpando a função sacerdotal, Deus o feriu com lepra (2Crônicas 26.16-21). Sendo assim, ainda que a submissão às autoridades seja um preceito neotestamentário (Romanos 13.1-7), o Estado não pode assumir um papel que não lhe cabe. Afinal, sua função é servir como instrumento de Deus para promoção da justiça e punição de quem faz o mal, e não ocupar o lugar do Todo-poderoso. Por conseguinte, toda vez que o governo civil quer impor sua autoridade sobre questões que Deus delegou à igreja, como por exemplo a pregação da Palavra, os cristãos estão autorizados a desobedecer. Um dos princípios bíblicos para essa desobediência pode ser extraído do episódio narrado em Atos 4.13-21, quando Pedro e João, tendo sido ameaçados pelo Sinédrio e ordenados a não ensinar mais sobre Jesus, proferiram a seguinte frase: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4.19,20).
Com base nisso, acredito que a igreja deve continuar expressando a mesma fé que tem expressado por cerca de dois mil anos. Não devemos renunciar ao que cremos por causa de novas filosofias e da militância estatal. “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5.29). “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mateus 10.28). Porque, Jesus ensinou que “no princípio, o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mateus 19.4-6). Ou seja, o Verbo encarnado deixou claro que o casamento, tal como idealizado e instituído pelo Criador, é a união de um macho com uma fêmea. E ninguém deve mudar isso. Porquanto, como está registrado em Romanos 1.18-32, a ira de Deus vem sobre aqueles que o fazem.
Levando em conta que o “mandamento do Senhor e Salvador” veio por meio dos apóstolos (2Pedro 3.2), o texto de Romanos 1, assim como todo o Novo Testamento, deve ser visto como Palavra de Jesus. Logo, continuamos crendo que “nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus” (1Coríntios 6.10). E não podemos deixar de compartilhar essa verdade.
Aliás, é importante salientar que não são apenas os cristãos que discordam da prática homossexual. O islamismo e o judaísmo também se alinham com esse pensamento. Somando os adeptos dessas três religiões (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo) temos cerca de quatro bilhões de pessoas. Mais ou menos a metade da população mundial. E mesmo que nessas religiões haja segmentos progressistas, eles são claramente minoritários. Além do mais, a história e os escritos sagrados de cada uma delas dão testemunho da longevidade de seu posicionamento. O mínimo a ser feito é que aqueles que exigem respeito e dignidade ponham em prática esses princípios em relação aos que professam uma fé diferente da deles, não impondo os dogmas que aprenderam nos templos do marxismo, chamados de Academia, porém mais parecidos com um grupo religioso extremista.
Portanto, continuemos a exercer a liberdade de consciência e de expressão, assim como a obedecer às autoridades. No entanto, mantenhamo-nos submissos ao mandado de Cristo, fazendo “discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que” Ele nos mandou (Mateus 28.19,20).
Pr. Cremilson Meirelles
[1] Ministério Público do estado da Bahia. Notícia publicada em 16 nov. 2021. Disponível em <https://www.mpba.mp.br/noticia/59814>. Acesso em 19 nov. 2011.
[2] Ao usar a expressão “evangélicos” tenho em mente indivíduos que, em razão da sua fé, não concordam com a prática homossexual.
[3] Vídeo disponível no Canal “Silas Malafaia Oficial”:<https://www.youtube.com/watch?v=uAwTiR3Vd9s>.
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