A IGREJINHA QUE NÃO FOI INAUGURADA

TEXTO REDIGIDO PELO Pr. LUIZ ALBERTO (Igreja Batista Central do Campo Redondo, localizada em São Pedro da Aldeia, RJ)

Tive uma ideia, e senti vontade de escrever essa estória. Estória sem h, porque é ficção, produto da imaginação, se bem que poderia ser história, que são fatos reais, e esses aqui relatados, podem até se confundir com a história de algumas igrejas; e ela, começa assim:

Alguns irmãos pertenciam a uma igreja antiga, com um pastor que estava há muito tempo lá. Só que esses irmãos, moravam distantes e precisavam se deslocar uma boa distância para estarem na igreja todos os cultos.

Foi então que o pastor, homem de visão, teve a ideia de organizar uma congregação no lugar que aqueles irmãos moravam, haja vista, lá não existir nenhum trabalho iniciado de nenhuma denominação.

Depois de votada em sessão, foi inaugurada a congregação em um terreno adquirido com esforço dos irmãos, com um cômodo simples, que abrigava aquele grupo. Eles estavam felizes, pois começaram a evangelizar o bairro e pessoas estavam se convertendo.

Dentre os irmãos que faziam parte da congregação, estava um pastor novo recém-formado.

Os irmãos tiveram a ideia de construir um templo maior. Então, todos se esforçaram, fizeram muitas atividades, conseguiram arrecadar um bom dinheiro, e, finalmente, terminaram a construção.

Daí em diante, o pastor da igreja mãe, orientou que a congregação poderia se tornar igreja, com o que concordaram todos os irmãos.

Foi dado um questionário para que todos os irmãos estudassem e depois que todos estivessem aptos, seria marcada a data para a realização do concílio que organizaria a congregação em igreja, e a ideia era que aquele jovem pastor que estava com os irmãos, seria o pastor da igreja.

Foi então marcado o concílio. A data seria em março de 2020. Alegria grande daqueles irmãos, pois todos os esforços estavam tendo resultados!

Todavia, para tristeza de todos, surgiu a notícia que um vírus tinha se espalhado, vindo do oriente, da terra dos olhos fechadinhos, e todos deveriam ficar de olhos abertos. Os órgãos municipais, decretaram que todas as Instituições deveriam fechar e quem abrisse, poderia ser multado. Bom, como obedientes à palavra, a congregação obedeceu.

Que pena! Todos estavam preparados, tinham estudado bem, e quando o examinador perguntasse o que era uma igreja batista, o grupo saberia responder: “é um grupo organizado de pessoas regeneradas, biblicamente batizadas, que obedecem a um conjunto de doutrinas e se reúnem em um mesmo lugar, e sob as orientações do Espírito Santo proclamam o evangelho, ensina aos crentes, louvam a Deus e vivem em comunhão”. Palavras essas que todos os pastores já puderam responder em seus concílios.

Agora, o grupo só ouvia uma orientação: “fiquem em casa.”

Inclusive os mais velhos, tinham medo de tudo que era caminhão que passava. A congregação já não podia se reunir no mesmo lugar. A princípio as coisas estavam tranquilas, porém, surgiu um decreto que em todo lugar, deveria se usar máscara. Ai, todos passaram a fazê-lo.

Mas, um fato aconteceu. Os membros da igreja não podiam e não conseguiam ficar em casa. Tinha idoso, jovem na fila do banco para receber R$ 600.00 (Seiscentos reais), no mercado, na farmácia, até no shopping! Porém, a ordem era que todos deveriam ficar em casa. Será que algum herói conseguiu ficar sem sair um dia?

Mas, uma luz no fim do túnel! Foi decretado que as igrejas poderiam funcionar. Então, foi feita uma pesquisa para saber que posição tomar em relação a abrir ou não.

O pastor da igreja organizadora da congregação, já acostumado com a quarentena, inclusive, o sofá já tinha sua marca e já pregava on-line de pijama disse: “devemos ficar em casa, não é o melhor momento”.

O novo pastor que deveria estar todo motivado para iniciar o trabalho com os que podiam comparecer, com os cuidados necessários, mostrava reportagens de mortes pelo vírus aos que tinham acesso à internet, com isso, espalhava o medo nos membros da congregação.

A congregação tinha um número bom, por isso iriam se organizar igreja. Todavia, como o medo tinha se espalhado, o grupo em casa, achando que estava seguro, ao ouvirem o discurso que poderiam voltar, e mesmo com cuidados, poderiam contrair a doença, inclusive souberam que muitos que estavam em quarentena também morriam, disseram: “ ...essa palavra é dura; quem a pode suportar?”

Certamente, deviam pensar que a igreja é formada de pessoas e não de templos, afinal, Deus habita nos crentes, qual a necessidade do templo, isso é desagradável!

É verdade, Deus habita no crente, Ele não precisa de templo, mas, se o templo não é necessário, para que construir não é verdade? Ou derruba tudo, ou doa.

Alguns que buscavam a espiritualidade estavam pensando que o crente que estava gostando de ficar em casa, estava lendo mais a bíblia, orando mais, testemunhando mais. Certamente não faziam isto quando iam a igreja. Será que a igreja estava atrapalhando?

A dúvida pairava na mente de alguns líderes, pois chegaram a dizer: “A igreja não pode abrir, afinal, vai que algum membro da igreja morre”!

Estava se criando um estigma na mente dos crentes, tirando a responsabilidade deles irem à igreja, pois lá eles iriam contrair o vírus, não no supermercado, no banco, na farmácia; a igreja iria matá-los! “Basta a fé”- diziam alguns.

Interessante é que a teologia demonstra que o homem, foi criado com liberdade, mas também com responsabilidade (comentário nosso).

Estava demorando, então apareceu um membro daqueles que gostam de aparecer, muito falador, o famoso “garganta” de nome Tomé, que disse: “... vamos nós também para morrer”, todavia depois, desistiu.

Mas, é bem verdade que no grupo, existiam pessoas que se cuidavam, se protegiam, com máscara, álcool gel 70°, lavavam as mãos e guardavam distância e queriam estar na casa do Senhor, pois, se cuidavam mais do que aqueles que estavam na farmácia, no mercado, no banco. Essas pessoas, não faziam parte do grupo de risco, entendiam a necessidade de estar no templo, pois sabiam que o templo era necessário, pois estando na igreja de portas abertas, o anúncio do evangelho é muito maior. A reunião em casa é estratégia, não prática constante, e ficando em casa o anúncio é bem menor.

Dentre essas pessoas, estava a irmã Ester. Crente fiel, mulher de oração, amava a leitura da bíblia e dava ótimo testemunho, ela queria a abertura do templo, se cuidava, e dizia: “se for preciso morrer, morrerei”.

Alguém deu uma solução, uma estratégia muito boa. Todos poderiam usar a internet para ver os cultos. Realmente era boa a ideia, inclusive, sobraria mais tempo para curtir a família, as crianças; mas e os idosos? Não sabiam mexer no computador e nem no celular, e nem sempre tinham quem pudesse ajudá-los.

Uma notícia então foi divulgada, e que alarmou todos, é que foi feita uma pesquisa que naquela localidade, nem todos assistiam o culto, porque não sabiam mexer, e também quem sabia, ou ficava em casa vendo televisão, ou viajava pelos vários cultos no horário da transmissão do culto on-line.

Concluindo, poderia se parafrasear a revista Palavra e Vida de como pensar e agir.

Até quando os templos ficarão fechados, aqueles que já podem abrir? Talvez alguém diga: “até terminar a doença, ou alguém garantir que já pode voltar”.

Bom, quem será que vai dizer? Este entendimento surge da demonstração de inconstância da própria OMS que um dia diz uma coisa, outro diz outra. Só lembrando que muitas doenças surgiram no Brasil, e até hoje matam. Talvez a igreja fique fechada por uns 10 anos, afinal, precisamos ficar em casa, não podemos nos expor, por isso, ninguém sai, e a igreja não é necessária, basta a fé, e se a igreja abrir, ele, o membro pode morrer lá, então, ele não é responsável por ir à igreja, só nos outros lugares.

Ah, a congregação! Continuará fechada, mesmo podendo abrir, pois é imprudência, é preciso esperar a melhor hora. Em algum momento, alguém dirá a hora.

Só esses loucos dos supermercados, farmácias e bancos, é que abrem!

“...Qualquer semelhança com a realidade é mera ficção... qualquer ficção que se assemelha a realidade é mera coincidência”. (Sidnei Chierentin)