DEUS TEM UM LADO FEMININO? - PARTE II

Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa

Uma argumentação popular em favor da existência de um lado feminino no Todo-poderoso é o fato de que, algumas vezes, a Bíblia utiliza analogias com figuras femininas para referir-se à relação do Senhor com o Seu povo; como acontece, por exemplo, em Isaías 66.13: “Como a alguém que sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados”. O mesmo ocorre em Isaías 42.14: “Por muito tempo, me calei, estive em silêncio e me contive; mas, agora, darei gritos como a que está de parto, e a todos assolarei, e juntamente devorarei”.

Todavia, apesar dos termos femininos empregados, esses textos não podem ser usados para sustentar a ideia de que há uma porção feminina na divindade. Até porque, nenhum deles contém uma afirmação que atribua feminilidade a Deus. Na verdade, a linguagem é claramente comparativa. Isto é, o Senhor diz que, semelhantemente a uma mãe que consola seu filho, Ele há de consolar o Seu povo; de igual modo, declara que Sua intervenção será repentina e intensa, tal como os gritos de dor de uma mulher em trabalho de parto. Entender que essa comparação indica que Deus é também uma deusa seria o mesmo que dizer que no salmo 42.1, por comparar o anseio de sua alma pelo divino com a sede de um cervo, o salmista estaria declarando que tinha um lado animal.

Além dessa incoerência, há um dado curioso acerca dessa discussão: conquanto os defensores da feminilidade divina considerem Paulo um tremendo machista, em suas cartas o apóstolo usa figuras femininas para expressar alguns pensamentos. Em Gálatas 4.19, inclusive, ele vai além da mera comparação e usa uma metáfora associada à gestação, como se ele mesmo fosse a gestante, a fim de expressar sua angústia em relação ao comportamento dos cristãos da Galácia: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”.

Obviamente, isso não significa que Paulo tivesse a intenção de destacar seu lado feminino. Primeiro, porque homens não sentem dores de parto. Além do mais, nenhum filho natural faz com que sua mãe sinta dores de parto depois de dar à luz. Isso deixa claro que a linguagem é figurada. Ou seja, o propósito não era ressaltar o lado materno de Paulo. Com efeito, a ideia era que a conduta dos gálatas entristecia aquele que lhes apresentara o evangelho, visto que, ao invés de confiar somente em Cristo, depositavam sua confiança nas obras da lei.

Metáforas femininas são usadas várias vezes nas Escrituras, mas são apenas figuras de linguagem. São recursos que tornam as mensagens mais expressivas, dando maior ênfase ao que se pretende comunicar. Um exemplo de metáfora feminina nas Escrituras, que nada tem a ver com uma suposta porção feminina dos indivíduos, está na expressão “esposa do Cordeiro” (Apocalipse 21.9). Haja vista que ela se refere a todos os crentes em Cristo Jesus, tanto homens quanto mulheres, os quais constituem a igreja do Senhor. Não faria sentido algum aponta-la como indicativo de feminilidade dos componentes da família de Deus.

Ademais, ao contrário do que defendem os teólogos e teólogas feministas, em ambos os testamentos as referências a Deus se dão, predominantemente, por meio de figuras masculinas. Ele é chamado de Pai, mas nunca de mãe (Deuteronômio 32.6; Isaías 63.16; Mateus 6.6); de pastor, mas nunca de pastora (Salmos 23.1; 80.1); de Rei, mas nunca de rainha (Salmos 47.1,2; Apocalipse 19.16); de Marido, mas nunca de esposa (Isaías 54.5). Ora, se a Bíblia não faz, por que haveríamos de fazer? Por que chamaríamos Deus de mãe em vez de Pai? Definitivamente, não faz sentido. Logo, a conclusão inevitável é: Deus não tem um lado feminino.

Pr. Cremilson Meirelles

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