Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Talvez, para muitos, essa pergunta não faça
sentido algum. Afinal de contas, Deus não tem gênero. Até porque, sexualidade é
um atributo que pertence à ordem da criação, e não ao Criador. Contudo, há
teólogos que pensam diferente, e defendem, com base em Gênesis 1.27, a ideia de
que Deus, tal como Suas criaturas, é macho e fêmea. Essa conclusão, entretanto,
está completamente equivocada. Porquanto, a imagem de Deus no homem não é
física, mas diz respeito aos atributos que o ser humano possui e à sua capacidade
de se relacionar.
A discussão acerca da feminilidade divina, no
entanto, não se limita à questão da imagem e semelhança. Os defensores dessa
tese procuram fundamentá-la argumentando que, no hebraico, a palavra traduzida
como espírito na expressão “Espírito de Deus” (Gênesis 1.2) é um substantivo
feminino. A partir daí, concluem: o Todo-poderoso tem uma “porção feminina”.
Seguindo esse raciocínio, a Trindade seria, na verdade, Pai, Filho e Mãe. Por
essa razão, alguns dos adeptos dessa teoria optam por chamar Deus de “Mãe
Celestial”, ao invés de utilizar a expressão bíblica “Pai celestial” (Mateus
6.14).
Conquanto esse argumento pareça razoável,
suas bases são frágeis; haja vista que a mesma palavra usada em Gênesis 1.2, o
hebraico ruaḥ, é empregada para indicar todos os outros tipos de
espíritos. Isso pode ser verificado, por exemplo, em 1Samuel 19.9: “Porém o espírito
(ruaḥ) mau, da parte do SENHOR, se tornou sobre Saul, estando ele
assentado em sua casa e tendo na mão a sua lança, e tangendo Davi com a mão o
instrumento de música”. Ou seja, se abraçássemos os pressupostos do parágrafo
anterior, teríamos de concluir que os demônios também têm um lado feminino! O
mesmo ocorre em relação ao espírito humano. Senão vejamos, em Eclesiastes 12.7,
o escritor usa ruaḥ para referir-se à parte imaterial do ser humano
(homem e mulher): “e o pó volte à terra, como o era, e o espírito (ruaḥ)
volte a Deus, que o deu”. Também nesse texto o termo é feminino. Seria uma
indicação de que homens e mulheres têm um lado feminino? É claro que não! A
utilização de um substantivo feminino para designar a natureza espiritual de
diversos seres, se deve ao fato de não existir na língua hebraica um gênero
para nomear o que não é nem masculino e nem feminino. O mesmo se dá em nosso
idioma. Usamos com muita frequência, por exemplo, termos femininos (a criança,
a pessoa, a testemunha) para referir-nos a indivíduos de ambos os sexos. Porém,
em momento algum concluímos que essas palavras indicam a existência de uma “porção
feminina”.
Já no Novo Testamento esse problema não
existe, pois o idioma grego tem três gêneros: masculino, feminino e neutro. De
modo que o termo traduzido como espírito (pneuma) é neutro, ou seja, nem
masculino nem feminino. Isso se aplica, inclusive, ao Espírito Santo. Além
disso, como poderia o Espírito divino ser feminino se Jesus se refere a Ele
utilizando um substantivo masculino? “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14.16).
O absurdo dessa teoria se torna ainda mais
evidente quando verificamos que sua aplicação em outros casos conduz a uma
contradição dos pressupostos que estão em sua base, e, naturalmente, a outra
heresia. Por exemplo: em grego, a palavra “pecado” é feminina; se aplicássemos
a ela o mesmo raciocínio utilizado em relação ao hebraico ruaḥ,
concluiríamos que o pecado é algo exclusivo das mulheres.
Continua...
Pr. Cremilson
Meirelles
DEUS TEM UM LADO FEMININO? - PARTE I
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
on
17:31
Rating:
Nenhum comentário: