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É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? - PARTE VII

Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa

 

            Dar dinheiro, seja para a igreja local ou para um projeto social, requer generosidade. No entanto, nem sempre o que motiva a doação é um espírito benevolente. Há quem contribua, por exemplo, com a expectativa de uma retribuição exponencial, e encare os donativos como elementos de uma negociação, na qual Deus fica “obrigado” a “devolver”, com juros, a quantia doada.
Outra motivação bem presente nas igrejas é o medo da represália divina, muitas vezes identificada com doenças e problemas financeiros. Esse sentimento é fomentado por discursos ameaçadores, nos quais o “devorador” de Malaquias 3.11 é o protagonista. “É melhor dar o dízimo para a igreja do que depois ter de gastar dinheiro com remédios”, afirmam os defensores da agiotagem divina.
Porém, por mais incrível e antibíblico que pareça, o motivo que mais exerce influência sobre o imaginário evangélico é a busca pela salvação. Isso porque, grande parte dos membros das igrejas crê que a salvação deve ser “conquistada” passo a passo, através de obras que evidenciem a obediência ao Senhor. Por essa razão, muitos doam dinheiro para a igreja local com o objetivo de acumular “pontos” com o Todo-poderoso, e garantir o ingresso na morada celestial. Entretanto, quem procede dessa forma, demonstra que considera a salvação como um serviço (ou um produto) a ser contratado; ou seja, ao contribuir, o indivíduo está, de certa maneira, “comprando sua salvação” (como se isso fosse possível). Contudo, de acordo com as Escrituras, esse raciocínio está totalmente equivocado, visto que “aqueles que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)” (Salmos 49.6-8).
Destarte, tendo constatado a ilegitimidade das motivações pontuadas acima, resta-nos indagar: qual seria, então, a motivação correta? Bem, acredito que a única motivação válida para um servo de Deus é o amor. Pois, enquanto no Antigo Testamento os termos da Aliança eram os estatutos da Lei, no Novo Testamento existe apenas um termo: o amor. Nada deve ser feito por obrigação, medo ou barganha, mas somente por amor. Porquanto, “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine” (1Coríntios 13.1). Mas, a quem deve ser dirigido esse amor? Essa resposta é dada pelo próprio Jesus: “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” e “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37,39).
Ora, se devo amar o meu próximo como a mim mesmo, como posso desfrutar dos benefícios resultantes das contribuições de outros, sem contribuir com nada? Fazê-lo seria um claro descumprimento da regra áurea: “portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7.12). Todavia, ainda que esse comportamento seja inadmissível, já estava presente na igreja primitiva. Isto é, havia pessoas que faziam parte da comunidade de fé, desfrutavam do partir do pão, viam o empenho da igreja para ajudar os necessitados, mas não queriam trabalhar; apenas usufruíam do produto do trabalho dos outros. O mais contraditório nisso tudo, é que agiam assim baseados na convicção de que Cristo voltaria a qualquer momento. Acerca desses, Paulo declarou: “[...] se alguém não quiser trabalhar, não coma também” (2Tessalonicenses 3.10b). Ou seja, se não quer contribuir, não desfrute daquilo que é adquirido por meio das contribuições. Lamentavelmente, essa lógica, na maioria das vezes, é desconsiderada; haja vista que, até hoje, muitos fazem o mesmo que os desordenados de Tessalônica: não contribuem, mas querem dispor do resultado das contribuições.

Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
 


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