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É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? – PARTE VI

Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa

 
            Certa vez, Jesus, ao deparar-se com um homem que o questionara acerca da vida eterna, orientou-o a vender suas propriedades e doar o valor adquirido para os pobres. Diante da resposta do Mestre, o rapaz “retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades” (Mateus 19.16-24). Esse episódio, por mais que não vise estabelecer norma, uma vez que é um texto narrativo, e não normativo, deve ser objeto de nossa análise; haja vista que, na perspectiva de alguns, seu conteúdo favorece a ideia de que as doações devem ser gerenciadas pelo próprio indivíduo e têm de ser dirigidas exclusivamente aos pobres.
            Inobstante, tal pensamento não considera o texto em sua totalidade. Porquanto, o relato deixa claro que a orientação de Jesus era para que o rapaz vendesse tudo o que tinha. Ora, se a ideia é tomar o texto como norma, a lógica seria se desvencilhar de todos os bens, e não somente usar a narrativa para justificar a exclusividade do auxílio aos pobres como missão da igreja, ou defender a superioridade moral de quem o faz. Porém, dificilmente alguém segue esse raciocínio. Logo, o texto em pauta não serve como fundamento para uma “teologia da ação social”.
            O que mais incomoda nesse episódio, entretanto, é que a palavra do Filho de Deus          parece respaldar a salvação pelas obras. Contudo, a resposta de Jesus visava mostrar ao jovem que os mandamentos que ele afirmava guardar desde a mocidade, na verdade, não eram plenamente observados. Isso porque, embora dissesse “amar o próximo como a si mesmo” (Mt 19.19), não conseguia tomar uma atitude que demonstrasse a plenitude desse amor. Assim, a declaração implícita do Cristo é: - confie completamente em mim, e não em si mesmo; pois, as obras não podem salvar. Ou seja, a intenção do Messias era destacar a incapacidade humana para alcançar a salvação. Isso fica evidente na parábola do camelo e da agulha.
            Ademais, conquanto a fala de Jesus tenha sido dirigida exclusivamente ao homem rico, seria um equívoco concluir que, com isso, o Mestre estava estabelecendo um princípio universal relativo às contribuições, qual seja, que a aplicação dos recursos não deve ser gerenciada por um grupo maior, mas pelo próprio indivíduo. Afinal de contas, se assim fosse, por que haveria no grupo apostólico alguém que concentrasse as doações, tal como fazia Judas (João 12.6)? Não faria sentido! 
            Todavia, vale salientar que a ingerência sobre a aplicação dos recursos não é uma prerrogativa exclusiva da igreja, enquanto comunidade de fé. Até porque, existem textos bíblicos que, claramente, encorajam o auxílio prestado pelo indivíduo. Senão vejamos: Paulo, em Efésios 4.28, considerando a ingerência individual, orienta seus leitores a trabalhar, “fazendo com as mãos o que é bom”, a fim de poderem aplicar os valores recebidos na provisão das necessidades alheias. Por outro lado, em Romanos 12.20, citando Provérbios 25.21, o apóstolo aponta uma atitude aplicável tanto à esfera individual quanto à coletiva, mostrando que limitar as doações a alguma dessas áreas de atuação é um erro: “se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber”.
            Pelas razões elencadas acima, concluo que destinar, a partir de uma ingerência individual, a contribuição que supre as necessidades mensais da igreja local a outro fim, ainda que esse fim seja o auxílio a moradores de rua, é um comportamento que não está alinhado com o ensino bíblico. Porquanto, creio que deve-se fazer tanto uma coisa quanto outra, ou seja, tanto ajudar os necessitados quanto contribuir para manutenção da receita mensal da igreja local. Contudo, na inexistência de recursos para realizar as duas coisas, deve-se optar pela doação à igreja local, uma vez que esta contará com mais recursos, e poderá ajudar ainda mais pessoas, sobretudo com o investimento na pregação do Evangelho.
Continua...

Pr. Cremilson Meirelles

 


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