Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Conforme concluímos na última
pastoral, a liberalidade cristã não pode restringir-se a doações destinadas aos
moradores de rua e centros de recuperação, uma vez que isso não condiz com o ensino
neotestamentário. Mas, mesmo diante dessa conclusão, há ainda quem questione o
investimento das contribuições no sustento pastoral e missionário. Isso porque,
considera-se que ajudar os pobres é um remédio mais eficaz para as mazelas da
sociedade que sustentar obreiros. Por isso, alguns protestam: “por que o
dinheiro enviado para o campo missionário não é destinado ao auxílio dos
pobres? Seria uma aplicação muito melhor”, concluem. O mesmo tipo de indagação
é feita em relação ao sustento pastoral.
O curioso, entretanto, é que as Escrituras registram um questionamento
semelhante no tocante ao emprego dos bens doados. Refiro-me ao episódio em que
Maria, irmã de Lázaro, derrama sobre Jesus um perfume muito caro. Naquela
ocasião, de acordo com o relato joanino (João 12.5), Judas, um dos discípulos,
indagou: “por que não se vendeu este unguento por trezentos denários, e não se
deu aos pobres?” Acerca dessa interpelação, o evangelista ressalta: “Ora, ele
disse isso não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e
tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava”.
Embora a atitude de Maria não tenha relação alguma com o sustento
missionário/pastoral, e a pergunta do discípulo tivesse um propósito maligno,
com efeito, o derramamento do perfume em nada contribuiu para melhorar a
condição dos menos afortunados. Na verdade, uma observação fria do ocorrido
levará o leitor à mesma conclusão do apóstolo traidor. Porquanto, ainda que
Jesus tenha elogiado o ato da irmã de Lázaro, não houve ali um propósito
“politicamente correto”. Afinal, mesmo que ungir a cabeça de alguém fosse
considerado um sinal de honra naquela época, poder-se-ia questionar: “não seria
um sinal maior de honra a Cristo vender o perfume e doar o dinheiro aos pobres?
Até porque, o próprio Jesus afirmou que quando ajudamos os necessitados, na
realidade, estamos prestando um serviço a Ele (Mateus 25.31-46). Por que,
então, atribuir tamanho valor a uma atitude que honra Cristo, mas não provê
assistência aos desafortunados?” Em essência, esse é o raciocínio que motiva
grande parte dos questionamentos em torno do emprego dos recursos da igreja
local.
É importante salientar, no entanto, que a comparação supracitada não visa
enquadrar aquele que não contribui como ladrão ou traidor. O objetivo da
analogia é demonstrar a semelhança essencial entre o questionamento
contemporâneo e o protesto de Judas. Afinal de contas, o apóstolo estava
argumentando com base na mesma premissa usada atualmente, a saber, o pressuposto
de que a única destinação nobre para os recursos é a assistência prestada aos
menos favorecidos.
Todavia, o que chama a atenção na narrativa de João é que a crítica de Judas
tomava como certa a entrega do dinheiro, obtido com a venda do perfume, ao
grupo apostólico. Isto é, mesmo que o discípulo em questão considerasse o ato
de Maria como um desperdício, não prescindia da centralização da arrecadação. E
isso não era algo aceito somente pelo traidor. Na verdade, nem Jesus e nem os
outros apóstolos consideravam ultrajante ou anticristão a outorga da ingerência
dos recursos arrecadados à liderança cristã. Tanto, que o Filho de Deus nunca
criticou seus discípulos por agirem dessa forma. Aliás, se eles procediam
assim, certamente, seguiam as orientações do Mestre.
É bem verdade, porém, que, em sua resposta, Jesus não estava condenando toda e
qualquer assistência aos pobres. Até porque, em Marcos 14.7, Ele ressalta que
os mesmos devem ser objeto dos constantes cuidados da igreja. Contudo, o elogio
feito a Maria sublinha que a prioridade de Seus seguidores deve ser sempre
honrá-lo. E a melhor maneira de fazer isso é obedecendo a Sua Palavra, na qual
Ele, referindo-se aos pregadores do evangelho, afirmou: “...digno é o obreiro
de seu salário” (Lucas 10.7).
Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? – PARTE V
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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