Há cerca de 500 anos atrás, em 31 de
outubro de 1517, véspera do “dia de todos os santos[1]”, Martin
Lutero pregou suas 95 teses na porta da catedral do palácio de Wittenberg, na
Alemanha. Com essa atitude, o monge alemão tornou pública sua indignação ante a
venda das indulgências papais, alegando, com base nas Escrituras, que a Igreja
não tem ingerência sobre o que o acontece após a morte. Contudo, embora esse
feito tenha se tornado o marco da Reforma Protestante, as ideias de Lutero não
se limitaram ao espaço de uma porta. Suas teses foram distribuídas por toda a
Alemanha. Por conta dessa ampla divulgação, Lutero, conquanto fosse apoiado por
monges agostinianos e príncipes alemães, se tornou alvo do Papa e de seus
aliados.
Todavia,
as inquirições dos legados[2]
papais, ao invés de constrangê-lo, deram ocasião para discursos cheios de fé e
de coragem, tal como o que foi proferido diante da Dieta de Worms, em 1520; na
qual o monge, ao ser instado a retratar-se publicamente acerca do que escrevera,
respondeu: “Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por
argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser
evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros -
a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso
retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro
agir contra a consciência. Deus me ajude! Amém.”
A resposta de Lutero deixa transparecer
convicções partilhadas por todos os reformadores, quais sejam: a inspiração,
inerrância, infalibilidade, suficiência e autoridade da Bíblia. Essas crenças,
entretanto, não constituíram novidade na história eclesiástica. Porquanto, os
pré-reformadores e outros grupos cristãos já as defendiam. Contudo, com o
movimento iniciado por Lutero, esses princípios foram novamente ressaltados.
Esse foco nas Escrituras levou os cristãos daquele tempo a conclusões que foram
expressas por meio de cinco frases latinas: Sola
Scriptura, Solus Christus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Glória. Pois,
para eles, as Escrituras eram a palavra final em matéria de fé e prática,
Cristo era o único mediador entre Deus e os homens, a salvação só era possível
pela graça por meio da fé e toda glória deveria ser creditada somente a Deus.
Conquanto muitos batistas não se
considerem protestantes, é evidente que temos muito em comum com os
reformadores. Afinal, embora tenhamos outros princípios, subscrevemos seus
cinco pontos. Apesar disso, vivemos atualmente um grande dilema no que tange à
observância desses preceitos. Pois, a cada dia cresce o número daqueles que
duvidam das Escrituras, defendendo, inclusive, a existência de contradições
entre os autores sacros e Jesus Cristo. Por essa razão, acredito que as doutrinas
que há séculos vêm fundamentando nossa fé e prática, devem ser cada vez mais enfatizadas
e defendidas. Do contrário, cada vez menos nos identificaremos com os pioneiros
da fé evangélica, e continuamente nos afastaremos das Escrituras.
Destarte, o aniversário da Reforma é um
momento assaz oportuno para essa reflexão. Pois, tal como ocorria nos dias do
famoso monge alemão, urge a necessidade de proclamarmos novamente as verdades
pregadas na porta da catedral de Wittenberg; haja vista que os manipuladores da
fé se avolumam, e os liberais buscam incessantemente solapar os princípios eternos.
Diante desse pandemônio, os Luteros deste tempo têm de se levantar.
Soli
Deo Gloria nunc et semper
Pr.
Cremilson Meirelles
500 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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