Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Nos textos mencionados anteriormente, pudemos perceber que os primeiros
cristãos não estavam tão apegados ao dinheiro. Isso é patente em sua postura
ante a aplicação dos recursos doados, visto que não faziam questão de exercer
ingerência sobre coisa alguma; e, fazendo isso, como já salientamos, não se
sentiam lesados. Decerto, essa perspectiva era resultado dos ensinamentos de
Jesus, transmitidos pelos apóstolos. Porquanto, em um de seus discursos mais
longos, o Mestre orientou seus discípulos a não se apegarem aos tesouros desta
terra, uma vez que são perecíveis (Mateus 6.19-21). Foi justamente esse
desapego que os levou a doar tudo o que tinham.
Todavia, na atualidade, muitos, afirmando viver como a igreja primitiva,
entendem que, se entregarem qualquer quantia para a igreja, ainda que o destino
seja evidentemente nobre e justo, estarão sendo lesados. Conseguintemente,
optam por doar seu dinheiro somente para moradores de rua e centros de
recuperação de dependentes químicos, mas nunca para uma igreja local. Pois,
concluem que o emprego dos valores doados na construção e melhoria do prédio
que abriga a igreja, bem como no sustento missionário e pastoral, são
aplicações impróprias desses recursos.
Na
ótica desses indivíduos, a única utilização lícita e cristã do dinheiro é a
assistência social prestada por eles mesmos a algum necessitado. Afinal, só
assim podem ter certeza da destinação correta de seus bens. Essa conduta
geralmente está associada a uma perspectiva religiosa anti-institucionalista,
que olha com desconfiança para todo tipo de organização eclesiástica, e vê a
assistência social como única ação relevante e digna de investimento.
Não
obstante, embora saibamos que, como servos de Deus, não devemos limitar o
exercício da liberalidade às contribuições dirigidas à igreja local, não existe
também fundamentação bíblica para limitá-lo a ações sociais individuais. Até
porque, como vimos, as doações mais abundantes no princípio da igreja eram
entregues diretamente ao grupo apostólico, que as usava a fim de atender às
necessidades do Corpo de Cristo. Além do mais, não se pode negar que o esforço
conjunto permite-nos realizar muito mais. Isso é verdadeiro tanto na esfera
eclesiástica quanto no âmbito secular. Senão vejamos: foi justamente por causa
do somatório de forças, tanto no serviço quanto nas contribuições, que os
cristãos primitivos puderam prover o necessário para os órfãos e as viúvas.
Isso é claramente demonstrado em Atos 6; haja vista que o autor sacro relata
que havia uma distribuição diária de alimentos, da qual as viúvas se
beneficiavam (Atos 6.1). Outrossim, foi a partir de uma grande coleta de
dinheiro, que contou com a participação efetiva das igrejas da Macedônia e da
Acaia (Romanos 15.25,26), que os pobres de Jerusalém tiveram suas necessidades
supridas. A esse respeito, inclusive, vale ressaltar que os valores doados
foram concentrados com o apóstolo Paulo, que, posteriormente, os entregou aos
necessitados daquela cidade (Atos 24.17).
Da
mesma forma, a ideia de que a assistência social é o único destino relevante
para o dinheiro doado às igrejas, constitui um completo afastamento das
Escrituras. Afinal, o sustento missionário e o pastoral são igualmente
destacados no Novo Testamento; de modo que, negligenciá-los, é o mesmo que
desprezar o ensino bíblico, que diz: “devem ser considerados merecedores de
dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que
se afadigam na palavra e no ensino” (1Timóteo 5.17).
Acredito
que muitos dos que procedem dessa maneira, lá no fundo, receiam que, ao
outorgar à liderança de uma comunidade local o direito de gerenciar os bens
doados, estarão deixando de exercer o controle sobre o numerário que, na
verdade, nunca doaram, pois continuam querendo dispor dele.
Continua...
Pr. Cremilson Meirelles
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? – PARTE IV
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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19:29
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Excelente texto. Doar para abrigos e centros de recuperação é necessário, no entanto deixar de fazê-lo para a igreja local, estamos afirmando que o evangelho não tem o poder para transformar vidas ou mesmo para evitar que adolescentes, jovens e adultos caiam nas drogas, no álcool etc.
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