Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Conquanto as doações para igreja
local sejam mal vistas por alguns, salta aos olhos o fato de que Jesus e seus
apóstolos lidaram muito bem com isso. Tanto, que, mesmo após a ascensão de
Cristo, o grupo apostólico continuou recebendo dinheiro dos demais discípulos:
“não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam
herdades ou casas, vendendo-as, traziam
o preço do que fora vendido e o depositavam
aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que
cada um tinha” (Atos 4.34,35).
O que impressiona nesse relato, é que as
pessoas estavam tão desapegadas que não faziam questão de gerenciar o valor das
doações, mas outorgavam esse privilégio aos apóstolos. Ninguém se sentia lesado
por não ter ingerência direta sobre o numerário. Ademais, partindo do princípio
de que os doze (incluindo Matias) constituíam a liderança da igreja primitiva,
dar dinheiro a eles era o mesmo que dar para a igreja; e ninguém achava isso estranho.
Mas, o que eles faziam com os valores
doados? No texto citado, fica claro que o dinheiro era empregado no auxílio aos
cristãos necessitados. Porém, as Escrituras apontam outras áreas de
investimento. Uma delas era o sustento missionário. Um exemplo disso pode ser
encontrado em 2Coríntios 11.8, onde o apóstolo Paulo afirma que recebeu salário
de outras igrejas para poder realizar a obra entre os coríntios: “outras igrejas despojei eu para vos
servir, recebendo delas salário; e,
quando estava presente convosco e tinha necessidade, a ninguém fui pesado”. O
termo traduzido como salário é o grego opsōnion,
que originalmente referia-se à verba que o soldado recebia para seu sustento.
Esse sentido da palavra pode ser verificado no discurso de João Batista, em
Lucas 3.14: “e uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós, que faremos?
E ele lhes disse: A ninguém trateis mal, nem defraudeis e contentai-vos com o
vosso soldo (opsōnion)”. Com o passar do tempo, entretanto, o termo opsōnion adquiriu a conotação de salário
em geral.
O apóstolo Paulo usa esse termo em três
ocasiões (1Coríntios 9.7; 2Coríntios 11.8; Romanos 6.23). Em duas delas, opsōnion alude ao sustento que lhe era
devido em razão do trabalho missionário. Em 1Coríntios 9.7, por exemplo, o
apóstolo faz uma analogia com o serviço militar, indagando: “Quem jamais vai à
guerra à sua própria custa?” Com esse questionamento, Paulo tencionava defender
seu direito ao suprimento das necessidades básicas. Porquanto, tal como o
soldado, ele esperava que seu exército lhe fornecesse provisões. No entanto, a
igreja de Corinto não compreendia muito bem essa realidade. Pois, enquanto os
pobres cristãos macedônios consideravam um privilégio contribuir (2Coríntios
8.4), a abastada igreja coríntia precisava ser instada a assumir sua
responsabilidade, tanto em relação aos irmãos que padeciam necessidades
(2Coríntios 8.7), como no tocante ao sustento missionário (1Coríntios 9.7;
2Coríntios 11.8).
Além de promover a manutenção do
trabalho missionário, o dinheiro doado pelos cristãos primitivos era aplicado
em programas sociais, que visavam o sustento dos órfãos e das viúvas (Atos
6.1-6; 1Timóteo 5.9,16). Esses programas eram dirigidos pela liderança da
igreja. Não era resultado de iniciativas individuais. Isto é, os membros da
igreja faziam suas doações e os líderes gerenciavam os recursos. Se não fosse
assim, por que Paulo daria orientações acerca dos requisitos para inscrição das
viúvas a Timóteo, o jovem pastor da igreja de Éfeso?
É bem verdade, entretanto, que, seguindo
o modelo administrativo de Jesus, é necessário que haja um tesoureiro, ou seja,
alguém responsável pelas finanças, a fim de
que o líder não manuseie diretamente o dinheiro. Contudo, embora isso
aconteça nas igrejas históricas, nem sempre é realidade nas comunidades
evangélicas contemporâneas.
Continua...
Pr. Cremilson
Meirelles
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? – PARTE III
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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20:31
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Pastor, parabéns pelos excelentes textos da série "É certo dar dinheiro à Igreja?". Leitura fácil e didática.
ResponderExcluirGostaria de destacar, em concordância, apenas que, verdadeiramente, a forma fechada, sem transparência e sem participação da igreja, tem contribuído com o descrédito generalizado que recaem sobre as igrejas evangélicas e principalmente sobre líderes honestos, justos homens de Deus, que têm de suportar toda essa ira e achincalhamento da massa. Soma-se a isso, o enriquecimento desproporcional de líderes irresponsáveis e mundanos, ou ainda em escalas menores, o padrão de vida que levam e esbanjam, consideravelmente superior aos dos irmãos que dirigem. Considero bastante pontual esse levantamento na parte I da série.
Dado isso, cresce de importância o envolvimento dos membros da igreja no gerenciamento e destinação das contribuições, cada membro de acordo com suas possibilidades e disponibilidades.
Fato é que grande parte das comunidades evangélicas contemporâneas se transformaram em negócios lucrativos. Já ouvi até comentários de anúncios na OLX ou Mercado Livre de pastores vendendo igrejas com 100, 200, 300 membros com dízimo garantido. Não sei até onde isso e verdade, mas, em que ponto chegamos?!
Permanecemos aguardando os próximos capítulos da série. Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos.