Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Tendo esclarecido o conceito de igreja que
norteará nossa abordagem, o passo seguinte é começar a responder à indagação
proposta. Para tanto, é importante levar em conta tanto o ensino bíblico quanto
as implicações lógicas. Afinal, não há como pensar em igreja sem movimentação
financeira. Até porque, nenhuma entidade dedicada à filantropia sobrevive sem
dinheiro. Do contrário, como se realizariam ações beneficentes? Como
ajudaríamos os enfermos?
É óbvio que, ao declararmos que a igreja nesta
terra sempre terá movimentação financeira, não estamos concordando com a
manipulação promovida por alguns, mas apenas reconhecendo uma das facetas do
Corpo de Cristo neste mundo, cuja presença pode ser identificada desde o
ministério terreno de Jesus. Senão vejamos: no evangelho segundo João, lemos
que os apóstolos tinham uma bolsa da qual retiravam o dinheiro para compra de
alimentos e para ajudar os pobres (João 13.29). Isto é, eles carregavam consigo
uma quantia para atender as necessidades do grupo. Porém, de onde vinham esses
valores? Sem dúvida, esse é um questionamento feito por poucos. Afinal de
contas, ninguém quer imaginar Jesus manuseando dinheiro. Mas, mesmo assim, a
pergunta tem de ser respondida.
Não obstante, a resposta não é evidentemente
expressa no texto bíblico. No entanto, uma coisa é certa: a “bolsa” era
abastecida com frequência. Isso fica patente na afirmação de João a respeito da
má índole de Judas. Porquanto, o evangelista relata que o traidor furtava o que
era depositado (ou, de acordo com o texto grego, lançado) na bolsa. Ou
seja, alguém colocava esse dinheiro lá. Mas, quem fazia isso? Bem, de acordo
com Lucas 8.3, havia várias mulheres que serviam o Senhor Jesus “com seus
bens”. Isto é, elas doavam dinheiro para o sustento do Mestre e de seus
discípulos, enchendo, assim, a bolsa que eles carregavam. Ao que parece, era
bastante comum que mulheres piedosas ajudassem mestres religiosos. Os fariseus,
inclusive, se aproveitavam disso (Lucas 20.46,47).
Diante dessa constatação, isto é, que Jesus
Cristo aceitava doações para sustento próprio e de seus apóstolos, como podemos
considerar errado fazê-lo no tempo presente? Ou seja, como podemos considerar
antibíblico dar dinheiro para a igreja local? Pois, assim como os valores eram
empregados para o sustento do Mestre e seus discípulos naquele tempo, hoje
também o é. Pelo menos, nas igrejas sérias; haja vista que o dinheiro doado
serve para manutenção do prédio que acolhe a comunidade de fé, para ajudar os
enfermos e demais necessitados, e para sustento dos obreiros.
Contudo, há quem questione a argumentação
baseada em Lucas 8.3, contra-argumentando que o termo traduzido como “bens” (ou
“fazendas”, em algumas versões) significa, na verdade, propriedades. Destarte,
segundo esse entendimento, o texto em questão estaria destacando a
hospitalidade daquelas mulheres, que serviram a Jesus cedendo suas casas para
hospedagem. Essa interpretação, entretanto, desconsidera, não só a etimologia
do termo grego como também o uso da palavra em outros contextos.
O termo traduzido como bens é o grego hyparchonta,
que, literalmente, significa “as coisas que pertencem a alguém”. Isto inclui,
necessariamente, o dinheiro. Tanto, que na parábola dos talentos (Mateus
25.14-30) é dito que um homem confiou aos seus servos todos os seus bens (hyparchonta),
os quais, de acordo com a parábola, incluíam o dinheiro distribuído entre eles.
Além disso, é importante salientar que Jesus
nunca condenou o ato de dar dinheiro para fins religiosos. Ao contrário, Ele
destacou a atitude da viúva pobre que doara tudo o que tinha! Como, então, é
possível concluir que o crente não deve dar dinheiro para a igreja?
Continua...
Pr. Cremilson
Meirelles
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? PARTE II
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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