Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Essa,
sem dúvida, é uma das perguntas mais frequentes, dentro e fora da igreja. Quem
nunca se deparou com alguém que questionou a necessidade das doações feitas
pelos fiéis nas mais diversas comunidades de fé? Quem nunca foi acusado de
estar sendo enganado pelo pastor, em relação ao dinheiro doado? Acredito que
muitos evangélicos já foram confrontados nesse sentido.
É bem verdade,
entretanto, que, na maioria das vezes, os questionamentos giram em torno do
dízimo. Contudo, penso que, na verdade, o que muitos querem saber (ou
confirmar) é se realmente o cristão precisa dar dinheiro para a igreja na qual
congrega, seja na forma de ofertas ou contribuições de qualquer natureza.
Assim, partindo desse pressuposto, pretendo, ao longo de algumas pastorais,
responder à pergunta que intitula este texto, e não apenas fornecer uma análise sobre a contemporaneidade do dízimo.
O
primeiro passo para uma resposta bem fundamentada, no entanto, é esclarecer o
que queremos dizer ao usarmos o termo “igreja”. A esse respeito, é importante
salientar que não subscrevemos a distinção feita por alguns entre “instituição”
e “igreja”. Porquanto, concluir que se um grupo de servos de Jesus Cristo passa
a se reunir num templo, ter uma movimentação financeira mensal, e ser
reconhecido como pessoa jurídica, deixa de ser igreja, e se torna uma
instituição, é um erro grave. Nenhum desses aspectos pode descaracterizá-los
como igreja. Até porque, não constituem transgressões dos mandamentos divinos.
Por conseguinte, aquilo que muitos chamam de “instituição” nada mais é do que a igreja de Jesus Cristo se adequando às
leis (desde que não firam as Escrituras, é claro) e às necessidades
comunitárias, quais sejam: um prédio para abrigar as famílias que desejam
cultuar a Deus e aprender mais sobre a Sua Palavra, uma diretoria para
organizar e tratar dos aspectos administrativos da comunidade de fé, uma
arrecadação mensal, a fim de manter a estrutura e adaptar o prédio para receber
pessoas com todo tipo de limitação (cadeirantes, deficientes visuais,
auditivos, idosos com problemas de coluna), etc. É exatamente o mesmo que
ocorre conosco, enquanto cidadãos responsáveis; haja vista que o simples fato
de termos RG, CPF e uma moradia fixa, não nos transforma em outra coisa
diferente de nós mesmos! Eu continuo sendo eu, ainda que possa ser identificado
por um número, e tenha que pagar contas. Não existe um “eu” institucionalizado,
e um “eu” real! Eu sou eu! Somente me adequei às normas da sociedade da qual
faço parte. Ora, se eu não deixo de ser eu porque tenho RG e CPF, a igreja não
deixa de ser igreja porque tem CNPJ.
Destarte,
quando uso o termo igreja refiro-me a cada um dos aspectos do ajuntamento local
de cristãos. Logo, a pergunta relativa às doações feitas à igreja, traz consigo
a ideia de que o dinheiro doado é empregado a partir das deliberações dos
cristãos que compõem a igreja local, visando os interesses do Reino de Deus,
seja numa democracia direta (igrejas batistas e congregacionais) ou indireta
(igreja presbiteriana).
Essa perspectiva não contempla, porém, o sistema de
governo episcopal (adotado pela maioria das igrejas pentecostais e neopentecostais),
uma vez que o mesmo dá maior abertura para que líderes mal-intencionados possam
gerenciar as finanças da igreja a seu bel-prazer.
Outrossim,
é necessário frisar que, embora saibamos que o prédio onde a igreja se reúne é
apenas sua sede, chamá-lo de “igreja” se tornou uma prática muito comum entre
os evangélicos. E, sinceramente, desde que estejamos conscientes da distinção
entre um e outro, não há pecado algum nisso. Há inclusive, na língua
portuguesa, uma figura de linguagem, chamada “metonímia”, que nos permite
empregar uma palavra para transmitir o sentido de outra com a qual ela se
relaciona. Um exemplo disso, é a expressão: “gosto de cantar Sérgio Lopes”. Ao
usá-la, estou dizendo que gosto de cantar as músicas do Sérgio Lopes, e não que
o Sérgio Lopes é uma música. O mesmo ocorre em relação ao templo: ao referir-me
a ele como igreja, não estou dizendo que a igreja é o templo, mas que o templo
é o lugar onde a igreja se reúne.
Continua...
Pr.
Cremilson Meirelles
É CERTO DAR DINHEIRO PARA A IGREJA? - PARTE I
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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23:54
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