Decerto, um dos argumentos mais utilizados para justificar heresias e desvios doutrinários é o famoso “conselho de Gamaliel”. Com ele, tudo é possível: sincretismo, misticismo, feminismo gospel, poligamia, etc. Basta dizer, “olha o conselho de Gamaliel”, que tudo acaba sendo permitido. Isso porque, em Atos 5.34-39, diante da hostilidade dos judeus para com os apóstolos, Pedro e João, Gamaliel, um doutor da lei, orientou o Sinédrio a não perseguir os cristãos, pois se o cristianismo fosse de Deus, ninguém poderia eliminá-lo; e, se os judeus tentassem fazê-lo, estariam, na verdade, em uma luta contra o próprio Deus.
O que sempre me incomodou nesse texto, no entanto, foi a clara inaplicabilidade do princípio. Até porque, o islamismo, religião surgida no sexto século da era cristã, até hoje não se desfez, e continua crescendo mais do que a maioria dos segmentos religiosos. Por conseguinte, de acordo com o conselho de Gamaliel, a religião fundada por Maomé, teria demonstrado ser aprovada por Deus. De igual modo, seguindo esse raciocínio, o mormonismo e o kardecismo, que têm encontrado bastantes adeptos no Brasil, teriam a aprovação do Senhor. Percebe o absurdo?
Ora, se realmente o princípio utilizado por Gamaliel fosse uma diretiva divina para a aceitação de práticas ou grupos religiosos, com base em sua perenidade, teríamos uma enorme contradição bíblica. Isso porque, a Sagrada Escritura ensina que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4.12). Como, pois, outras religiões seriam consideradas caminhos viáveis para Deus, simplesmente por não se extinguirem?!?
Ademais, é importante salientar que o texto em que o referido conselho é proferido (Atos 5.34-39) é narrativo, e, portanto, não constitui norma para a igreja. Isto é, trata-se de um registro inspirado, mas não um mandamento inspirado. A narrativa é apenas o relato do que aconteceu, não uma ordenança. Ou seja, não precisamos repetir tudo o que os personagens bíblicos fizeram, e nem considerar doutrina aquilo que todos eles disseram. Já imaginou se tudo o que foi dito nos textos narrativos fosse tomado como regra? Satanás disse, usando o salmo 91, que Jesus deveria atirar-se de um lugar alto, pois os anjos o sustentariam. Você percebe a incoerência?
Todavia, algo que geralmente passa despercebido no tocante ao “conselho de Gamaliel”, é o fato de que sua orientação tinha em vista a perseguição violenta, e não a simples discordância. Isso fica bem claro no versículo que antecede a atitude de Gamaliel: “ouvindo eles isto, se enfureceram e deliberaram matá-los” (Atos 5.33). Porquanto, o venerado doutor da lei percebera que a postura de seus pares não se justificava. Afinal, como ele mesmo disse, antes de Jesus, muitos outros pretensos messias haviam aparecido no cenário judaico, mas, por fim, os movimentos por eles liderados se extinguiram. Partindo dessa premissa, o rabino propôs que o Sinédrio não mais os perseguisse.
Realmente, não devemos perseguir pessoas, e nem mesmo intentar matá-las. Isso não condiz com a nova vida em Cristo. Por sermos filhos de Deus, somos naturalmente pacificadores (Mateus 5.9). No entanto, não precisamos do “conselho de Gamaliel” para chegarmos a essa conclusão. Ele nem era cristão! Basta seguirmos os conselhos de Jesus. Até porque, se observarmos bem, em sua fala, Gamaliel fez pouco caso de Jesus, haja vista que o colocou no mesmo nível de falsos messias, como Judas e Teudas. Por isso, creio que sua esperança, na verdade, era que o Cristianismo, por si só, acabasse, tal como ocorreu com os outros movimentos messiânicos. Portanto, um cristão de verdade não deve tomar esse conselho como regra.
Pr. Cremilson Meirelles
Texto muito esclarecedor Pr. Que o Senhor continue iluminando sua meu Pr.
ResponderExcluirQue o Senhor continue iluminando sua mente Pr.
ExcluirAmém, meu irmão. Nossa intenção é contribuir para a propagação da sã doutrina.
ExcluirMuito bom. Texto esclarecedor e que nos faz refletir sobre nossa maneira de viver o evangelho.
ResponderExcluirQue bom que a leitura foi edificante. Continue acessando. Deus o abençoe!
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