Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Certamente, você deve ter percebido
que os textos citados com referência à escravidão trazem, em algumas versões, o
termo “servo” ao invés de escravo. Talvez, por isso, alguém pense que há
distinção entre uma palavra e outra. Porém, ao analisar os textos em seu idioma
original, constatamos que, tanto no hebraico (}eḇed) quanto no
grego (doulos), as palavras usadas significam
escravo.
O uso desses termos, no entanto, não
constitui, em si, uma apologia à escravidão. Isso pode ser depreendido do
contexto em que essas palavras são utilizadas. Porquanto, muitas vezes,
sobretudo no Novo Testamento, elas aparecem nos conselhos dados pelos apóstolos
em relação à conduta cristã. Afinal, havia convertidos em todas as camadas
sociais. O que eles deveriam fazer? Se rebelar? Conduzir uma revolta armada? É
óbvio que não! Os discípulos de Jesus devem promover a paz (Mt 5.9). Portanto,
deveriam, antes, envidar esforços para apresentar o evangelho aos seus
senhores.
Não obstante, ao contrário do que
pensam alguns, os princípios exarados nas Sagradas Escrituras expressam
claramente o repúdio divino à escravidão opressora e desumanizante que sempre
caracterizou os povos sem Deus. Senão vejamos: em 1Timóteo 1.9,10, Paulo coloca
os “raptores de homens” (traficantes de escravos) entre os “transgressores e
rebeldes”, ao lado dos homicidas, matricidas e parricidas. Da mesma forma, o
apóstolo João, no livro do apocalipse, inclui os mercadores de escravos entre
os amantes da grande Babilônia (Ap 18.8-13), sistema dirigido por Satanás, o
grande dragão vermelho (Ap 12.3,9). Além disso, diante de um auditório composto
de pagãos, Paulo nivelou todos os homens, ao afirmar que todos somos “geração
de Deus” (Atos 17.29).
Assim, embora a história testemunhe que
muitos cristãos defenderam ideais escravagistas, é evidente que quem o fez
estava distante das Sagradas Escrituras. Pois, o próprio Espírito Santo não fez
essa diferença entre os homens: “pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E
a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Coríntios 12.13). Logo, já
não há distinção entre “judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre; mas Cristo é tudo em todos” (Colossenses
3.11).
A
respeito desse nivelamento espiritual, vale ressaltar que tal perspectiva
constituía uma inovação na Antiguidade. Porque, de acordo com o pensamento
aristotélico, o escravo e a mulher eram dotados de uma alma inferior. Outrossim,
seguindo esse raciocínio, o filósofo defendia que quem estava debaixo da
escravidão havia sido destinado a isso pela própria natureza: “A natureza, por
assim dizer, imprimiu a liberdade e a servidão até nos hábitos corporais. Vemos
corpos robustos talhados especialmente para carregar fardos e outros usos
igualmente necessários” (ARISTÓTELES, 2002, p. 15).
A
Palavra de Deus, ao contrário, desde o início sublinhou a igualdade entre os
homens, declarando que Deus criou o homem à sua imagem, tanto o macho quanto a
fêmea (Gênesis 1.27), e ordenou-lhes que dominassem “sobre os peixes do mar, e
sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”
(Gênesis 1.28), mas nunca lhes disse para dominar uns sobre os outros. Na
verdade, acerca disso Jesus disse: “Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados e que os grandes
exercem autoridade sobre eles. Não será
assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande,
que seja vosso serviçal; e qualquer
que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo” (Mateus 20.25-27). Destarte, após toda essa argumentação, a
única conclusão lógica é que A Bíblia apregoa a liberdade, e não a escravidão.
Pr. Cremilson
Meirelles
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Política.
Coleção a Obra prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2002.
BANZOLI,
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em: http://www.monergismo.com/textos/etica_crista/biblia-defende-escravidao_GaryMar.pdf
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LATOURETTE,
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VAUX,
Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida
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A ESCRAVIDÃO NA BÍBLIA- PARTE VII
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