Quem nunca percebeu a grande semelhança entre as representações do ícone
da inconfidência mineira e a imagem popular de Jesus Cristo? Quantas vezes, por
conta disso, as crianças confundem os personagens? Há alguns anos, inclusive,
fizeram uma pesquisa entre estudantes do ensino médio e fundamental, a fim de
verificar se reconheceriam o personagem do quadro “Tiradentes Esquartejado”, do
pintor e escritor paraibano, Pedro Américo (1843-1905). Apenas três alunos,
dentre as diversas escolas públicas abordadas, reconheceram-no corretamente; os
demais, o identificaram como Jesus. O mais impressionante, entretanto, é que o
“Tiradentes” histórico nada tinha a ver com o que atualmente figura nos livros
escolares. Afinal, ele era um “alferes”, uma patente de oficial abaixo de
tenente na hierarquia militar; e, como militar, naturalmente, não usaria barba
e cabelos compridos. Além disso, os presos da época tinham seus pelos e cabelos
cortados, a fim de evitar piolhos, e, no momento da execução, os condenados à
forca deveriam ter os cabelos e a barba raspados. Então, como explicar a
semelhança pictórica entre ele e o Cristo? Eis a questão.
De acordo com alguns historiadores, a paridade entre o herói da
inconfidência mineira e o Filho de Deus não é uma coincidência. Na verdade, o
“Cristo brasileiro” foi fabricado, no final do século 19, a fim de legitimar o
governo republicano, recém-implantado no Brasil. Isto é, a intenção era,
através de hinos, mitos, bandeiras e heróis implantar no imaginário popular a
ideia da superioridade da república sobre a monarquia. Sem dúvida alguma, num
país cristão, o melhor meio para alcançar esse objetivo seria encontrar
semelhanças entre um herói da pátria e o herói do mundo: Jesus Cristo. Joaquim
José da Silva Xavier se encaixou perfeitamente no papel. Até porque, tanto ele
quanto Cristo foram martirizados, ambos morreram sem pegar em armas e foram
traídos por um amigo. Só faltava acrescentar os cabelos longos e a barba! E foi
exatamente o que os responsáveis pela propaganda pró-república fizeram. Assim,
nasceu o primeiro ícone do pensamento republicano no Brasil, bem como a conhecida
imagem do famoso “Tiradentes”, a qual foi divulgada por meio da pintura de
Pedro Américo.
Não obstante, comparar Cristo a um revolucionário que lutava por
questões políticas locais é um grande absurdo. Porquanto, a obra redentora do
Filho de Deus é infinitamente superior ao movimento mineiro do qual Tiradentes
fazia parte. Enquanto o alferes morreu por um ideal político, Jesus morreu
pelos seres humanos; enquanto Tiradentes foi surpreendido e enforcado, Cristo
entregou-se para o martírio; enquanto o mineiro era apenas um homem, o nazareno
era o próprio Deus encarnado; embora Joaquim José da Silva Xavier tenha
permanecido morto, Jesus ressuscitou e ascendeu aos céus!
Sendo assim, ainda que os livros vinculem, pictoriamente, Tiradentes a
Jesus, saiba que tal associação é espúria, e não passa de invenção humana. Seu
propósito já prescreveu. A república já “emplacou”, o território já está
demarcado, não há mais a necessidade de propaganda. O sacrifício de Jesus,
entretanto, deve continuar sendo divulgado até que Ele venha (1Coríntios
11.26).
Deus o abençoe!
Pr. Cremilson Meirelles
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o
imaginário da república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
Texto excelente e nos serve de forma didática para desmistificar muitos "paradigmas" entre ambos os personagens citados.
ResponderExcluirÓtimo texto. Jesus é incomparável e sua obra é singular.
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