1 - INTRODUÇÃO
Na atualidade, o número de críticos do
dízimo e da igreja, enquanto realidade institucional, tem se multiplicado. Suas
argumentações estão espalhadas pela internet, em redes sociais, blogs e sites. Nelas,
os polemistas afirmam categoricamente que tanto o dízimo, quanto as
instituições são elementos estranhos ao Novo Testamento. Seguindo esse raciocínio,
acusam os que discordam de suas opiniões de serem alienados, imbecis, burros,
manipulados ou manipuladores.
O curioso, entretanto, é que quando o
assunto é jejum predomina o entendimento de que se trata de uma prática eminentemente
cristã, e, portanto, válida para os discípulos de Jesus. Isto ocorre tanto
entre “desigrejados” como entre “igrejados”, uma vez que ambos enxergam a
contemporaneidade do jejum, praticamente, como um axioma. Assim, mesmo que
muitos não o pratiquem, esse rito é visto com bons olhos perante a grande
maioria da cristandade.
Isso não significa, contudo, que não
haja discordâncias. Porquanto, ainda que a maioria concorde sobre a validade do
jejum há uma série de divergências acerca de sua observância e seus resultados.
Uns pensam que a prática deve ser caracterizada pela abstinência completa de
alimentos e líquidos, enquanto outros entendem que os líquidos são permitidos
durante a prática; porém, ainda há aqueles que compreendem que o jejum pode ser
a privação de um elemento apenas, que não precisa, necessariamente, ser um
alimento, podendo englobar, inclusive, o costume de assistir TV ou acessar a
internet.
Da mesma maneira, no que tange às
consequências do jejum, os pensamentos são igualmente diversos. Apesar disso,
não há dúvida de que a ideia mais popular é a que associa a abstenção de
alimentos à aquisição de bênçãos. Contrariando esse conceito, alguns
compreendem que o jejum contribui apenas para a santificação e fortalecimento
espiritual do crente. Com base nisso, há quem creia que para evangelizar ou
visitar pessoas “possivelmente endemoninhadas” é necessário jejuar antes. Essa
diversidade interpretativa, entretanto, não diminui a crença na atualidade e
validade do jejum para a igreja. Pois, até mesmo quem não o pratica defende sua
atualidade.
Em face dessas perspectivas, uma
infinidade de indagações permeia as mentes de muitos cristãos sinceros: será
que essas pessoas estão certas? Será que o jejum é uma atividade cristã? É
verdade que só podemos expulsar demônios se o observarmos? O jejum é necessário
para que tenhamos poder? Se não jejuarmos, damos brecha para o Diabo? Temos que
jejuar para recebermos uma bênção?
Todavia, por mais que haja muitas visões
e questionamentos, nossa única regra de fé e prática continua sendo a Bíblia
Sagrada. Por conseguinte, é nela que devemos buscar as respostas. Destarte, na
tentativa de oferecer o respaldo bíblico pelo qual anseiam muitos evangélicos, analisar-se-á
o testemunho das Escrituras acerca do tema em questão. Entrementes, antes dessa
análise, será apresentado um panorama da observância do jejum na história
universal.
2 – O JEJUM NA
HISTÓRIA
Ao
contrário do que se pensa, o jejum nunca foi exclusividade da cultura
judaico-cristã. Entre os hindus, no primitivo culto védico, antes do nascimento
de Siddharta Gautama (560 – 480 a.C), a ascese já estava vinculada à obtenção
do poder mágico-religioso. Isto porque, cria-se que “os deuses alcançaram a
imortalidade não só pelo sacrifício, mas também pela ascese” (ELIADE, 2010, p.
225). Entre os ritos ascéticos mais comuns na Índia pré-budista estavam o
jejum, a vigília ao pé do fogo e a exposição ao sol (op. cit.).
Outrossim, nas antigas religiões de
mistérios[1]
praticadas entre gregos e egípcios, o jejum era parte integrante do cerimonial
de iniciação. Segundo Eliade (2010, p. 281), no mundo grego, para ter acesso
aos famosos “mistérios de Elêusis”, “os aspirantes jejuavam e ofereciam
sacrifícios”. O mesmo ocorria no culto prestado à deusa Cibele, no qual seus
seguidores, a cada primavera, lamentavam a morte de Átis, seu consorte, através
de atos de jejum e flagelação. De modo semelhante, nos mistérios egípcios
recomendava-se ao neófito que se abstivesse, “durante dez dias seguidos, de
comer carne e de beber vinho” (ELIADE, 2011, p. 256).
A presença do jejum sempre foi marcante
também no xamanismo, religiosidade tribal que remonta aos primórdios da
humanidade. A razão disso era a busca por visões espirituais, as quais
constituíam um dos requisitos fundamentais para obtenção do título de xamã,
cuja função era mediar o relacionamento entre os seres humanos e o mundo
sagrado. Ainda hoje, os candidatos a xamã se lançam nesse “[...] processo
solitário de jejum e oração, em um local distante, pelo qual [..]” esperam
“[..] alcançar uma visão de um espírito guardião” (WILLIS, 2007, p. 226). Isso,
de fato, acontece porque “o jejum e o isolamento são formas relativamente
comuns de privação que, geralmente, conduzem a estados visionários” (BATALHA,
2005, p. 266).
À guisa dos segmentos supracitados, no
islamismo a abstinência alimentar é uma prática religiosa observada pelos
fiéis. Durante trinta dias, no nono mês do calendário lunar (conhecido como
Ramadã), os muçulmanos, entre o nascer e o pôr-do-sol, se abstêm de comida,
bebida, fumo e relações sexuais. Assim o fazem porque, de acordo com a fé
islâmica, “foi o mês em que Maomé teve sua primeira revelação”. (GAARDER;
HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 139).
À luz dessas informações, fica patente a
universalidade e historicidade do jejum. Não obstante, apoiá-lo como componente
necessário para uma espiritualidade plena com base nisso é, no mínimo,
temerário. Até porque, a crença de que a observância de um rito, por si só, pode
conceder benefícios espirituais, jamais foi ensinada por Jesus ou por seus
apóstolos. Aliás, como vimos até aqui, a ideia de que o jejum pode criar “o
tipo correto de abertura diante da influência divina” (COENEN; BROWN, 2000, p.
1066) era uma crença, predominantemente, pagã.
Ademais, penso ser difícil encaixar o
jejum no contexto da graça. Porquanto, ao contrário da oração, o jejum está
intimamente ligado ao mérito humano. Afinal, como não são todos que conseguem
jejuar, o que, supostamente, é concedido através do jejum baseia-se na
capacidade do jejuador. Todavia, antes de chegarmos a quaisquer conclusões, é
preciso analisar aquilo que as Escrituras afirmam sobre o tema em questão.
3 – ETIMOLOGIA
A palavra traduzida como jejum, no
Antigo Testamento, é tsôm, cujo
significado aponta para a privação voluntária de alimentos como sinal de grande
tristeza, por um período limitado. Curiosamente, esse termo técnico é, com
frequência, substituído pela expressão “afligir a alma”, considerada em muitos
textos (Lv 16.29,31; 23.27,32; Nm 29.7; 30.13) como equivalente ao termo jejum,
o que revela o caráter introspectivo do rito. Já no Novo Testamento, emprega-se
o grego nēsteia, que, tal como o
termo hebraico, refere-se à abstinência de qualquer tipo de comida por um tempo
determinado, seja por necessidade ou rito cultual.
4 - O JEJUM NO
ANTIGO TESTAMENTO
Em primeiro lugar, cabe salientar que a
Bíblia, em momento algum, ordena o jejum como prática diária, semanal ou
mensal. Na verdade, só havia, na Antiga Aliança, um único dia no ano em que
todo o povo de Israel deveria jejuar, a saber: o dia da expiação. “Neste dia,
quando o templo ou o Tabernáculo ainda existiam, o sumo sacerdote entrava no
Santo dos Santos para fazer expiação pelos pecados de Israel. Atualmente este
dia é chamado de Yom Kippur” (TENNEY,
2008, p. 705). Isto era realizado por meio do sacrifício de um animal a fim de
cobrir (ou esconder) os pecados de toda a nação (Lv 16.30), tal como sugere a
raiz do verbo hebraico traduzido por “expiação” (kippur).
Esse evento anual não era somente um
rito vazio. Além de apontar para a obra redentora de Cristo, o dia da expiação
também sublinhava a gravidade do pecado, o qual era apontado como uma ofensa à
santidade divina. Por conseguinte, precisava “[...] ser coberto, oculto da
santa contemplação de Deus, mas nada pode fazer isso senão o sangue - o sangue
de Cristo” (BANCROFT, 1986, p. 68). Esse aspecto da transgressão humana deveria
produzir tristeza no homem. Em razão disso, os israelitas eram convocados a se
entristecer, a afligirem suas almas (Lv 16.31; 23.27). Ao invés de festejar
deveriam lamentar sua condição miserável através do jejum; não para se
fortalecer espiritualmente ou para alcançar bênçãos de Deus, mas para
reconhecer o caráter hediondo do pecado.
O
jejum estava tão intimamente ligado ao Yom
Kippur, que o autor do livro de Atos referiu-se ao evento como “o jejum”
(At 27.9), e o profeta Jeremias mencionou-o como “o dia do jejum” (Jr 36.6).
Fílon chamou-o de “a festa do jejum” (TENNEY, op. cit., p. 706). Mesmo assim,
como ressalta o Pr. Dinelcir de Souza Lima (2014), “ficar sem comer (no dia da
expiação) não era um ato religioso em si, porém a consequência de um sentimento
de profundo pesar pelo sacrifício do Cordeiro e, consequentemente, por causa
dos próprios pecados”. Não havia a intenção de tornar Deus propício ao homem
por meio do jejum. Isto era realizado pelo sacrifício oferecido. O jejum era,
conforme foi dito acima, apenas uma expressão do lamento e tristeza pela
iniquidade do povo.
No entanto, diante disso tudo, surge uma
indagação: se os sacrifícios oferecidos pelo pecado eram limitados em seu
caráter expiatório, sendo, na verdade, como destaca McGrath (2005), apenas o
anúncio da morte sacrificial de Cristo, tendo, por isso, sido extintos; por que
o jejum, prática associada diretamente à expiação veterotestamentária, deveria
ser mantido, já que o evento que o justificava foi eliminado com o sacrifício
vicário de Jesus?
Acerca disso, Tenney (op. cit., p. 706) assevera:
“todas as cerimônias e rituais realizados naquele dia deviam simbolizar, o
máximo possível, a expiação completa do pecado e a total remoção da causa do
desagrado divino”. Seguindo esse raciocínio, também o jejum pode ser visto como
um símbolo da tristeza pelo pecado que deve caracterizar os servos de Jesus
Cristo (Mt 5.4), os quais lamentam pelos seus próprios pecados (Sl 51.4) e pelos dos outros também (Fp 3.18).
A despeito da coerência das ideias
apresentadas acima, é provável que ainda pairem alguns questionamentos. Um
deles, sem dúvida, é a respeito das outras ocorrências do jejum registradas no
Antigo Testamento. Porque, como pensam alguns, esses textos justificam a
utilização do jejum para a aquisição de bênçãos, para a busca de santidade,
além de legitimar as convocações para abstinência coletiva. Porém, antes de
analisarmos esses relatos, é importante fazer menção de um princípio
hermenêutico que não pode ser negligenciado: um texto narrativo não é
necessariamente normativo. Portanto, levando em conta que os demais textos onde
o jejum aparece são narrativas históricas, não podemos, indiscriminadamente,
tomá-los como regra. “As narrativas registram o que aconteceu – não
necessariamente o que deveria ter acontecido ou o que deve acontecer todas as
vezes” (FEE; STUART, 1998, p. 69).
Nada obstante, é digno de nota que
grande parte dos registros veterotestamentários acerca do jejum preserva a
motivação original da abstinência, a saber: a tristeza (fosse pelo pecado ou
por alguma outra espécie de mal). Isto porque, conforme
ressalta Hendriksen (2001, p. 479), “havia uma base natural para os jejuns [...], uma vez que a tristeza
esmagadora ou angústia produz a perda do apetite [...]”. Esta “base natural”
fica patente na história de Ana, mãe de Samuel, a qual, diante da irrisão de
Penina, “chorava e não comia” (1Sm 1.7). O mesmo acontece com Davi por ocasião
da enfermidade de seu filho com Batseba. O texto bíblico relata que o rei ficou
sem comer e sem dormir (2Sm 12.16,17).
Também nos jejuns coletivos, o lamento e
a tristeza são os fatores propulsores, e não a busca de uma bênção especial. Em
1Sm 7.1-6, por exemplo, conquanto não haja uma convocação nacional, todo o povo
jejua, reconhecendo sua iniquidade e lamentando por ela, tal como ocorria no
dia da expiação. Não há indicação alguma de que o propósito do jejum era fazer
com que Deus se voltasse para o povo. A condição apresentada por Samuel para a
intervenção divina era a conversão ao Senhor (1Sm 7.3), e não a abstinência de
alimentos. De igual modo, em Juízes 20.26, encontramos a mesma motivação para o
jejum, uma vez que, após serem derrotados pela tribo de Benjamim, os demais
israelitas manifestam sua tristeza diante do Senhor, derramando lágrimas e
jejuando.
Até mesmo nas convocações nacionais, tão
comuns no antigo Israel, a motivação era a tristeza; ainda que esta estivesse
associada à aflição e à angústia. Sobre esse aspecto, Harris, Archer e Waltke
(1998, p. 1272) asseveram que os jejuns públicos eram convocados “nas épocas
das piores crises, tais como em tempos de pragas, de ameaça militar ou da morte
de um rei”. Isto é visto claramente no episódio em que o rei Josafá, diante da
ameaça dos Moabitas e Amonitas, promulgou um jejum em todo o país (2Cr 20.1-4).
Seguindo esse raciocínio, o rei Jeoaquim proclamou um jejum na ocasião em que o
exército babilônico avançava contra Israel (Jr 36.9). Esses jejuns, no entanto,
não eram um meio de convencer Deus a intervir, mas a expressão de extrema
dependência do Senhor associada ao lamento e o arrependimento pelo pecado.
Além do mais, nesses “jejuns nacionais”,
o que se vê, de um modo geral, é a compunção e o arrependimento pelo pecado, e
não um rito mágico que confere graças. Porquanto, para que Deus fosse com a
nação de Israel, era necessária a observância dos mandamentos. Assim, quando
algo ruim vinha sobre o povo, eles entendiam que estavam em pecado. Era hora de
reconhecer o erro e se arrepender. Nesse ambiente de contrição, o jejum era
adequado, não como meio para convencer Deus a ajudar, mas como expressão de um
coração arrependido pelos delitos cometidos, tal como no dia da expiação.
Por conta dessa vocação melancólica, o
jejum foi naturalmente introduzido nos ritos funerários[2]. Vemos
isso de maneira bem clara no falecimento do rei Saul e de seus filhos, diante
do qual jejuam Davi (2Sm 1.12) e os habitantes de Jabes (1Sm 31.13). De igual
modo, por ocasião da morte de Abner, Davi não se alimentou até o pôr-do-sol
(2Sm 3.35). Também, no livro de Ester, quando os judeus tomaram ciência do
decreto real que ordenava o genocídio idealizado por Hamã, fizeram “grande
luto” (heb. ’ ēbhel - luto), com
jejum, e choro, e lamentação” (Et 4.3), deixando claro que jejum e luto estavam
associados. O estranho, entretanto, é Davi não jejuar pela morte de seu filho
(2Sm 12.20,21).
Em síntese, sempre que o povo ou um
indivíduo enfrentavam situações desesperadoras ou angustiantes recorriam ao
jejum a fim de expressar seu lamento. Indubitavelmente, com o desenvolvimento
da religião israelita, houve uma alteração nessa compreensão, como resultado do
sincretismo que por muito tempo os caracterizou. Durante o reinado de Acabe,
por exemplo, sua esposa, Jezabel, apregoou um jejum nacional de caráter
religioso, desvirtuando o propósito estabelecido por Deus para o dia da
expiação (1Rs 21.9). Essa convocação, de acordo com Philbeck Jr. (1986, p.
238), indicava “alguma culpa coletiva que traria calamidade, a menos que fosse
eliminada da comunidade”. Deus nunca ordenara algo assim! Além disso, o
objetivo daquela abstenção nacional era maléfico, a saber, o assassinato de
Nabote (1Rs 21.10).
O mais interessante no episódio citado
acima é que Acabe, que era israelita, após ser interpelado por Elias sobre o
latrocínio que cometera com sua esposa, lamentou vestido de panos de saco e
jejuou (1Rs 21.27), trazendo à tona o verdadeiro significado do jejum, a saber:
o pesar pelo pecado. O jejum do rei, em momento algum, se caracterizou como um
ato religioso. Ele não usou a abstinência como um meio para obter bênçãos ou
para se tornar mais santo, mas para lamentar.
Possivelmente, o sincretismo religioso
metamorfoseou o jejum em uma prática meritória e ritualística, condenada
severamente pelo Senhor por intermédio de seus profetas. Um exemplo dessa
degradação é registrado em Isaías 58, onde é dito que o povo, embriagado pela
corrupção, buscava o favor divino através do jejum, chegando ao absurdo de
cobrá-lo (Is 58.3). Por consequência, o profeta, a plenos pulmões, “[...] destacou
que eles jejuavam não movidos pelo arrependimento, ou para observar festas
religiosas importantes, mas apenas por prazer próprio. E o que lhes parecia
prazeroso visava obter as bênçãos divinas” (CHAMPLIN, 2001, p. 2.953). A
disposição íntima necessária ao jejum estava ausente! Conseguintemente, Deus
usa Seu profeta para mostrar-lhes o jejum que O agrada. Este, com efeito, não
consistia em sinais externos de lamentação, mas em manifestações de amor na
relação diária com o próximo (Is 58.6-11). Mais do que deixar de comer, o
Senhor queria que Seu povo vivesse a lei do amor, o maior de todos os
mandamentos (Dt 6.5; Lv 19.18). “A essência está, não em coisas externas, mas
na conversão de coração e vida; a pessoa deve rasgar o seu coração, e não as
suas roupas” (RIDDERBOS, 2006, p. 474).
Mesmo quando o próprio Deus solicita que
o povo jejue isto nada tem a ver com meras manifestações exteriores, mas com
uma mudança interior: “convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com
jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas
vestes, e convertei-vos ao SENHOR vosso Deus” (Jl 2.12,13a). Perceba que, no referido texto, o jejum é
acompanhado pelo choro, remetendo o povo ao propósito original da abstinência
alimentar, a saber: a tristeza e o lamento pelos pecados cometidos.
Curiosamente, depois do exílio
babilônico o número de jejuns calendáricos aumentou. Passou de um dia por ano
para quatro (Zc 8.19). Entretanto, em cada uma dessas datas, mantinha-se o
propósito original do rito. O jejum do quarto mês trazia à memória o dia em que
a cidade de Jerusalém fora tomada por Nabucodonosor (Jr 52.6-11); o do quinto
mês remetia o povo à destruição do templo (2Rs 25.8-10); o do sétimo mês,
apontava para o assassinato de Gedalias, governador imposto por Nabucodonosor
(2Rs 25.22-25); e o do décimo mês relembrava o dia em que Nabucodonosor
iniciara o cerco contra Jerusalém.
Conquanto a observância desse calendário
aparentasse fervor religioso, o remanescente judeu que retornara da Babilônia
acabou se tornando apático em seu relacionamento com o Senhor. Essa apatia
redundou em múltiplos pecados. Em virtude disso, Zacarias confrontou o povo,
tal como fizera Isaías, acusando-o de jejuar ritualisticamente, visando
interesses particulares (Zc 7.5,6). Em adição, o profeta denunciou as diversas
transgressões que vigiam à época, as quais estavam muito mais ligadas à relação
com o próximo do que com práticas litúrgicas. Ora, Deus nem havia ordenado
aqueles jejuns!
Por que eles se
preocupariam com algo que Deus não tinha ordenado, quando eram tão negligentes
com aquilo que Ele exigira de maneira tão explícita tantas e tantas vezes
através dos profetas pré-exílicos? É muito melhor obedecer a Deus em lugar de
amontoar jejuns sobre jejuns (FEINBERG, 2001, p. 368).
Lamentavelmente, com o desenvolvimento
do judaísmo, o jejum se estabeleceu, definitivamente, como prática meritória que os
hipócritas usavam para mostrar sua santidade. “Os fariseus jejuavam duas vezes
por semana (Luc. 18.12) e faziam disso um teste de piedade” (TURLINGTON, 1998, p. 153). Para tanto, evocavam a
tradição de que Moisés subira o Sinai na segunda-feira e descera na quinta.
Desse jeito, a adoração a outros deuses, problema que parecia ter ficado para
trás com o
exílio babilônico, ressurgiu sob nova roupagem. Agora as divindades eram “mamom, orgulho,
provincialismo, sábado, jejum, rituais de purificação, e coisas semelhantes.
Esses ‘deuses’ são mais sutis e mais perigosos do que os deuses grotescos e
estranhos do paganismo” (op. cit., p. 192).
5 – JESUS E O JEJUM
Como vimos até
aqui, a Lei de Deus só prescrevia um único jejum ao longo do ano. Porém, com o
passar do tempo, os jejuns se multiplicaram, sendo observados nas mais diversas
circunstâncias: luto, emergência nacional, memorial, etc. Com o surgimento das
sinagogas, “o ensino regular da Torah levou a uma ênfase renovada sobre o
sábado, a circuncisão e o jejum” (BROADUS, 1983, p. 8), que culminou na
predominância de uma concepção ascética da abstinência alimentar. “A ‘fome’ de
jejum, porém, foi aumentando, a ponto de os exageros terem de ser proibidos.
Havia rabinos que passavam fome em 300 dias do ano, sempre das 6 às 18 horas”
(POHL, 1998, p. 94).
Para os
fariseus, o jejum, como sinal de lamentação pelos pecados, “ganhava a aprovação de Deus em preparação para o dia
do julgamento. Eles não somente assim praticavam e ensinavam, mas em seu papel
de defensores das tradições, protestavam quando outros não o faziam”
(MULHOLLAND, 2005, p. 61). Inobstante, o jejum individual, além do
preconizado pela Lei (que era coletivo), não era exclusividade da religiosidade
farisaica. Muitos judeus piedosos observavam essa prática. O próprio João
Batista “se apresentou como asceta, sendo o jejum característico de sua seita”
(BULTMANN, 2005, p. 39). Decerto, o Batista encorajou esse rito como uma
expressão de tristeza pelo pecado, e não como meio de obter bênçãos ou
persuadir Deus. Da mesma sorte, os essênios[3] jejuavam
habitualmente. Assim também procediam algumas mulheres piedosas (Lc 2.37).
Estranhamente,
em um ambiente em que grande parte da população jejuava com frequência, o
Messias prometido não incentivava seus discípulos a fazê-lo. Percebendo isso,
os seguidores de João Batista[4]
foram até Jesus e indagaram: “por que jejuamos nós, e os fariseus, muitas
vezes, e os teus discípulos não jejuam” (Mt 9.14)? Esta pergunta, contudo, não possuía
apoio nas Escrituras, uma vez que o único jejum normativo era o do dia da
expiação. Ademais, “de acordo com o ensino de Isaías 58.6,7 e Zacarias 7.1-10, não
era um jejum literal que Deus requeria, mas o amor, tanto no sentido vertical,
quanto horizontal” (HENDRICKSEN, 2003, p. 133).
A despeito da
compreensão de seus inquiridores acerca do jejum, Jesus, retomando seu
significado original (lamento e tristeza em situações desesperadoras), respondeu que o jejum só
teria lugar quando o “noivo” (Cristo) fosse tirado deles (Mt 9.14,15). Com isto
se referia à Sua crucificação. “Então, os seus discípulos
experimentariam intensa tristeza, por algum tempo, até que a sua tribulação
fosse transformada em alegria pela ressurreição” (TASKER, 2006, p. 78). Mas, enquanto o “noivo”
permanecesse, não haveria necessidade de jejuar. Porque, “na época
messiânica da alegria os velhos ritos de lamentação não fazem mais sentido” (BULTMANN,
2005, p. 77). Note que, em momento algum, o Mestre ordena que seus discípulos
jejuem, apenas assevera que, diante de tamanha tristeza, inevitavelmente,
jejuariam. Afinal, o Consolador só seria concedido após a ressurreição e
ascensão de Cristo (Jo 16.7).
A analogia usada pelo Mestre é bem
própria, visto que, durante o cortejo nupcial, “o noivo, com a cabeça adornada
com um diadema, Ct 3.11; Is 61.10, acompanhado por seus amigos com tamborins e
músicas, I Mb 9.39, dirigia-se à casa da noiva” (VAUX, 2004, p. 56). Por
ocasião dessa celebração, os convidados ficavam dispensados da obrigação de
jejuar, para que a alegria não fosse esmaecida. Com isso, Jesus liga o jejum à
tristeza e sua presença a uma alegria tão grande que leva ao festejo, mostrando
que jejuar na Sua companhia seria praticamente uma ofensa; o mesmo que os
amigos do noivo não o acompanharem no cortejo. Certamente, isso deve ter mexido
com a cabeça dos ouvintes, haja vista que, no Antigo Testamento, o noivo de
Israel era o próprio Deus (Os 2.14-20).
Semelhantemente, as parábolas do remendo
e do vinho novo empregadas por Jesus naquela ocasião (Mt 9.16,17), salientavam
que as boas novas trazidas por Ele não tinham nada a ver com o ritualismo
judaico. “O que ele viera fazer era dinâmico e revolucionário, e não podia ser
contido em velhas fórmulas como jejum e sabatismo” (TURLINGTON,
1988, p. 168). O novo Israel é incompatível com o velho. “O vinho novo do perdão messiânico não seria
conservado nos remendados odres do legalismo judaico” (TASKER, 2006, p. 78).
Outra verdade que salta aos nossos olhos
nesse episódio é o fato de que o próprio Cristo doutrinara seus seguidores a
não jejuar. Isto fica evidente quando levamos em conta alguns elementos. Primeiro:
alguns dos seguidores de Jesus haviam sido discípulos de João Batista (João
1.35-40); segundo: todos os discípulos eram judeus (e o jejum fazia parte da
cultura judaica). Ora, os discípulos de João jejuavam. Por que os que passaram a seguir Jesus abandonaram essa prática? Além disso, todo judeu
piedoso costumava jejuar. Por que eles não jejuavam? Jesus ainda nem havia dado
aquela explicação e eles já não observavam o jejum fora do dia da expiação.
Creio que a única razão plausível para essa anomalia era o ensinamento e o
exemplo dado pelo Mestre. Do contrário, por qual razão agiriam dessa forma? E,
se Jesus era a favor do jejum, por que não chamou a atenção deles? Afinal, a
Bíblia diz que eles não jejuavam (Mc 2.18).
Por conta dessas e de outras questões,
concluo que os cristãos não precisam jejuar. O Mestre nunca exigiu isso de seus
discípulos! Na verdade, como vimos, Ele ensinou que na presença do noivo o
jejum é desnecessário. A noiva (a igreja) está sempre na presença do noivo! O
Cristo ressurreto nos garantiu isso quando disse: “eis que eu estou convosco
todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28.20). Em adição, o
sacrifício vicário realizado por Jesus eliminou por completo a necessidade de
um “dia da expiação”.
É importante frisar também que, em João
14.16, Jesus asseverou aos discípulos que o Pai daria “outro consolador”. O
contexto da passagem em pauta dá a ideia de outro da mesma natureza, ou seja, um
substituto à altura. Quando Jesus estava fisicamente presente, seus discípulos
não precisavam jejuar. Agora que o Espírito Santo, que é igualmente divino,
está conosco, por que teríamos essa necessidade? Somos habitação do Espírito
Santo (1Co 3.16), por que andaríamos tristes?
A esse respeito, apesar de discordar de grande parte de sua teologia, considero a afirmação de
Rudolf Bultmann bastante relevante:
[...] Jesus não
pedia nenhum tipo de ascese, e isso é bem característico de toda sua atitude e
mostra como Ele vê a posição do ser humano perante Deus. Pois a exigência da
ascese baseia-se na concepção de que, por meio de seu comportamento, o ser
humano pode angariar para si mesmo uma certa qualidade ideal ou santa, que
adere a ele como estado do ser (BULTMANN, 2005, p.110-111).
Seguramente, o ascetismo não coaduna com o
ministério de Jesus. Ele próprio foi chamado de “comilão e beberrão” (Mt
11.19)! Se jejuar fosse um recurso para o fortalecimento espiritual ou para o
aumento da santidade, por que Jesus e seus discípulos não o observavam? Se
somente Jesus, o Deus encarnado, não jejuasse, seria bem fácil de compreender;
mas, por que Ele não motivou seus seguidores (homens falhos, pecadores) a
fazê-lo? Não é estranho que o Novo Testamento registre várias ocasiões em que o
Filho de Deus orou (Mt 26.39; Mc 1.35; Lc 5.16; 6.12; 9.18; 11.1; Jo 17.1),
enquanto existe apenas um episódio (que analisaremos mais adiante) em que, por
força das circunstâncias, Ele teve de abster-se de alimentos (Mt 4.1-11; Lc
4.1-13)? Ademais, se o jejum é uma prática válida para a igreja, por que
nenhuma das epístolas neotestamentárias nos concita a realizá-la?
O mais estranho, entretanto, é que
Jesus, mesmo tendo orientado seus discípulos a não jejuar, ensinou, no sermão
do monte, como deveria ser feito o jejum (Mt 6.16-18). Seria isso uma
contradição? De maneira nenhuma. Seu discurso trata daquilo que era comum entre
os judeus da época, os quais ainda observavam dois jejuns coletivos: o dia da
expiação e o nono dia do mês de Aḇ
(julho/agosto), promovido com o propósito de recordar a destruição do templo
por Nabucodonosor (em 586 a.C.). Como o dia da expiação só seria extinto
mediante o sacrifício perfeito oferecido pelo Filho do Deus vivo, fazia todo
sentido, antes da crucificação, tratar de algo diretamente vinculado àquele
dia. Até porque, seus ouvintes, inevitavelmente, participariam daquela cerimônia.
No entanto, sua intenção não era ratificar ou incentivar a observância do
jejum, mas condenar a hipocrisia farisaica levada à cena por meio das três
expressões de “justiça” reconhecidas pela comunidade judaica daquele tempo, a
saber: a contribuição caritativa, a oração e o jejum.
Por certo, Jesus queria que seus
discípulos compreendessem que a verdadeira religião deveria ter Deus como
centro, e não o homem. Portanto, quando, na prática de sua tradição religiosa,
tivessem de jejuar, teriam de fazê-lo da maneira mais discreta possível,
ungindo a cabeça e lavando o rosto, ao contrário dos fariseus, que buscavam o
reconhecimento do povo. Essa admoestação se aplica também às esmolas e à
oração, as quais deviam ser realizadas em secreto, como atitudes sinceras de
adoração a Deus.
Todavia, ainda que concluamos que Jesus,
em Mateus 6.16-18, não incentivou o jejum, mas apenas redirecionou o foco da
devoção religiosa, e que, na Nova Aliança, jejuar é desnecessário, resta uma pergunta:
por qual razão Cristo jejuou? Para responder a esse questionamento é necessário
recorrer à narrativa evangélica, a qual declara: “então, foi conduzido Jesus
pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1).
O texto é claro, Jesus foi ao deserto para
ser tentado, não para jejuar. Contudo, no deserto, água e comida são coisas
escassas. Sendo assim, mesmo que Jesus quisesse comer ou beber, seria difícil
conseguir alimento ou bebida. Não obstante, surge outra pergunta: Ele não poderia
ter levado mantimentos? Ora, a sua ida ao deserto tinha como objetivo
submetê-lo à tentação. Como fazê-lo se a própria Bíblia afirma que Deus não
pode ser tentado (Tg 1.13)? O único meio de tentá-lo seria através da fraqueza
inerente à natureza humana, visto que, na ocasião, Jesus estava na condição de
Deus-homem. Por conta disso, Ele não se alimentou. Embora na narrativa de
Mateus o diabo só apareça quando Jesus sente fome, Lucas relata que, durante os
quarenta dias nos quais Ele “não comeu coisa alguma” (Lc 4.2), satanás o tentou
constantemente. Apesar disso, a ênfase nos dois textos é que, a partir do
momento que Ele teve fome, as investidas satânicas se intensificaram.
O “jejum” de Jesus não teve nenhuma
conotação cerimonial ou religiosa. Na realidade, não faria sentido algum se Ele
jejuasse, até mesmo, dentro da perspectiva original do jejum, haja vista que
não possuía pecado (1Pe 2.21,22). Logo, não poderia lamentar ou se entristecer
por seus pecados, como fazia o povo. Analogamente, jejuar em razão de uma crise
seria completamente impróprio, visto que o Espírito Santo acabara de descer sobre
Ele como uma pomba, por ocasião de Seu batismo, e o Pai pronunciara a famosa
frase: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Um jejum em busca
de fortalecimento espiritual também está fora de cogitação, porque, como
destacou Lucas, Ele estava “cheio do Espírito Santo” (Lc 4.1).
À semelhança de Moisés, Jesus jejuou por
quarenta dias e quarenta noites (Êx 34.28; Mt 4.2). Aparentemente, o episódio
aponta para Cristo como o Moisés maior, que se retirara a fim de trazer boas
novas ao Seu povo. Acerca disso, Hendricksen sublinha que Jesus
estava bem
consciente de ter seu Pai desejado submetê-lo à disciplina deste jejum
precisamente pelo mesmo propósito de Israel ter “sofrido fome” no deserto; foi
para que a suprema lição pudesse ser aprendida, no sentido de que não só de pão
viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor (Dt 8.3). O Pai,
que o havia chamado e submetido à tentação, haveria de prover a bom tempo as
necessidades físicas de seu Filho. O dever de Jesus era ser obediente ao
chamado, e não decidir por si próprio quanto ao momento ou à maneira como seu
jejum haveria de terminar (HENDRICKSEN, 2001, p. 42).
Definitivamente, sentir fome é algo
terrível. Uma pessoa faminta é capaz de qualquer coisa para saciar sua fome. É
o instinto de sobrevivência! Levando isso em conta, pense comigo: qual seria o
melhor momento para satanás tentar Jesus? Quando estivesse tudo bem, ou no momento
em que seu corpo estivesse debilitado? É claro que a segunda opção seria a mais
atraente. Portanto, a conclusão lógica diante do texto em pauta é que o “jejum”
de Jesus foi o que deu ocasião para a tentativa de Satanás. Ademais, diferente
de Mateus, que escreve para um público judeu, Lucas diz apenas que Jesus não
comeu coisa alguma, não que jejuou. Alguns podem objetar, dizendo: - ah, mas ele
só não destacou isso porque escrevia a um gentio. Porém, em Lc 5.33-39, é
relatado um episódio onde a palavra jejum é usada, sem se explicar o
significado. Isto porque, o evangelista entendeu que seus leitores saberiam exatamente
do que se tratava. Afinal de contas, conforme foi explicado anteriormente,
jejuar nunca foi uma prática exclusiva do judaísmo. Assim, o fato de Lucas não
utilizar a palavra jejum no capítulo 4, reflete sua compreensão de que a
abstinência alimentar de Jesus tinha um propósito diferente do jejum judaico.
A vitória do Filho de Deus sobre as
tentações diabólicas não foi resultado do jejum. Este, ao contrário, foi o que
forneceu o cenário perfeito para a ação do príncipe deste mundo. Jesus venceu
com uma arma mais poderosa: as Escrituras Sagradas. Estas devem, sem dúvida
alguma, fazer parte de nossas vidas. O jejum, por outro lado, não é necessário.
Isto não quer dizer, contudo, que devamos abraçar a glutonaria. A Bíblia é bem
clara ao alistar a falta de moderação na comida como pecado (Lc 21.34; Cl 3.5).
Mas, se é assim, por que Jesus asseverou
que existem castas de demônios que só podem ser expulsas mediante a oração e o
jejum (Mt 17.21)? Sinceramente, considero esdrúxula a ideia de que a expulsão
de espíritos imundos só possa ser executada por cristãos de barriga vazia. Mais
estranho ainda é o fato de que nos três evangelhos em que esse episódio é
narrado, também é relatada a declaração de que, enquanto o Noivo estivesse com
os discípulos, o jejum seria desnecessário. Ao que parece, os defensores do
jejum não levam isso em consideração. Até porque, se levassem, deveriam
perceber a aparente contradição entre os ditos de Jesus. Em um dado momento diz
que o jejum é desnecessário, mas noutro afirma que é imprescindível! Como
resolver isso?
Bem,
acredito que o propósito de Jesus não era regulamentar o jejum como instrumento
para expulsão de demônios. Porquanto, se fosse esse Seu objetivo, creio que, ao
proferir suas últimas palavras antes de ascender aos céus, teria inserido essa
doutrina, dizendo: “em meu nome, e
fazendo jejum, expulsarão demônios”. Entrementes, apenas declarou: “em meu
nome, expulsarão demônios” (Mc 16.17b). É óbvio que a fé em Cristo era o
diferencial, não o jejum. Por isso, o Mestre afirmou: “estes sinais seguirão
aos que crerem” (Mc 16.17a).
Quanto à narrativa em que Jesus fala
sobre a necessidade do jejum e da oração (Mt 17.14-21), penso que há alguns
aspectos de suma importância, que, geralmente são desconsiderados. O primeiro
deles é que, embora Jesus tenha feito a advertência acerca do jejum, Ele mesmo não
jejuou (pelo menos o texto não dá indicações disso). Como expulsou o demônio,
então? O segundo aspecto a ser levado em conta é que a afirmação de Jesus diz
respeito somente àquela casta. Em momento algum, Ele aponta sua observação como
regra geral para a expulsão de demônios. Daí surge, naturalmente, algumas
dúvidas: como podemos saber quando estaremos diante daquele tipo de casta?
Mesmo sabendo, como jejuaremos antes? Marcaremos horário para expulsão de
demônios? O terceiro ponto é que, anteriormente, os mesmos discípulos haviam
expulsado demônios, sem jejuar (Mc 6.12,13). Por que nesse episódio não
conseguiram fazê-lo?
Decerto, as respostas para os
questionamentos acima se encontram no texto bíblico. Senão vejamos, em Mateus
17.17, Jesus deixa transparecer a razão da incapacidade dos discípulos, pois
diz: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei eu convosco e até
quando vos sofrerei”? Com essa assertiva, Cristo mostra sua insatisfação com
todos os presentes:
com
o pai, a quem faltou fé suficiente no poder de Cristo para curar (Mc 9.22-24);
com os escribas, que, em vez de demonstrar alguma piedade, estavam com toda
probabilidade se deliciando maliciosamente com a incapacidade dos discípulos
(Mc 9.14); com a multidão em geral, que é retratada nos Evangelhos como estando
geralmente mais preocupada consigo mesma do que com os outros (Jo 6.26); e, por
fim, mas não menos importante, com os nove discípulos, porquanto haviam deixado
de exercer a sua fé, e de se dedicar totalmente à oração perseverante (Mc 9.29)
(HENDRICKSEN, 2001, p. 42).
Foi justamente nesse ponto que o demônio
encontrou ocasião para resistência: na falta de fé. Ao que tudo indica, eles
não confiavam integralmente no Senhor. Isto é claramente exposto por Jesus em
sua resposta aos discípulos, que o interrogavam sobre a razão de seu fracasso:
“Por causa da vossa pequena fé” (Mt 17.20a). Essa referência à pouca fé também
aparece nos relatos de Marcos e Lucas, quando Jesus os chama de “geração
incrédula” (Mc 9.19; Lc 9.41). Semelhantemente, em seu diálogo com o pai do
menino endemoninhado, Jesus destaca: “tudo é possível ao que crê” (Mc 9.23c).
A falta de fé é tão evidente que Jesus
ressalta: “se tiverdes fé como um grão de mostarda...” (Mt 17.20). O uso da conjunção
condicional “se” (grego ean), indica
que se trata de uma fé que os discípulos não possuíam. Nessa comparação Cristo
se remete a uma semente minúscula que dá origem a uma conspícua árvore, tão
grande, que diversas aves fazem nela seus ninhos. Por conseguinte, o
ensinamento dessa parábola é que eles precisavam ter um “tipo de confiança em
Deus que não desiste imediatamente nem cede ao desespero quando seus esforços
não alcançam êxito imediato” (HENDRICKSEN, 2001, p. 245), levando o indivíduo a
um relacionamento íntimo e ininterrupto com o Criador, que o fará “orar
fervorosamente, sabendo que Deus, em seu tempo próprio e a seu próprio modo,
concederá a bênção” (loc. cit.). Jesus conclui sua metáfora com a frase: “e
nada vos será impossível” (Mt 17.20). Ou seja, se eles tivessem aquele tipo de
fé, até aquilo que lhes parecera impossível (expelir a casta de demônios),
poderia ser realizado.
Visto isso, fica patente que os discípulos
tentaram expulsar o demônio por sua própria autoridade, sua própria força. Mas o
homem não possui autoridade própria. A autoridade é prerrogativa do Filho de
Deus (Mt 28.18). Foi Ele quem amarrou o valente (Mt 12.28,29)! Os discípulos
nem mesmo oraram! Tentaram resolver do seu jeito! Tanto, que Jesus diz que
faltou oração (Mt 17.21).
Indubitavelmente, “se há uma fé pequena, há também uma
oração pequena. Da mesma maneira, onde existe uma abundância da fé perseverante
e genuína, também há uma oração incessante e fervorosa” (HENDRICKSEN, 2003, p. 447).
“A oração é a expressão verbal da fé em Deus e da
dependência completa nele (11.22-25). Pela oração se pede a Deus fé para vencer
a descrença” (MULHOLLAND, 2005, p. 147).
Inobstante, qual o lugar do jejum nesse
contexto? Bem, de acordo com teólogos de grande envergadura, tais como William
Hendricksen, Adolf Pohl, R.V.G Tasker, Frank Stagg e Russel Norman Champlin, o
versículo que diz que a “casta de demônios não se expulsa senão pela oração e
pelo jejum” (Mt 17.21), não consta dos manuscritos gregos mais antigos do Novo
Testamento. Estas palavras seriam, segundo esses escritores, acréscimos feitos
por copistas que viveram num tempo no qual o jejum gozava de grande prestígio. Por
essa razão, em algumas versões das Escrituras, o versículo citado aparece entre
colchetes. O mesmo acontece com o texto de Marcos, pois, “a adição de ‘e jejum’
não aparece nos dois manuscritos gregos mais antigos (Aleph e B) [...] Mas é
desnecessária e também infiel. Foi a oração que os nove discípulos não fizeram”
(ROBERTSON, 2011, p. 459). A Bíblia de Jerusalém, inclusive, nem traz essa
palavra. Em Marcos 9.29, seu texto diz assim: “Ele respondeu: essa espécie não
pode sair a não ser com oração”. Partindo dessa premissa, alguns
descartam o jejum como instrumento para viabilizar a expulsão de demônios.
É bem verdade que essa conclusão se
baseia na edição do texto grego, conhecida como Novum Testamentum Graece, produzida por Eberhard e Erwin Nestle e
Kurt Aland, entre os séculos XIX e XX, que se trata de uma reconstrução do Novo
Testamento a partir de manuscritos considerados mais antigos. Chamada também de
texto crítico, essa edição, posto que seja bem aceita no meio acadêmico, não
goza de unanimidade. A ala mais conservadora do Protestantismo prefere o Textus Receptus, obra baseada nas edições
de Boaventura Elzevir e Abraão Elzevir, realizadas no século XVII, que sucedeu
as edições de Erasmo de Roterdã (1516) e de Teodoro Beza (1565). Por conta
disso, muitos rejeitam a interpretação mencionada no parágrafo anterior.
Todavia, penso que, mesmo baseados na
versão tradicional das Escrituras, o Textus
Receptus, podemos concluir que Jesus não ensinou a aquisição de “poderes
espirituais” por meio de hábitos ascéticos. Para tanto, basta recorrer a um dos
princípios básicos da hermenêutica, a saber: a consulta de passagens paralelas.
Quanto a estas, Lund e Nelson (2001, p. 40) observam que “há paralelos de
palavras, paralelos de ideias e paralelos de ensinos gerais”. Em relação aos
paralelos de palavras, os autores citados esclarecem que se trata de buscar o
verdadeiro significado de uma palavra ou expressão “consultando outros textos
em que ela ocorre” (loc. cit.). No tocante aos paralelos de ideias, eles
comentam:
Para conseguir a
ideia completa e exata do que ensina a Escritura neste ou naquele texto
determinado, talvez obscuro ou discutível, consultam-se não só as palavras
paralelas, mas os ensinos, as narrativas e fatos contidos em textos ou
passagens esclarecedoras que se relacionem com o dito texto obscuro ou
discutível. Tais textos ou passagens chamam-se paralelos de ideias (op. cit.,
2001, p. 46).
Seguindo essa linha, a fim de
interpretar corretamente a passagem bíblica em tela, temos de levar em conta a
maneira como Jesus empregou o termo “jejum” em outras ocasiões. Porque,
provavelmente, o sentido pretendido em Mateus 17.21 e Marcos 9.29 é o mesmo.
Ao vasculhar as Escrituras, encontramos quatro
episódios nos quais Jesus usa a palavra grega nēsteia (jejum). A primeira vez ocorre em resposta ao
questionamento feito pelos discípulos de João Batista (Mc 2.18-22, Mt 9.14-17,
Lc 5.33-39). Naquela ocasião, como já foi elucidado anteriormente, o termo foi
usado no contexto cultual, aludindo à expressão de tristeza e lamento diante de
uma situação desesperadora, tal como ocorria no dia da expiação. Em seguida, no
Seu famoso “sermão da montanha”, Jesus, lançando mão das três práticas
associadas à retidão (esmolas, oração e jejum), condenou a hipocrisia farisaica
e motivou uma devoção sincera (Mt 6.1-18). Nessa perícope, o grego nēsteia também é empregado no seu sentido
cultual, cuja motivação era conjuntural, não tendo nenhuma relação com o acúmulo de “poder” para expelir espíritos
malignos.
No terceiro momento em que Jesus profere o termo, Sua intenção era, claramente,
destacar que as pessoas estavam famintas (Mt 15.32; Mc 8.3). Não há nenhuma referência a práticas
religiosas. Já em Mateus 17.21, esta última aplicação, definitivamente, não se
enquadra no contexto. Logo, Cristo mencionou o jejum tendo em mente o relacionamento
com Deus. Mas, como Ele entendia esse tipo de devoção? Do jeito que a Lei
normatizara: o jejum como manifestação da alma aflita, angustiada, triste por
ter ofendido a santidade divina.
Observando a resposta de Jesus ante o fracasso dos discípulos,
a partir dessa perspectiva, fica fácil concluir que a menção ao jejum (Mt
17.21) ressalta o sentimento de criatura, que deve caracterizar o seguidor de
Cristo, levando-o a reconhecer sua miséria e dependência do Todo-poderoso. Isso
tem tudo a ver com o dia da expiação, visto que naquela cerimônia a miserável condição
humana ficava patente. Todos, inclusive o sumo sacerdote, precisavam do
sacrifício de um animal para cobrir seus pecados (Lv 16.11-15). Isto é, todos
eram pecadores. Todos careciam da misericórdia divina para não serem consumidos
(Lm 3.22). É esse sentimento de nulidade, de dependência que Jesus esperava de
Seus discípulos, e não mero rito. Isso sim é necessário para expelir qualquer
casta demoníaca: uma fé perseverante e extremamente dependente do Pai. Até
porque, à luz do contexto, é isso que podemos depreender.
Contudo, não há vitória automática para aqueles que
seguem a Jesus. Deus continua mantendo o controle sobre seu poder. Imaginar que
seja nosso poder, sob nosso controle, e à nossa disposição, ‘é o mesmo que
descrença, pois seria, de fato, confiar em nós mesmos em vez de em Deus’
(Cranfield, 305). Um ministério eficaz não é conseqüência de habilidade
pessoal, sucessos anteriores ou programas. Um ministério eficaz começa com
dependência em Jesus que se expressa na oração confiante e leva os que sofrem à
fé em Jesus e à libertação do domínio satânico (MULHOLLAND, 2005, p. 147,148).
O problema
principal no episódio em questão não era o “poder” ou a “resistência” da casta
de demônios, mas a pequena fé dos discípulos (Mt 17.20; Mc 9.19). Eles estavam
cheios de si, achando que, porque haviam expulsado demônios noutras
ocasiões (Mc 6.12,13), poderiam fazê-lo outra vez. Por isso, Jesus os
alerta sobre a necessidade de reconhecer sua verdadeira condição de pecadores,
a miséria de sua alma. Pois, só assim, dependendo do Senhor, poderiam expulsar
demônios. Foi desse jeito que foram enviados em Mateus 10. Afinal, como diz o
texto, Ele mesmo lhes deu “poder sobre os espíritos imundos, para os
expulsarem” (Mt 10.1). Ou seja, o poder é dEle (Sl 62.11)! Só podemos expelir
demônios na dependência dEle! Não foi o jejum que proporcionou isso em Mateus
10, mas a liberdade soberana de Cristo. Aliás, se você atentar para o texto
citado, verá que até Judas recebeu esse “poder”. Isto revela que não há como
merecer isso por meio de práticas rituais ou consagratórias. Dependemos da
benevolência de Deus.
Se acharmos
que o jejum nos concede “poder” para expelir espíritos imundos, estaremos
confiando no que fazemos, e não no Senhor. Por isso, Jesus destaca a
importância da oração e da fé, as quais têm muito mais a ver com a graça do que
o jejum. Este, na verdade, permanece fincado na lei, sendo um de seus aspectos
exteriores, tal como a circuncisão.
Enfim, Jesus
não queria que seus discípulos jejuassem para expulsar demônios, mas que
trouxessem à tona o sentimento que caracterizava o jejum originalmente, a
saber: a tristeza e o lamento pelo pecado. Isto é, só o reconhecimento da
miséria humana, enquanto raça pecadora, pode levar à dependência do Senhor, e
só Ele pode conceder poder para expelir espíritos imundos.
Não estou
afirmando, com isso, que o Mestre os proibiu de jejuar. Absolutamente. Acredito
que Ele não proibiu e nem motivou. Apenas disse que era desnecessário (Mt
9.14-17; Mc 2.18-22). Em algumas poucas ocasiões utilizou o exemplo do jejum,
como elemento da cultura a que se dirigia, visando transmitir uma mensagem mais
profunda, que apontasse para a verdadeira devoção a Deus, como fica evidente em
Mateus 6.1-18. Nada mais do que isso.
6 - O JEJUM NA IGREJA PRIMITIVA
Após a ascensão de Cristo, muitos de seus discípulos
mantiveram diversos costumes e ritos judaicos. Em consequência disso, houve
embates e discussões acerca da viabilidade de algumas práticas. O Concílio de
Jerusalém (At 15) é um exemplo claro disso. Esses debates visavam estabelecer
os limites entre a lei judaica e a espiritualidade cristã. Isto porque, naquela
época, a maioria ainda via a lei como elemento determinativo de sua
religiosidade, dado que o Novo Testamento ainda não havia sido escrito.
Assim, na comunidade de Jesus Cristo, “logo surgiu o costume
do jejum regular como imitação do costume judeu de jejuar dois dias por semana;
mas, para essa comunidade, esse costume tampouco constituía um sinal de ascese,
isto é, um meio de atingir a santidade” (BULTMANN, 2005, p.110). Essa assimilação
de práticas judaicas foi tão forte que em um manuscrito não canônico chamado
didaqué (escrito perto do final do primeiro século), tanto o jejum quanto a
oração foram normatizados com base na cultura judaica.
Acerca do jejum, o manuscrito mencionado traz a seguinte
declaração: “Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles
jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto
dia e no dia da preparação (sexta-feira)” (Did. 8.1). Esta frase refere-se,
claramente, ao costume farisaico de jejuar duas vezes na semana (Lc 18.12), na
segunda e na quinta. A fim de evitar comparações, os cristãos primitivos deveriam
jejuar na quarta e na sexta. A mesma orientação é dada na Didascalia Apostolorum, documento redigido no início do terceiro
século d.C.
Não se trata, no entanto, de uma apropriação cultural, mas de
enxergar o cristianismo como continuação do judaísmo. Isto é tão evidente que,
no mesmo capítulo do referido livro, os leitores são orientados a orar três
vezes ao dia, tal como faziam os judeus. “Não ore como os hipócritas, mas como
o Senhor ordenou em seu Evangelho. [...] Orem assim três vezes ao dia” (Did.
8.2,3). Jesus e seus apóstolos não ordenaram nada disso! Inclusive, no
evangelho de João, escrito no final do primeiro século, quando “as relações com
o judaísmo tinham-se deteriorado até o ponto de ruptura” (HULL, 1988, p. 238),
a abstinência alimentar com fins religiosos nem ao menos é mencionada. Isto,
certamente, é resultado do desenvolvimento de uma teologia marcadamente cristã,
fundamentada no Antigo Testamento, mas divorciada do judaísmo.
Outro manuscrito apócrifo, conhecido como “epístola de
Barnabé” (escrito entre 134 e 135 d.C), pertencente ao códice sinaiticus (cerca
de 350 d.C), um dos exemplares mais antigos das Escrituras, trata do jejum nos
mesmos termos do profeta Isaías, destacando que o que agrada a Deus não é a
mera abstinência de comida, mas a prática diária da justiça. O mesmo é afirmado
em outro livro apócrifo, também presente no códice sinaiticus, denominado “o
pastor de hermas” (Escrito entre 142 e 155 d.C).
Ao nos voltarmos para as Escrituras neotestamentárias,
verificamos também que, fora os evangelhos, há várias ocorrências da palavra
jejum, mas em nenhuma delas jejuar aparece como uma ordenança para a igreja. Em
Atos dos apóstolos, por exemplo, encontramos uma referência direta ao dia da
expiação (At 27.9), o que não constitui uma ordenança, uma vez que essa
cerimônia perdera seu valor após o sacrifício vicário de Cristo. Da mesma
maneira, por ocasião do comissionamento de Paulo e Barnabé para o campo
missionário, é relatado que os crentes antioquenos jejuavam enquanto cultuavam a
Deus (At 13.1-4). Obviamente, por ser um texto narrativo, apenas relata aquilo
que alguns dos primeiros cristãos faziam (os quais eram, em sua maioria, de
origem judaica). Lembre-se: um texto narrativo não é necessariamente normativo.
Não há indicação alguma no livro de Atos de que devamos imitar o procedimento daqueles
cristãos. Este não era o propósito do texto, mas sim destacar a chamada
missionária de Paulo e Barnabé. Se tivéssemos que jejuar simplesmente porque
eles jejuaram, teríamos de rapar a cabeça também, pois Paulo rapou (At 18.18).
Você percebe o absurdo que é?
O mesmo acontece em relação ao jejum de Cornélio. Porque,
conquanto fosse gentio,
No decorrer de sua
carreira militar, Cornélio havia se inteirado da religião judaica e a havia
abraçado como alguém temente a Deus. Isso quer dizer que ele frequentava os cultos
dos sábados na sinagoga local e observava o sábado como dia de descanso.
Cumpria as leis judaicas de restrições alimentares, dava generosamente
contribuições materiais para aliviar as necessidades dos pobres e orava diariamente
em determinados horários No entanto, não consentia com a circuncisão e o
batismo e se abstinha de oferecer sacrifícios. Desse modo ele seguia o exemplo
de inúmeros gentios que adoravam a Deus, mas não eram admitidos na comunidade
judaica (KISTEMAKER, 2003, p. 485).
Essa
tensão entre a fé judaica e outras etnias, acabou adentrando a igreja
primitiva. Assim, a fim de delimitar o que era exclusivamente para o judeu e o
que englobava os cristãos gentios, foi convocado um concílio na cidade de
Jerusalém. Naquela ocasião, ficou estabelecido que os aspectos exteriores da
lei, como a circuncisão, não seriam observados pelos gentios. Estes, porém,
teriam de se abster dos elementos fundamentais do paganismo: os alimentos
oferecidos aos ídolos, a imoralidade sexual, animais estrangulados e o consumo
de sangue. Veja: nessa relação não aparece nenhuma orientação sobre o jejum.
Afinal, ele pertencia à lei cerimonial, a qual fora extinta de uma vez por
todas por Jesus Cristo. Por consequência, todo o ritualismo veterotestamentário
deve ser extirpado da igreja. A fé cristã não deve ser ritualista, exterior,
mas viva, plena, interior. Devemos circuncidar os prepúcios de nossos corações
(Dt 10.16)!
Contudo, muitos pensam que, já que o apóstolo Paulo
jejuou, os cristãos atuais devem praticar o jejum. Apesar disso, os textos
citados para justificar os “jejuns paulinos”, na realidade, não os justificam.
Senão vejamos: em Atos 9.9, embora alguns digam que o apóstolo jejuou, a
palavra grega traduzida como jejum (nēsteia) não é empregada. Utiliza-se apenas esthío (comer) e píno (beber). Porquanto, “sua abstinência não foi uma forma de
exercício espiritual. Mas devido a um estado de choque, consequente à
experiência recente” (SMITH, 1994, p. 79).
A mesma ideia está presente nos outros dois textos em que
Paulo diz ter jejuado. Em 2Coríntios 6.5, posto que o grego nēsteia apareça, pelo contexto podemos
facilmente depreender que a relação apresentada diz respeito às “dificuldades que Paulo arrostava voluntariamente,
ao se desempenhar do seu ministério” (BEASLEY-MURRAY, 1988, p. 66), e não a uma prática cultual. O apóstolo sofreu
de fato fome. Isto foi relatado aos coríntios em sua primeira carta (1Co 4.11).
Em 2Coríntios 11.27, nos deparamos com um texto paralelo
ao supracitado. Por conseguinte, como dissemos acima, ainda que o termo técnico
para jejum (nēsteia) seja empregado, não se trata de uma observância
religiosa. “Ele suporta essas privações pela causa de Cristo, não no sentido de
jejum voluntário, mas por penúria. Contudo sabe que não tem motivo para se
preocupar, porque Deus satisfará todas as suas necessidades” (KISTEMAKER,
2003b, p. 550).
Finalmente, concluímos que não há no Novo Testamento nenhuma
ordem relativa à observância do jejum. Por outro lado, existem ordens sobre a prática
da oração (1Ts 5.17), do batismo (Mt 28.19), da Ceia (Lc 22.19) e do estudo das
Escrituras (2Tm 2.15). Se fosse tão importante quanto alguns advogam, com
certeza, algo seria dito a respeito. Fiquemos, portanto, com o jejum de Isaías
58. Este, sem dúvida, agrada o Senhor.
7- CONCLUSÃO
Confesso que, ainda que entendesse o
jejum como um rito válido para os cristãos, teria dificuldades para jejuar, uma
vez que não encontraria motivação para fazê-lo. Nenhuma das justificativas
apresentadas por quem jejua é suficiente para legitimar a prática. Não dá para
encaixá-la na Nova Aliança. Afinal, conforme foi sublinhado, o dia da expiação,
cerimônia à qual o jejum estava atrelado, já findou.
Muito
mais do que um momento de abstinência, o cristão deve oferecer-se por completo no altar do Senhor (Rm 12.1), abstendo-se, não de
comida, mas de toda a aparência do mal (1Ts 5.22). Não precisamos de ritos para
nos aperfeiçoarmos na fé, só de Cristo e de Sua Palavra. “Porque, com uma só
oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10.14). “A comida, porém,
não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos,
nem melhores se comermos” (1Co 8.8).
Os
sacrifícios que Deus requer de nós não são mais físicos, como no Antigo
Testamento, são espirituais (1Pe 2.5). Os aspectos exteriores da lei
(circuncisão, jejum) ficaram para trás. Tudo o que fazemos agora deve ser para
glória dEle! Não podemos viver de momentos. “Portanto, quer comais quer bebais,
ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”.
Todavia,
se, mesmo assim, você quiser jejuar, tudo bem. Como ressaltamos acima, Jesus
não proibiu a prática. Porém, lembre-se: é algo desnecessário. Ninguém vai
“alcançar uma bênção” ou “se tornar mais santo” porque jejuou. É Deus quem nos
aperfeiçoa (Fp 1.6), não nós. É bem mais neotestamentário orar, visto que a
oração expressa a completa dependência do Senhor. Apenas pedimos, Ele faz se
quiser. Assim, respondendo ao questionamento que intitula este artigo, declaro:
- o jejum é uma prática da lei. Não cabe na ambiência da graça.
Pr. Cremilson Meirelles
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[1] Seitas pagãs caracterizadas por
cerimônias secretas, somente conhecidas por aqueles que se submetiam a um
ritual de iniciação.
[2] Há quem defenda, porém, que o
jejum originou-se como rito funerário.
[3] Seita judaica que cresceu entre os séculos 1 a.C. e 1
d.C., e que formava a terceira importante escola de
pensamento nos tempos de Cristo (com os fariseus e saduceus).
[4] Certamente, João Batista já
havia sido preso.
JEJUM: PRÁTICA DA LEI OU DA GRAÇA?
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Pr. então quando os apóstolos no novo testamento, na Igreja Primitiva, que é descrita em Atos 13 e 14, jejuavam eles estavam sob a velha aliança?
ResponderExcluirO tópico 6 do artigo responde sua pergunta.
ExcluirO artigo é importante uma vez que jejuar tem sido considerada por muitos como uma disciplina espiritual importante, muito embora com objetivos equivocados, como foi dito na conclusão. Agradeço pela contribuição nesse estudo. Gostaria de indagar apenas com base nessa declaração: "Na atualidade, o número de críticos do dízimo e da igreja, enquanto realidade institucional, tem se multiplicado. Suas argumentações estão espalhadas pela internet, em redes sociais, blogs e sites. Nelas, os polemistas afirmam categoricamente que tanto o dízimo, quanto as instituições são elementos estranhos ao Novo Testamento. Seguindo esse raciocínio, acusam os que discordam de suas opiniões de serem alienados, imbecis, burros, manipulados ou manipuladores." >>
ResponderExcluirDevo entender que o caro pastor discorda das argumentações apresentadas sobre a questão do dízimo no AT?
Contudo gostaria de deixar o convite ao meu blog, pelo que adianto os meus agradecimentos.
http://agenuinateologia.blogspot.com.br/2017/02/a-lei-do-antigo-testamento-segundo-o.html
A intenção ao destacar as críticas ao dízimo e ao aspecto institucional da igreja, foi sugerir que o jejum, embora seja uma prática veterotestamentária, é tida como preciosa e válida, até mesmo por aqueles que condenam as práticas da Antiga Aliança.
ExcluirNão obstante, se quiser saber o que penso sobre o dízimo, leia os textos listados abaixo:
http://pastorcremilson.blogspot.com.br/2015/07/dizimo-o-que-e-isso-parte-i.html
http://pastorcremilson.blogspot.com.br/2015/08/dizimo-o-que-e-isso-parte-ii.html
http://pastorcremilson.blogspot.com.br/2015/08/dizimo-o-que-e-isso-parte-iii.html
http://pastorcremilson.blogspot.com.br/2015/08/dizimo-o-que-e-isso-parte-iv.html
http://pastorcremilson.blogspot.com.br/2015/08/dizimo-o-que-e-isso-parte-v.html
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom,sempre desacreditei da eficiência do jejum,pois não se faz certo ao acreditar que a ação humana possa sobrepujar a Graça de Deus.Quantos aos dízimos e ofertas citados creio serem bíblicos, nada que ao concedente lhe permita obter favores maiores de Deus. Estes existem por serem ,de fato,dmiministrativos.No Antigo Testamento, como é sabido,os sacerdotes(exclusivos servos de Deus) sobreviviam e mantinham a casa do Senhor através deles.Claro que, hoje em dia, há muitos pastores e bispos que têm profissão, na qual podem trabalhar,o que muitos o fazem com gosto.Porém, havendo uma minoria que apelando para sacríficios monetários (citando a Lei),se tornam um fardo nas costas dos fiéis,na busca de uma vida luxuosa.Artifícios utilizados, há que ,incontáveis que são, não tem a conveniência da questão em mérito.Quanto aos crente sem igreja,há muitos, por fato de certas igrejas serem prostitutas por se corrompereídolose se comprometerm com valores temporais.Porém a Igreja de Cristo, é instituição divina e Imaculada que serve a propósitos divinos.A igreja instituição temporal deveria ter como foco o reino e sua justiça.Então,sendo a Igreja espiritual sublime em incorruptibilidade e, a corrupção da igreja terrena,em confronto com esta.Podemos chegar a uma conclusão conflitante:É possivel se estar na igreja e fora da Igreja ao mesmo tempo?Isso mesmo?!Mas cabe a cada um a sua própria salvação.Que muito pouco tem a ver com a instituição terrena ou ensinamentos ou fé de pastores,não é? É sim um caso de fé própria e relação pessoal com Deus.
ResponderExcluirSobre Comida sacrificada a ídolos ,o apóstolo Paulo diz em 1 Coríntios 8 (pondo fim às superstições_mas não devemos escandalizar os irmãos ,se eles mais forem superstiosos serão melhor massa de manobra):
1 E agora no que respeita ao comer alimentos que tenham sido sacrificados aos ídolos: Cada pessoa acha que a sua resposta é que está certa. Mas ainda que a fama de muito sabedoria torne as pessoas importantes, o que realmente é construtivo é o amor.
2 Se alguém pensa que tem a resposta para todas as questões, não está mais do que a revelar a sua ignorância.
3 E uma pessoa que ama Deus é aquela que Deus conhece e de quem ele cuida.
4 Portanto, quanto a esse assunto: Devemos nós comer carne sacrificada previamente aos ídolos? Bem, nós sabemos que um ídolo não é coisa nenhuma. Só existe um Deus, e nenhum outro.
5 Segundo muita gente, existe uma quantidade de deuses, tanto nos céus como na terra.
6 Contudo sabemos bem que há um só Deus, o Pai, a quem pertencem todas as coisas, e que nos fez para sermos dele; e também um só Senhor, Jesus Cristo, que criou igualmente todas as coisas e nos dá a vida.
7 No entanto alguns cristãos não compreendem isso. Durante toda a sua vida habituaramse a pensar que a comida oferecida aos ídolos é realmente consagrada a deuses reais. E agora ao comerem tais alimentos isso perturbaos e fere a sua consciência sensível.
8 É verdade que não alcançamos o favor de Deus por aquilo que comemos. Não nos tornamos piores por não comermos, nem melhores por comermos.
9 Mas tenham cuidado ao usarem dessa liberdade de comerem seja do que for, para que não levem a pecar algum irmão cristão cuja consciência seja mais fraca.
10 Vejam o que pode acontecer se um crente fraco, que pensa ser mal comer desse tal alimento, vos vir a comer num templo de ídolos. No fundo vocês sabem que não há mal nisso, mas ele será encorajado a violar a sua consciência, comendo aquilo que foi dedicado a um ídolo, embora continuando a sentir que está a fazer mal.
11 Dessa maneira vocês, que sabem não haver mal nisso, tornamse responsáveis pelo dano espiritual causado a esse irmão cuja consciência é fraca, mas por quem Cristo, afinal, também morreu.
12 E pecar contra um irmão vosso, dandolhe ocasião de fazer algo que ele pensa ser errado, é pecar contra Cristo. 13 Portanto, se o comer carne que tenha sido consagrada aos ídolos fizer com que o meu irmão em Cristo venha a pecar, nunca mais tomarei desse alimento para não ser uma razão de ele cair.
Obrigado.
Agradeço pelas colocações. Continue acompanhando o blog. Há diversas postagens interessantes.
ExcluirAcerca dos dízimos e ofertas, por exemplo, recomendo a série de pastorais intitulada "é certo dar dinheiro para a igreja?"
Para lê-la, basta utilizar este link: http://pastorcremilson.blogspot.com.br/2017/10/e-certo-dar-dinheiro-para-igreja-parte-i.html
Pastor Cremilson, graça e paz. Sou o Bp. Paulo Tavares preciso de seu email para solicitar uma autorização.
Excluirobrigado. bispopaulotavares@gmail.com. Obrigado .
Meu e-mail é prcremilson@hotmail.com
ExcluirJá comecei a ler. obrigado.
ResponderExcluirobrigado, me esclareceu bastante coisas, Deus vos abençoe.
ResponderExcluirFico feliz em poder ajudar. Continue acessando o blog. Há outros textos bastante relevantes.
ExcluirAinda sobre o favor através de alguma obra. Pastor Cremilson, aqui o senhor diz:
ResponderExcluirÉ bem mais neotestamentário orar, visto que a oração expressa a completa dependência do Senhor. Apenas pedimos, Ele faz se quiser.
...Ele faz se quiser. Em 1Jo 5.14 diz "14 E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve."
Ele quer nos direcionar a um pedido ao qual a resposta é garantida. Logo concluimos que a muitas coisas ao qual Deus quer nos dar eespera o nosso pedido. Entre tantas e que não sao para esbanjar esta o pedido: Livrai-nos do mal e não nos deixe cair em tentação ou até concede-me o teu Espírito Santo. Entre tantos pedidos vindo como um sopro da parte de Deus. Ele da sabedoria!
Foi muito edificante para mim,sempre pensei da mesma maneira que o pastor discorreu sobre o assunto.Me sinto aliviada por nao carregar mais está dúvida.
ResponderExcluirSempre pensei eu sendo mae,me preocupo e não gosto de ve meu filho acordar e ficar sem se alimentar,por que o meu Pai gostaria diase?
Se Jesus já fez todos os sacrifícios perfeitos por nos,ele jejuou perfeitamente e vende eu satanás,Jesus fez tudo,está tudo consumado.
Por que a religião ensina que devemos nos sacrificar ainda?Cristo Jesus está vivo!
Não há mais lamentos,Ele ressuscitou,Ele venceu!
Não jejuou e não pretendo jejuar,pois nao entra no meu entendimento a lei mais!
Obrigada pelo blog pastor,deixarei meu e mail e por gentileza gostaria muito de receber matérias se houver está disponibilidade.
Muito obrigada!
Que a graca e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo seja com você e sua família.
Venceu satanas*
ResponderExcluirPeço desculpas, digitei rapidamente e não estou conseguindo fazer as correções ortográficas.
paulahdnovalima@gmail.com
ResponderExcluirOlá pagraça.Me chamo Felipe. Seu artigo foi luz para mim. Já há algum tempo tenho questionado no meu coração sobre o jejum.
ResponderExcluirPrincipalmente pelo seu principal objetivo que era a humilhacao. E não moeda de troca.
O senhor concorda que Mateus 17.21 é acréscimo?
Particularmente penso que sim, principalmente analisando o contexto da passagem, onde Jesus quer ensinar sobre a fé que "move montanhas".
Paz e graça.
Olá Felipe. Fico feliz por poder contribuir para sua reflexão e edificação. Em relação à Mateus 17.21, não acredito que seja acréscimo. Mencionei essa teoria no texto como uma possível linha teológica. Na verdade, me alinho mais com os defensores do textus receptus.
ExcluirObrigado pela resposta pastor. Vou procurar sobre o textus receptus. Felipe
ExcluirBoa noite! Abençoados com toda sorte de benças.Fiquei em duvida somente sobre BATISMO E CEIA na Graça.
ResponderExcluirBoa noite! No que diz respeito ao versículo que diz que essa casta de demônios não sai se não com jejum e oração, vale lembrar que as bíblias antigas têm a palavra jejum dentro de colchetes, significando que a palavra não faz parte do original. Infelizmente as traduções atuais retiraram os colchetes e com isso as pessoas pensam que a palavra jejum faz parte do texto, quando não é verdade.
ResponderExcluirBoa noite. Obrigado pelo comentário.
ExcluirEm relação aos colchetes presentes em algumas versões, é importante destacar que eles só aparecem nas versões do Novo Testamento que utilizam o "Texto Crítico", uma edição do texto grego produzida por Eberhard e Erwin Nestle e Kurt Aland a partir da comparação de 5 manuscritos reconhecidos como mais antigos.
Mas existe uma outra edição do texto grego conhecida como "Textus Receptus", uma obra baseada nas edições de Boaventura Elzevir e Abraão Elzevir, realizadas no século XVII. Esse texto é confirmado por mais de 5.000 manuscritos e mantém todos os trechos envolvidos por colchetes na versão de Nestle e Aland. Isto é, onde Nestle e Aland dizem que não está no original o Textus Receptus diz que está.
Algo para refletir.