Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Como afirma o escritor Adolf Pohl, “para a interpretação das duas
testemunhas inicialmente deixamos de lado o número dois”. Até porque, conforme
destacamos na pastoral anterior, o apocalipse é um gênero literário que emprega
uma linguagem essencialmente simbólica. Isto fica evidente na abrangência da
proclamação das testemunhas. Seus alvos são “homens de vários povos, e tribos,
e línguas, e nações” (Apocalipse 11.9), ou seja, todos “os que habitam sobre a
terra” (Apocalipse 11.10). Como, pois, dois homens apenas, poderiam pregar o
Evangelho a um grupo tão amplo?
É importante ressaltar também que, no Antigo Testamento, todo o povo de
Israel é identificado como testemunhas do Senhor (Isaías 43.10). Contudo, o
texto do Apocalipse não se refere ao Israel físico, mas, sem dúvida, aponta
para o Israel espiritual (Gálatas 3.29; 6.16). Afinal, em apocalipse 11.8,
diz-se que o “seu Senhor foi crucificado”. Como o Israel físico não tinha
Cristo como Senhor, concluímos que as duas testemunhas são, na verdade, um
recurso simbólico para referir-se à Igreja.
Outro detalhe a ser observado, é a afirmação de que as duas testemunhas
“são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra”
(Apocalipse 11.4). Este versículo constitui uma clara referência à visão
profética registrada em Zacarias capítulo 4, onde as duas oliveiras são
identificadas como “os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a
terra” (Zacarias 4.14). Esta imagem alude a Zorobabel, o governador de Israel,
e Josué, o sacerdote, homens que viveram no tempo de Zacarias, os quais
representavam o povo que regressara do cativeiro na Babilônia. Eles são as duas
oliveiras citadas pelo profeta.
Todavia, em Zacarias 4.2,3, as duas oliveiras são mencionadas próximas a
um único castiçal, contrariando Apocalipse 11.4, que fala de “dois castiçais”,
os quais alguns identificam como sendo dois profetas. No entanto, o castiçal de
Zacarias não representa pessoas. Ora, já que Apocalipse 11 toma por base o
texto de Zacarias, não dá para levar ao pé da letra e dizer que os castiçais
são dois homens. Mas o que são então?
No livro de Zacarias, o castiçal, objeto usado para iluminar o santo
lugar (parte do tabernáculo onde os sacerdotes partiam o pão da proposição),
representa o testemunho que o templo e a comunidade judaica davam acerca do
Senhor. Porquanto, o azeite de oliva posto no castiçal visava difundir a luz e
dispersar as trevas. Dessa forma, como explica a escritora Joyce G. Baldwin,
“[...] através da vida e do culto diários o povo deveria ser uma luz para
outros”.
De igual modo, Jesus, após chamar seus discípulos de “luz do mundo”,
orienta-os a resplandecerem sua luz aos homens por meio das obras, a fim de
glorificar o Pai (Mateus 5.14-16). Por isso, a igreja é chamada de castiçal no
apocalipse, pois, por intermédio do testemunho do Corpo de Cristo, as trevas
são dissipadas. Porque, conquanto a única luz verdadeira seja o próprio Jesus
(João 8.1), Ele decidiu fornecer Sua luz ao mundo através de Sua igreja.
Vale salientar ainda que as duas testemunhas são retratadas no Apocalipse
vestidas de pano de saco (11.3). No Antigo Testamento, os profetas se vestiam
assim a fim de protestar contra um pecado do povo e chama-lo ao arrependimento,
ressaltando a vinda do juízo iminente. É exatamente isso que a igreja faz ao
longo de toda a sua existência. Por essa razão, o texto diz que as testemunhas
“profetizarão por mil duzentos e sessenta dias”. Isto é, a igreja seguirá
proclamando o Evangelho no período compreendido entre a primeira e a segunda
vinda de Cristo.
Pr. Cremilson Meirelles
QUEM SÃO AS DUAS TESTEMUNHAS DO APOCALIPSE? PARTE II
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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