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POR QUE NÃO FALAMOS LÍNGUAS ESTRANHAS? PARTE XII



Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa





Após refletirmos bastante sobre 1Coríntios 14.2, ainda resta uma questão: o que o apóstolo quis dizer com a palavra “mistério”? Muita gente pensa que isso tem a ver com respiração forte, arrepios e pulos. O curioso é que não encontramos nada disso nas Escrituras. Aliás, se observarmos atentamente o texto em questão, veremos que, em momento algum, aparece a expressão “em mistério”. Ele diz que quem fala “língua estranha” fala “de mistérios” ou “fala mistérios”, de acordo com algumas versões.  Portanto, não existe esse negócio de falar “em mistério”.
Além disso, no Cristianismo, o termo “mistério”, ao contrário do que alguns pensam, dá a ideia de segredos desvendados. O Filho de Deus, por exemplo, é “o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos” (Colossenses 1.26). Isto é, Jesus era o segredo que esteve escondido desde a eternidade, mas que foi revelado. Logo, podemos concluir que, na Bíblia, “mistérios” são segredos temporários, e não manifestações de “línguas estranhas”. Assim, quando Paulo diz que o indivíduo fala de mistérios, refere-se ao fato de que, como ninguém o entende, o que ele profere é um segredo, um mistério. Contudo, trata-se de algo desvendado para Deus, pois só Ele consegue compreender as emoções humanas.  
Seguindo esse pensamento, o apóstolo ressalta algo extremamente óbvio: seres humanos precisam de línguas de seres humanos. Essa ideia fica bem clara em sua declaração: “o que fala língua estranha não fala aos homens [...] mas o que profetiza fala aos homens” (1Coríntios 14.2,3). Por isso, ele afirma que a profecia é superior às “línguas estranhas”. Porque é falada em um idioma que os seres humanos conseguem entender. Já as famosas “línguas estranhas”, definitivamente, são estranhas. Porquanto, embora houvesse membros da igreja coríntia que falavam outros idiomas, ninguém compreendia aquelas línguas. Tratava-se de um “dom” que não cumpria sua função, uma vez que a língua (como idioma) tem a função de, através de códigos linguísticos, expressar aquilo que o indivíduo pensa. Ora, se no uso das “línguas estranhas” nem a própria pessoa sabia o que estava falando, não havia utilidade alguma nisso. O raciocínio era suplantado pelo êxtase emocional, ferindo frontalmente o preceito registrado em 1Coríntios 12.7: “mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”.
Apesar disso, pode ser que alguém, querendo defender essa prática, tente justificá-la, dizendo: “todas as vezes que vi alguém falando línguas estranhas havia intérprete”. Todavia, sinto informar que a experiência não pode servir de base para criar uma doutrina. Além do mais, com a interpretação, Paulo estava, claramente, tentando inibir os faladores de línguas. Foi com esse intuito que ele disse: “o que fala língua estranha, ore para que a possa interpretar” (1Coríntios 14.13). Porque, se eu consigo interpretar as esquisitices que falo, qual a razão para continuar falando em uma linguagem que ninguém (nem eu) compreende? Seria loucura.
 Outra contradição dos faladores de línguas é o uso da expressão “língua dos anjos”. Porquanto, se quem fala “línguas estranhas” só é compreendido por Deus, e não pelos anjos, por que usar “língua dos anjos” e não “língua de Deus”? A coisa piora ainda mais se alguém disser que Deus compreende a língua dos anjos porque, sendo Deus, é capaz de entender qualquer idioma; visto que, se é assim, por que não podemos falar em nossa própria língua? A resposta é uma só: para massagear o ego humano. Foi isso que Paulo quis dizer com “edifica-se a si mesmo”.

  Pr. Cremilson Meirelles


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