Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Ainda analisando 1Coríntios 14.2, é
necessário esclarecer alguns termos que aparecem no texto, pois alguns deles,
aparentemente, dão margem para os faladores de línguas estranhas. Um desses casos
é a expressão “em espírito”. Será que Paulo estaria se referindo ao êxtase
caracterizado por manifestações que se assemelham às práticas das religiões de
origem africana? Acredito que não. Porquanto, quando observamos o uso da
palavra “espirito” no Novo Testamento, verificamos que em diversos trechos ela
é empregada com referência às emoções humanas. Em 2Coríntios 2.13, por exemplo,
o apóstolo afirma que seu “espírito” estava intranquilo. Em Atos 17.16, é dito
que o espírito de Paulo se revoltou (ou se “comoveu”, conforme algumas
versões). De igual modo, em Lucas 1.47, Maria declara que seu “espírito” se
alegra.
Levando em conta essas passagens,
creio que é dessa maneira que Paulo utiliza a expressão, ou seja, como
referência ao estado emocional do indivíduo. Isto é, Paulo diz que quem fala
línguas estranhas é movido pelas emoções. Isto fica bem claro quando ele
contrapõe “espírito” e “entendimento”, em 1Coríntios 14.14,15, argumentando que
se alguém ora em línguas estranhas o espírito ora bem, o entendimento, porém,
fica sem fruto. Por causa disso, o correto seria orar com o espírito e com o
entendimento. Assim, ele deixa bem claro que o falar línguas estranhas não é um
ato da razão, mas da emoção. O indivíduo, movido pelo êxtase, fala coisas que
ninguém entende.
Além disso, não há nenhum indício de
que a expressão “em espírito” seja uma referência ao Espírito Santo, conforme
defendem alguns. Seria até incoerente crer dessa forma, visto que mais adiante
Paulo deixa bem claro que o “espírito” do qual fala é o espírito humano, uma
vez que, no versículo 14, o apóstolo declara: “[...] Porque, se eu orar em
língua estranha, o meu espírito ora bem [...]”. Note que ele diz “o meu
espírito”, e não o Espírito Santo.
É importante salientar também que se o
“falar línguas estranhas” fosse um dom espiritual que permitisse que o
indivíduo falasse em código com Deus e isso fosse benéfico, não haveria
necessidade alguma de interpretação. Afinal, se a pessoa está falando com Deus,
por que deveria interpretar sua “conversa”? Qual a razão para tornar pública
uma oração particular? Lembre-se: o apóstolo está falando sobre “orar em
línguas estranhas”. Pra que interpretar uma oração? Se ela é pública e, por
conseguinte, diz respeito a todos os presentes, seria mais fácil orar numa
linguagem que todos entendessem! Era isso que Paulo estava questionando.
Com suas indagações, o apóstolo
tentava mostrar aos cristãos coríntios que aquilo que eles consideravam divino
e imprescindível era, na verdade, pagão e desnecessário. Continuar com aquela
prática seria uma tremenda contradição. Era um falso dom, algo que não servia
para nada. Por isso, ele diz que o “falar línguas estranhas” não se aproveita
para nada. Ora, ele não havia dito que quem profere “línguas estranhas” fala a
Deus? Como agora ele afirma que o dom, sem a interpretação, não serve para
nada? Simples: porque o “dom” dos coríntios não era dom de verdade, Deus
compreendia suas emoções quando falavam aquelas línguas, mas o “dom” não servia
para nada. Até porque, ninguém poderia interpretar aquela língua. A
possibilidade de interpretação é ventilada apenas para impedi-los de falar as
“línguas estranhas”.
Pr.
Cremilson Meirelles
POR QUE NÃO FALAMOS LÍNGUAS ESTRANHAS? PARTE XI
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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