Há 497 anos, em 31 de outubro de 1517,
Martin Lutero pregava suas 95 teses na porta da catedral do palácio de
Wittenberg, na Alemanha, o que se tornou o marco da Reforma Protestante.
Naquela ocasião, o monge alemão expressou sua insatisfação com a postura
eclesiástica da época, que privilegiava a tradição e os dogmas em detrimento
das Escrituras.
Ao contrário do que alguns pensam e
apregoam, entretanto, Martin Lutero não estava isento dos erros que
caracterizavam a estrutura que criticava. Afinal de contas, ele era oriundo
daquele sistema, um homem do seu tempo. Por conta disso, ao analisar suas
teses, pode-se perceber que o monge cria no purgatório (Tese nº 17). Mesmo
assim, Lutero deu um passo gigantesco em direção à liberdade dos grilhões
romanos, lançando as bases para a fé reformada.
Não obstante, Lutero não foi o único
reformador. Desde o século XIV, já havia um movimento de retorno às Sagradas
Escrituras, cujos ícones foram perseguidos e assassinados. Dentre estes,
destacam-se John Wycliffe, John Huss e Jerônimo Savonarola, os quais defendiam
a Bíblia como única regra de fé e prática e Cristo como o único mediador. Todos
eles contribuíram significativamente para a reforma do século XVI.
De um modo geral, os reformadores
defenderam cinco princípios fundamentais, expressos por meio de cinco frases
latinas, que se tornaram os pilares da Reforma Protestante, a saber: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Fide,
Sola Gratia e Soli Deo Glória. Porquanto, para eles, a Escritura era a
palavra final em matéria de fé e prática, Cristo era o único mediador entre
Deus e os homens, a salvação só era possível pela graça por meio da fé e toda
glória deveria ser creditada somente a Deus.
Ao longo dos séculos, esses foram os
princípios que nortearam a fé protestante em todo o mundo. No entanto, a partir
do século XX, gradativamente os fundamentos foram sendo abandonados. Com o
surgimento de “novas revelações” e “novos movimentos”, os pilares da reforma
foram esquecidos, dando lugar a uma fé supersticiosa e baseada exclusivamente
na experiência. Com isso, o misticismo característico da religiosidade popular
adentrou os templos das igrejas, desfigurando o protestantismo tradicional,
transformando-o no evangelicalismo moderno.
Como resultado disso, doutrinas como a
confissão positiva, maldições hereditárias e a teologia da prosperidade se
tornaram os novos pilares. Sua força e influência foi tão grande que pastores e
líderes dos mais diversos segmentos acabaram cedendo aos seus apelos heréticos,
abrindo mão da Escritura a fim de validar a nova ortodoxia.
Por conseguinte, os defensores dos
princípios da reforma se tornaram minoria e passaram a ser vistos como hereges.
Porquanto, embora a maior parte do povo evangélico, atualmente, declare crer
nos cinco solas, na prática a maioria já os abandonou. Até porque, não dá para
dizer “eu profetizo sobre sua vida” sem violentar o princípio de Sola Scriptura. Aliás, não dá para
defender a confissão positiva se esse princípio for observado. Além disso, no
contexto atual, fica difícil dizer Solus
Christus, visto que há um endeusamento dos líderes eclesiásticos, chamados
com frequência de “ungidos do Senhor”. Estes são tratados como mediadores. A
oração deles é mais forte, a palavra é mais poderosa, os ritos que promovem são
mais eficazes. O princípio do sacerdócio universal de todos os crentes já caiu
por terra há muito tempo.
Soli
Deo glória também
já foi abandonado há bastante tempo. A glória e a honra hoje em dia são creditadas
às denominações e aos homens que as presidem. Parece que o poder está com eles,
e não com Deus. É... voltamos à Idade Média. Igualmente, Sola Fide tornou-se completamente inaplicável, haja vista que o
conceito atual de fé é totalmente deturpado. Fé passou a ser o mesmo que
pensamento positivo. Ter fé é acreditar firmemente que algo vai acontecer. Não
precisa nem crer em Deus, basta crer que o que você deseja lhe será concedido
que... puf... a bênção virá. Eu hein!
Sola
Gratia nem
encontra espaço nesse contexto. Na verdade, salvação não é uma das preocupações
dos evangélicos. O mais importante é receber a bênção. O que se busca é o aqui
e o agora. Céu e inferno não fazem mais parte do discurso. As pessoas acham que
estão salvas porque vão muitas vezes ao templo e participam de todas as
programações. Ledo engano.
Precisamos voltar às raízes de nossa fé.
Como afirmou certa vez Hernandes Dias Lopes, não precisamos de um avivamento,
mas de uma nova reforma. É necessário resgatar os fundamentos do protestantismo
e abandonar a teologia putrefata do neopentecostalismo. Senão, estaremos
fadados a sermos consumidos por esse vírus até que não haja mais vida no corpo.
Pr.
Cremilson Meirelles
PRINCÍPIOS ABANDONADOS
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A paz do Senhor!!! Por favor me tire uma dúvida: Quem foi a mãe de Mefiboset, já que ele foi órfão. Assisti a um filme na Record que aparecia uma Celina que morreu no parto de Mefiboset... procede essa história?
ResponderExcluirCaro Aurino, a Bíblia não diz o nome da mãe do filho de Jônatas. O único Mefibosete que a mãe é citada na Bíblia é o filho de Saul (2Sm 21.8), que era irmão de Jônatas. Contudo, acerca da mãe do filho de Jônatas nada é dito.
ExcluirAntonio Agustinho da Silva
ResponderExcluirA paz do SENHOR JESUS PASTOR; GOSTARIA DE SABER SE MICA FILHO DE MEFIBOSETE gerou filhos!!! E qual São os nomes deles???
1Cr 8.35 diz que "os filhos de Mica foram: Pitom, Meleque, Taréia e Acaz."
ExcluirOlá, bom dia. Parabéns por mais esse texto. Descordo somente que "É necessário resgatar os fundamentos do protestantismo...", por ser demasiado pretensioso, além de exaltar o marco histórico desnecessariamente, quase que pareando-o com os eventos e importância da Bíblia Sagrada, afinal de contas Sola Scriptura. Acredito que o pastor quis dizer que os fundamentos e princípios cristãos necessitam ser resgatados.
ResponderExcluirEntendo... Contudo, ao referir-me aos "fundamentos do protestantismo" tenho em mente os princípios bíblicos que nortearam aquele movimento.
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