Na atualidade, há uma forte tendência no meio
evangélico de associar o ministério pastoral ao ofício sacerdotal. É possível
que isto ocorra em função da grande valorização dos textos
veterotestamentários, sobretudo entre os pentecostais e neopentecostais. Até
porque, na Igreja neotestamentária, por mais que procuremos, não conseguiremos
encontrar tal ofício. Conquanto Jesus tenha instituído os apóstolos e estes
tenham instituído os diáconos, em momento algum fala-se a respeito de sacerdotes
como líderes cristãos. Até mesmo nas relações de dons e ministérios (Rm 12.5-8;
1Co 12.28; Ef 4.11), onde vemos pastores, evangelistas, profetas e doutores, o
sacerdote não aparece.
Certamente, o ofício sacerdotal não
figura nos textos mencionados porque o Novo Testamento atribui o sacerdócio a
todos os crentes em Cristo. É claro que, nesse contexto, o pastor pode ser
enquadrado como sacerdote. Contudo, vale ressaltar que o aspecto da mediação
implicado na pessoa do sacerdote não pode ser atribuído a nenhum ser humano,
pois conforme assevera a Bíblia Sagrada “[...] há um só Deus, e um só Mediador
entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Tm 2:5). O ofício sacerdotal
apresentado nas páginas do Velho Testamento apontavam única e exclusivamente para
o ministério de Cristo, sacerdote supremo, que ofereceu-se como sacrifício
perfeito para perdão dos nossos pecados, concedendo-nos acesso direto ao Pai.
Defender a idéia de que o pastor é sacerdote é o
mesmo que crer nos santos da igreja católica. Porquanto, os crêem na
intercessão desses seres, advogam que por estarem mais próximos de Deus, o que
pedirem Ele ouvirá. Por conta disso, pedem aos santos para que estes peçam a
Deus. É exatamente assim que muitos crentes agem, ou seja, pedem ao pastor que
ore por eles, pois crêem que a oração de um “sacerdote” tem mais poder, e por
ser “sacerdote” está apto a realizar tal mediação. Para quem pensa assim a
oração do pastor é mais forte do que as dos demais membros. Que absurdo! O pior
de tudo é que alguns líderes incentivam tal pensamento.
Esse raciocínio contraria não só a Bíblia como
também a lógica. Porquanto, da mesma forma que o pastor intercede pelas ovelhas,
estas devem interceder por ele. Ora, como alguém que precisa que orem por ele,
tal como solicitou o apóstolo Paulo (Ef 6.18,19; 1Ts 5.25), terá uma oração
mais poderosa que a dos outros? Não faz sentido. Se a oração do pastor fosse
tão poderosa, não seria necessário que alguém orasse por sua vida, pois sua
própria oração bastaria.
As funções que o texto bíblico atribui aos
sacerdotes, no Velho Testamento, à exceção do ensino, nada têm a ver com as
atividades pastorais. Isto porque, seu ministério estava mais ligado à
apresentação de ofertas e sacrifícios e aos ritos inerentes ao culto judaico. Se
tratava de uma figura associada ao Estado, com alto status social e
extremamente distante do povo. As pessoas não conviviam com eles, como
acontecia no Novo Testamento com Jesus e seus apóstolos, elas precisavam ir até
eles, visto que ficavam no templo. Sacerdotalizar o ministério pastoral é
distanciá-lo do povo, é desumanizá-lo. É justamente por conta disso que surge
uma série de crenças equivocadas acerca dos poderes do pastor. Há quem creia,
inclusive, com base nas bênçãos declaradas pelos sacerdotes, que o pastor
possui poder para abençoar pessoas. Entretanto, nem pastores nem sacerdotes
possuem tal poder. A bíblia afirma claramente no salmo 62.11 “que o poder
pertence a Deus”. Além disso, em Números 6.22-27 quando é proferida a conhecida
“bênção araônica”, embora Deus fale a Moisés que essa seria a maneira de
abençoar seu povo, a declaração diz “O Senhor (não o sacerdote) te abençoe e te
guarde; O Senhor (não o sacerdote) faça resplandecer seu rosto sobre ti, e
tenha misericórdia de ti; O Senhor (não o sacerdote) sobre ti levante o Seu
rosto e te dê a paz”. Amado, nem pastor, nem sacerdote, nem pai, nem mãe tem
poder para abençoar alguém, só Deus pode fazê-lo.
O pastor, na verdade, como evidencia a etimologia
da palavra, tem como função cuidar do rebanho, isto é, apascentar. O pastor foi
comissionado para cuidar de pessoas, não para realizar rituais. Os únicos ritos
que Jesus ordenou que seus ministros observassem foram o batismo e a ceia do
Senhor. Fora isso, o que os pastores precisam é possuir as características
relacionadas em 1Tm 3.1-7, as quais dizem respeito aos aspectos morais e
espirituais inerentes ao ministério pastoral. Cabe ressaltar que, em nenhum
momento são mencionadas, no texto em questão, características ou requisitos
necessários para o ministério sacerdotal. Ademais, não é dito que o pastor terá
super poderes. Sendo assim, podemos concluir que pastor e sacerdote são figuras
pertencentes a contextos totalmente distintos.
Pr.
Cremilson Meirelles
O PASTOR É SACERDOTE?
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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22:42
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Excelente texto. De fato, já observei algumas orações em que o pastor, ou às vezes nem o pastor, o irmão mesmo que realiza a oração, em que proferem os seguintes dizeres: "Irmão Fulano de Tal, EU te abençoo em nome de Jesus".
ResponderExcluirEm oposição a isso, minha avó católica, quando vou até sua casa e lhe peço a bênção, ela diz "Que DEUS lhe abençoe, meu filho"
Realmente, pelo que parece há uma tendência na busca pelo místico, com pretensão de serem deuses, mesmo que em suas ignorâncias.