Apesar de ser um assunto pouco
abordado nas igrejas cristãs, a adoção é um tema recorrente no ensino
neotestamentário. Em Gálatas 4.5, por exemplo, é dito que a redenção outorgada
por meio de Cristo concedeu aos crentes o privilégio de serem adotados como
filhos de Deus. A prova disso, conforme explica o apóstolo, é o envio do
Espírito Santo aos nossos corações (cf. Gl 4.6), o qual, em Romanos 8.15, é chamado
de “Espírito de adoção”.
Essa
filiação fazia parte do plano divino desde a eternidade, pois, “antes da
fundação do mundo” (Ef 1.4), Deus nos elegeu em Cristo “para que fôssemos
santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos predestinou para filhos
de adoção por Jesus Cristo” (Ef 1.4-5). Ou seja, desde sempre Deus tem aprovado
a adoção como expediente legítimo para outorga de uma filiação genuína.
Se é assim, por que então a adoção é
popularmente vista nas igrejas como uma forma inferior de parentalidade? Por
que os adotados são considerados por muitos como filhos postiços? Por que
alguns, inclusive, falam dos adotados como aqueles que alguém “pegou para
criar”, como se não fossem membros da família?
É
claro que não são todos os evangélicos que pensam dessa forma. Entretanto, isso
não muda o fato de que essas perguntas refletem uma perspectiva da adoção que
não parece se alinhar com o ensino bíblico. Afinal, se somos convidados a
sermos imitadores de Deus, como filhos amados (Ef 5.1), deveríamos, à
semelhança do Pai celestial, considerarmos a adoção de crianças como um
expediente válido para o estabelecimento de paternidade e maternidade
verdadeiras.
A
relação análoga entre a adoção espiritual e a adoção legal confirma sua validade.
Uma das similaridades está no fato gerador, visto que ambas são ensejadas pelo
pecado. Evidentemente, uma criança só passa a precisar de uma família adotiva
porque algum dos males decorrentes da queda alcançou seus genitores: morte, vícios,
crimes, miséria, egoísmo etc. Semelhantemente, a adoção divina só ocorre porque
a queda distanciou o homem do Criador e o impediu de salvar-se por meio de suas
obras. Isto é, Deus nos adotou porque doutra maneira estaríamos condenados. Da
mesma forma, sem a adoção, algumas crianças, se sobrevivessem, possivelmente
trilhariam um caminho similar ao de seus genitores ou ainda pior.
Considerando
isso à luz do ensino de Tiago 1.27, deveríamos concluir que uma fé verdadeira
deve mover o indivíduo e a igreja a fazerem algo a fim de ajudar os órfãos. Porquanto,
o texto diz que a verdadeira religião se manifesta por meio do cuidado
dispensado aos órfãos e às viúvas. Seguramente, a adoção é uma das formas de
cuidar de crianças nessa condição. Até porque, seu propósito não é dar filhos
àqueles que não podem gerá-los biologicamente, mas sim acolher crianças em
situação de vulnerabilidade e dar a elas uma família.
Nesse
sentido, a adoção seria uma manifestação da verdadeira religião e um meio para
Deus fazer que o solitário viva em família (Sl 68.6). Afinal, Ele é “Pai de
órfãos e juiz de viúvas” (Sl 68.5). Por essa razão, as igrejas e as famílias
cristãs deveriam se empenhar para que a adoção fosse mais comum entre os servos
de Jesus Cristo. Para tanto, é necessário que cada um se esvazie dos mitos e
preconceitos relativos ao tema e abrace a vocação natural dos filhos de Deus,
dando de graça aquilo que receberam gratuitamente: uma família.
Pr.
Cremilson Meirelles
POR QUE OS CRISTÃOS PRECISAM REFLETIR SOBRE A ADOÇÃO DE CRIANÇAS?
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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21:07
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