INTRODUÇÃO
“...para que não sejamos vencidos por Satanás, porque não ignoramos os seus ardis” (Coríntios 2.10c,11)
A maior arma de Satanás, sem dúvida alguma, é o engano. Foi assim que agiu no Éden (2Co 11.3), e é assim que ele continua agindo. Seus agentes são numerosos e bem preparados (Mt 24.11); e seus métodos são astutos. Por essa razão, a igreja tem de estar atenta e pronta a oferecer resistência (1Pe 5.8,9).
O liberalismo teológico e o marxismo cultural são as armas utilizadas com maior frequência. Sua ideologia está na base da maioria das heresias e distorções atuais. Por conseguinte, é natural que haja uma certa afinidade entre os dois sistemas. Até porque, possuem o mesmo objetivo, qual seja, reconfigurar a igreja e a sociedade. Partindo dessa premissa, apontaremos a seguir as ferramentas comumente empregadas pelos defensores dessas correntes ideológicas.
1 – A REINTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA A PARTIR DE SEUS PRESSUPOSTOS
Tanto o liberalismo quanto o marxismo cultural são sistemas revolucionários, cujo objetivo é a instauração de uma realidade utópica por meio da destruição das estruturas em vigor. Para alcançar esse fim, seus adeptos se empenham na implantação de uma nova cosmovisão[1], pondo em descrédito os princípios e valores que fundamentam a civilização ocidental e a fé cristã. Uma das estratégias empregadas para isso é uma reinterpretação do passado guiada por pressupostos modernos. Esse artifício já estava presente no Manifesto do partido comunista, e pode ser percebido numa de suas declarações: “A história de todas as sociedades até nossos dias é a história de luta de classes”[2].
Essa frase revela a lente através da qual o marxista enxerga a História. Entretanto, como vimos anteriormente, essa perspectiva se tornou mais abrangente no marxismo cultural. Pois, a luta de classes sociais (livre e escravos, ricos e pobres) passou a englobar questões étnicas e sexuais. De modo que, cada página da história humana foi reinterpretada a partir do ponto de vista de que heterossexuais brancos sempre oprimiram os outros. Esse revisionismo histórico transformou quase todas as pessoas em vítimas de um sistema heteronormativo e étnico-normativo, que sempre intentou perpetuar o domínio do homem branco sobre os demais.
Semelhantemente, o liberalismo teológico reinterpretou a História Bíblica e a História da Igreja a partir do pressuposto de que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas apenas um registro da experiência religiosa do povo hebreu e da comunidade cristã primitiva. Dessa forma, o texto bíblico não seria normativo. Os preceitos observados pela cristandade, portanto, seriam nada mais que dogmas inventados pela liderança eclesiástica, a qual seria o equivalente do “opressor” no marxismo, enquanto os fiéis seriam os oprimidos. Um erro crasso. A Bíblia é a Palavra de Deus (2Tm 3.16; Mc 7.10-13; 2Pe 1.20,21), e, por conseguinte, é autoritativa. Isto é, seus ensinos são norma para a igreja (Mt 4.4).
2 – CONTAMINAÇÃO DAS ESTRUTURAS POLÍTICAS, SOCIAIS E RELIGIOSAS
Por considerar as estruturas vigentes como parte de um sistema opressor, marxistas e liberais se empenham em desconstruí-las. No entanto, sabem que ataques frontais e diretos não funcionam. Por causa disso, empreenderam uma estratégia de infiltração ideológica, a fim de implodir as estruturas doutrinárias e culturais, através de ferramentas variadas e eficazes, as quais serão elencadas abaixo.
a) Domínio acadêmico
Um dos meios para contaminação das estruturas é, com toda certeza, o domínio do processo de formação universitária. Afinal, mesmo aqueles que não cursam na Universidade desfrutam do resultado daqueles que cursaram. Até porque, os professores de ensino médio têm formação superior. Assim, aplicando o método teorizado por Gramsci, os marxistas tomaram as cátedras das faculdades, influenciando todo o ensino no país.
Os adeptos do liberalismo teológico fizeram o mesmo: dominaram a academia, e, pouco a pouco, suas ideias chegaram às igrejas. Esse movimento contribuiu para meta proposta por Gamsci de esvaziar a igreja de seu conteúdo espiritual, transformando-a em algo semelhante a uma ONG. Ou seja, a adulteração do conteúdo da fé foi levada adiante através dos cursos de teologia.
No reinado de Acabe algo parecido aconteceu. Sua esposa, querendo corromper a religião do povo, alterou a fonte da formação teológica, substituindo a liderança religiosa original por profetas e sacerdotes de Baal (1Rs 16.31,32; 18.4).
b) Domínio político
Uma das estratégias, evidentemente, praticada pelos dois segmentos (liberalismo teológico e marxismo cultural) é a ocupação de cargos políticos. Pois, de acordo com Gramsci, “o modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloquência, motor exterior e momentâneo dos afetos e das paixões, mas numa inserção ativa na vida prática, como construtor, organizador, persuasor permanentemente”[3].
Seguindo essa linha, os doutores se engajaram na disputa política, visando implantar mudanças que viabilizassem a demolição das estruturas da sociedade judaico-cristã. Um dos métodos para essa implantação foi o controle estatal sobre a formação teológica. Isto é, o Ministério da Cultura decidiu reconhecer os cursos de teologia, desde que as instituições que os ministrassem tivessem entre os seus docentes professores com pós-gradução strictu sensu (mestrado e doutorado). Mas, onde eles conseguiriam tal formação? Simples: nas instituições dirigidas por liberais. Foi por meio dessa ação estatal que começou o processo de decadência doutrinária nas denominações históricas.
Algo similar foi registrado no livro de Daniel: o Estado investiu seus recursos para sobrepor a cultura dos jovens israelitas. Mudou sua dieta (Dn 1.5) e seus nomes (Dn 1.6,7) com a intenção de mudar sua cultura.
3 – RECONFIGURAÇÃO MORAL E DOUTRINÁRIA
Conquanto as ações liberais e marxistas visem em grande parte a ocupação de espaços de influência, sua meta maior é fragilizar as instituições e os valores, a fim de construir uma nova configuração moral e doutrinária. De maneira que os antigos modelos sejam desfeitos e gradativamente abandonados. Afinal de contas, já que, tanto para o liberalismo teológico quanto para o marxismo, a Bíblia não é absoluta, doutrinas e práticas baseadas nela podem perfeitamente ser descartadas. Assim, enquanto os marxistas alcançaram esse fim usando a mídia, os liberais o fizeram diminuindo a autoridade das Escrituras.
a) Mudança no modelo familiar
Um exemplo dessa reconfiguração é a aceitação do divórcio por parte das igrejas. Porquanto, embora outrora a dissolução do matrimônio fosse vista como um distanciamento do ideal bíblico (Mt 19.3-6), no evangelicalismo contemporâneo (ainda que isso não seja proclamado abertamente pelos líderes) se tornou a solução para as mazelas conjugais. Essa mudança na mentalidade do povo foi alavancada pelo exemplo de vários líderes que abriram mão de seus casamentos, mas se mantiveram no ministério, produzindo justificativas teológicas para seus fracassos conjugais. Como resultado, as portas se abriram para a legitimação eclesiástica da união estável, que se tornou, na perspectiva de alguns, o novo jeito evangélico de ser família.
b) Desmoralização das instituições
Liberalismo e marxismo ao longo do tempo têm se empenhado em desmoralizar tudo o que é tradicional e instituído. A igreja não escapou dessa campanha desmoralizadora. Seus líderes foram caricaturizados como indoutos e charlatães, as congregações locais foram tachadas de opressoras, e os crentes foram incentivados a deixá-las para viver uma espiritualidade privada, sem liderança e sem normas (quer dizer, sem influência sobre a sociedade).
Essa é a postura resultante da relativização das Escrituras promovida pelo liberalismo teológico e aproveitada pelo marxismo cultural.
c) Desmoralização dos opositores
Atualmente, qualquer um que ouse se opor a um desses sistemas ideológicos é automaticamente execrado. O principal meio para isso é desqualificação intelectual, visto que, na concepção de alguns, quem não abraça o método histórico-crítico para interpretação bíblica (instrumento do liberalismo teológico) e rejeita a narrativa socialista, o faz porque estudou pouco. Seu discurso, portanto, é produto do ódio, e não de uma reflexão equilibrada.
CONCLUSÃO
Mesmo diante de um perigo tão evidente, muitos ainda se deslumbram com as pautas “progressistas”. Talvez, porque sua agenda traga consigo uma aparência de piedade (2Tm 3.5). Contudo, o entrelaçamento desses dois sistemas não visa a glorificação do nome do Senhor, mas a degradação de Sua Criação.
Diante disso, cabe ao crente se armar com as verdades bíblicas e não abrir mão delas. Somente dessa forma poderá identificar as deturpações difundidas pelos ministros de Satanás (2Co 11.14,15), e, assim, oferecer resistência.
Pr. Cremilson Meirelles
[1] Modo pelo qual uma pessoa vê ou interpreta a realidade à sua volta.
[2] MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Editora Escala, 2007, p. 53.
[3] GRAMSCI, Antônio (1891-1937). Cadernos do cárcere, volume 2. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 53.
Excelente artigo meu irmão. Que Deus continue te abençoando e que você possa produzir mais conteúdo para nossa reflexão e edificação. Louvado seja Deus.
ResponderExcluirAmém! Obrigado!
ExcluirInfelizmente, muita gente boa tem sido enveredada por esse caminho. Prova disso é vermos cristãos, inclusive líderes, defendendo os princípios marxistas. Alguns por ingenuidade ou falta de discernimento, já outros pela dureza do coração. Existem princípios bíblicos que são simplesmente inegociáveis e jamais a luz andará de mãos dadas com as trevas. Parabéns pelo excelente texto apologético. Graça e paz.
ResponderExcluir"Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo."
ResponderExcluirJudas 1:4
A valorização entre os religiosos de pessoas com oratória e influência, mas sem que tenham sido convertidas promove deturpações nas igrejas.
Henri de Sandra.