Pastoral redigida para o boletim dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Sem dúvida, o
trecho da Escritura mais empregado para enfatizar a necessidade do dízimo é
Malaquias 3.10. Contudo, é necessário frisar que este é um dos textos mais mal
interpretados da Bíblia. Isto porque, muitos o utilizam para propagar a ideia
de que há uma relação comercial entre nós e Deus, de modo que damos o dízimo
para recebermos bênçãos. Usa-se também o versículo 11 para transformar Deus em
uma espécie de “agiota”, pois, se você não “pagar” o seu dízimo, Ele envia um
cobrador violento: “o devorador”. A fim de corrigir esses erros discorreremos
sobre o referido texto nas linhas abaixo.
O primeiro ponto a ser destacado
é o contexto. Ora, o livro de Malaquias é parte integrante do Antigo
Testamento; logo, sua linguagem segue os preceitos da antiga aliança, feita
entre Deus e o povo de Israel. De acordo com Augustus Nicodemus, os termos
daquela aliança eram estes: “se o povo obedecesse a Deus, este o abençoaria;
mas, se o povo desobedecesse a ele, seria castigado”. Isto acontecia em
qualquer situação de desobediência, e não somente por não dar o dízimo. Essa
era a dinâmica da antiga aliança. Isso fica bem claro em Deuteronômio 28.
Foi justamente com base nessa
perspectiva que o texto de Malaquias foi produzido. Veja, por exemplo, que em
Malaquias 3.7 Deus se queixa do povo, salientando que, assim como seus pais,
eles estavam quebrando a aliança ao ignorar seus termos. Por essa razão,
sofriam com a falta de chuva e com a devastação provocada pelas pragas. Diante
desse quadro desolador, o Deus misericordioso vai ao encontro do povo e oferece
uma oportunidade de reconciliação a partir da dinâmica da antiga aliança. Por
isso, Ele diz: “[...] tornai vós para mim, e eu tornarei para vós, diz o SENHOR
dos Exércitos [...]” (Malaquias 3.7b). Porquanto, se o povo cumprisse a sua
parte no contrato (aliança), observando a lei, o Senhor faria a Sua, “abrindo
as janelas do céu” (Malaquias 3.10), ou seja, enviando chuva para regar a terra
e viabilizar o plantio. Deus promete ainda que repreenderia o “devorador”, isto
é, impediria a vinda de pragas (gafanhotos), além de assegurar a produtividade
da colheita: “e, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos
consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o SENHOR
dos Exércitos”.
Cabe-nos ressaltar, entretanto,
que isso nada tinha a ver com as contribuições dos israelitas, mas com o pacto
que Deus fizera com o povo. Eles não estariam “convencendo” Deus a abençoá-los
por entregarem seus dízimos. Na verdade, o Senhor já havia se pré-disposto a
fazê-lo. O mesmo acontece conosco, haja vista que, no Novo Testamento, as
bênçãos estão condicionadas à filiação divina (Lucas 11.9-13) e à vontade de
Deus (1João 5.14). Não podemos “comprar” bênçãos com nossos dízimos, e nem
convencer o Senhor a nos abençoar com nossas atitudes.
Todavia, enquanto na antiga aliança os termos do “contrato” entre Deus e
o povo eram os estatutos da lei, na nova aliança só há um termo: o amor. Tudo o
que fazemos para o Senhor deve ser feito com base nisso. Pensando assim, Jesus
disse: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” (João 14.15). Não
devemos fazer o que fazemos por medo ou por interesse, mas simplesmente porque
amamos o Deus Todo-poderoso.
Pr. Cremilson Meirelles
DÍZIMO? O QUE É ISSO? PARTE IV
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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