Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Enfim
chegamos à última pastoral sobre o tema das línguas. Entretanto, para fechar, é
preciso relembrar alguns aspectos. O primeiro deles é que as línguas faladas em
Corinto eram diferentes das de Atos. Tratava-se de algo que ninguém entendia, e
que, ao contrário do que aconteceu no dia de Pentecostes, gerava confusão. Por
isso, Paulo afirma veementemente: “Deus não é Deus de confusão, senão de paz,
como em todas as igrejas dos santos” (1Coríntios 14.33). Ora, essa declaração
do apóstolo deixa bem claro que nas outras igrejas aquela confusão não
acontecia, pois não havia o problema das línguas incompreensíveis.
O
segundo aspecto a ser pontuado é que o dom original de falar línguas é o de
Atos 2. Não há nada na Escritura que diga que o dom mudou e se transformou em
línguas desconhecidas. Em Atos 2 todos entendiam (Atos 2.6) o que era falado,
em Corinto não (1Coríntios 14.2). Percebendo essa diferença, Paulo chega a
dizer que preferia falar cinco palavras em um idioma que todos compreendessem
do que dez mil na língua falada pelos coríntios (1Coríntios 14.19). Porquanto,
falar as línguas coríntias, no entender do apóstolo, seria o mesmo que agir
como criança. Pensando assim, ele diz: “Irmãos, não sejais meninos no
entendimento, mas sede meninos na malícia e adultos no entendimento” (1Coríntios
14.20).
Reforçando a ideia de que as línguas verdadeiras eram idiomas humanos (como o
inglês, o francês, etc), Paulo cita Isaías 28.11, dizendo: “Está escrito na
lei: Por gente doutras línguas e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda
assim me não ouvirão, diz o Senhor”. Vale ressaltar, que, na ocasião em que
proferiu essa frase, Isaías referia-se à invasão assíria, que serviria de juízo
para o povo de Israel. Afinal, já que não estavam querendo ouvir a Deus, teriam
de, obrigatoriamente, ouvir a voz do inimigo, que invadiria a nação e levaria o
povo cativo. Perceba que tanto o profeta quanto o apóstolo tinham em mente
idiomas humanos, e não “línguas de anjos”. Seguindo esse raciocínio, Paulo
salienta que “as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis;
e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis” (1Coríntios
14.22). Isto porque, os fiéis, tanto no passado quanto no presente, davam
ouvidos às profecias e se arrependiam. Os infiéis, por outro lado, desprezam as
profecias (1Tessalonicenses 5.20), tal como fizeram os israelitas no tempo de
Isaías, insistindo no erro de viver do seu próprio jeito, ignorando os apelos
divinos. Era assim que os coríntios agiam: desprezavam as profecias (pregação
do Evangelho) e se apegavam às línguas desconhecidas, considerando-as como
sinal de espiritualidade. Paulo destaca que, se eles continuassem com aquela
loucura, seriam taxados de loucos, e não de espirituais (1Coríntios 14.23).
Outro
ponto importante é a inexistência de intérprete das línguas esquisitas entre os
coríntios. Isso fica evidente ao longo do texto. Paulo fala repetidas vezes que
ninguém compreendia o que era falado (1Coríntios 14.2,9,13,14,16,19,23).
Justamente porque não havia quem pudesse interpretar aquilo. Em adição, vale
frisar que a palavra traduzida como “interpretar”, em 1Coríntios 14, dá a ideia
de tradução de idiomas. Ora, Paulo utiliza o argumento da interpretação das
línguas para impedir a prática coríntia, mostrando-lhes que, se fosse um idioma
de verdade (e não era), poderia ser traduzido. Se não fosse, o indivíduo
deveria ficar calado (1Coríntios 14.28). Veja que Paulo diz que antes de alguém
falar alguma “língua” deveria procurar saber se havia um intérprete presente, e
só poderiam falar dois ou três (1Coríntios 14.27). O apóstolo estava impondo
controle e ordem à prática coríntia. Contudo, havendo controle e ordem não
haveria o “fenômeno”, visto que sua característica marcante é a desordem.
Em
suma, Paulo queria que eles deixassem de lado toda aquela loucura e se
voltassem para a sã doutrina. Definitivamente, ele não apoiou as línguas
faladas em Corinto. Por mais que hoje vejamos, em alguns lugares, pessoas que
dizem interpretar as famosas “línguas estranhas”, vemos a mesma incoerência e
falta de razão de ser. Pois, como disse o apóstolo, esse tipo de línguas não
serve para nada, só massageia o ego (1Coríntios 14.4). Aliás, se de fato é um
idioma, por que nunca vemos duas pessoas conversando nessas línguas? Por que
muitos repetem apenas frases, como “Laba Súbia Sury Canta Covas Nay”? Os que
falavam as línguas de Atos magnificavam a Deus (Atos 10.46) e pregavam as boas
novas (Atos 19.6). Não era isso que os Coríntios faziam. Por isso, Paulo fala
bastante sobre a superioridade da profecia. Portanto, fique com as Escrituras e
não com a experiência. Pregue a Palavra de maneira que todos compreendam. Deus
o abençoe!
Pr.
Cremilson Meirelles
POR QUE NÃO FALAMOS LÍNGUAS ESTRANHAS? PARTE XV
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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13:07
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