Embora o título acima
pareça favorecer a campanha em prol do hexacampeonato da seleção brasileira,
definitivamente, a intenção não é essa. Na verdade, o foco deste artigo são os
cifrões que ladeiam o “hexa”. Isto porque, ainda que a esmagadora maioria seja aficionada
no futebol, penso que o esporte mais popular do Brasil traz em seus bastidores
uma história de manipulação de resultados, que beneficiam uma minoria
endinheirada e atendem aos interesses políticos e econômicos da nação.
Com base nesse
raciocínio, sou levado a crer que a seleção brasileira sagrar-se-á campeã da
competição que ora disputa. Não digo isso porque reconheço que possuímos um bom
time (nem estou acompanhando os jogos), mas por acreditar que há interesses
maiores envolvidos. Uma derrota brasileira, sem dúvida, causaria um forte
impacto político e econômico no país. O clima de insatisfação paira no ar já há
algum tempo. Os protestos e as greves são a evidência disso. Ora, se a situação
já estava tensa antes da copa, imagine se o Brasil perder! A oposição teria um
prato cheio em suas mãos. Aí sim o governo estaria em maus lençóis. Por isso,
acho que a coisa já está arranjada para a conquista do hexa. É claro que isso é só
uma teoria. Além disso, mesmo o que foi previamente combinado pode falhar.
Contudo, tenho de admitir: essa tese faz muito sentido! Basta olhar o histórico
da corrupção no futebol mundial!
O grande problema é que
o fanatis... ops, o amor ao time, faz com que muitos não vejam o que está
diante de seus olhos. Estes são ludibriados tal como ocorre com os expectadores
de um show de mágica: o “mágico” os engana diante de seus olhos, manipulando
sua percepção. Assim, inocentemente, continuam depositando sua fé em um sistema
tão falho quanto todos os outros.
Todavia, ao contrário do
que se pensa, corrupção não é coisa só de político ou de policial, ela faz
parte do gênero humano desde há muito tempo. Porquanto, com a entrada do pecado
no mundo todos nos tornamos corruptos e depravados. Logo, não deveria causar
espanto, o fato de que existem falcatruas em toda atividade em que o homem está
envolvido. Até mesmo no futebol!
Ah... mas como é
difícil admitir isso! As pessoas brigam, discutem, esbravejam, mas não
reconhecem as falhas do sistema. Elas querem acreditar porque isso alimenta
algo que perderam quando lhes contaram que Papai Noel não existia. Isso me
lembra o diálogo entre o Neo e o Morpheu no filme Matrix, onde, em dado momento
Morpheu diz: “você tem que entender, que a maioria destas pessoas não estão
prontas para serem desplugadas. E a maioria delas estão tão inerentes, tão
irrevogavelmente dependentes deste sistema, que lutarão para defende-lo”. Infelizmente,
tal como disse o “profeta” do cinema, a maioria prefere não enxergar; e ainda
lutam pelo direito de continuar cegos.
Ao ouvir essa
argumentação, os apaixonados pelo futebol tentam contra argumentar apontando
situações que supostamente desmentem a teoria da “armação” dos jogos. Em
relação à Copa do Mundo, por exemplo, alguns têm respondido que se, de fato, há
alguma falcatrua para favorecer o Brasil alguém se esqueceu de avisar isso à
seleção do Chile, pois no finalzinho do jogo eles acertaram uma bola no
travessão. Se a bola entrasse, defendem eles, o Brasil estaria eliminado.
Conquanto reconheça o
esforço e a sinceridade com que os advogados do futebol lutam para conservar a
estrutura simbólica que lhes proporciona uma boa dose de dopamina[1],
não vejo esses episódios, tal como o “quase” gol do Chile, como indícios da
honestidade do sistema. Ao invés disso, vejo essas ocorrências como evidência
da boa índole de um ou dois indivíduos, mas não do sistema. Até porque, em todo
sistema comprado, há sempre pessoas honestas, que não se vendem. Isto acontece
na política, na polícia e nas atividades comerciais. Sempre há alguém honesto. Estes,
às vezes, complicam os corruptos. Acredito que esse foi o caso do Chile. Além
do mais, como ressaltamos acima, se os "mágicos" profissionais
conseguem nos enganar diante de nossos olhos, penso que simular um sufoco não
deve ser tão difícil assim. Basta pensarmos um pouquinho.
Ora, todos admitem que
existe corrupção na polícia, no congresso nacional, em algumas igrejas e
diversos estabelecimentos comerciais. Até o cidadão comum se corrompe, fazendo
“gato” de luz, água, TV por assinatura, dando propina a policiais, sonegando
impostos, furando filas, etc. Pensa bem: se nos mais diversos setores da
sociedade há corrupção, por qual razão no futebol, onde circulam montanhas de dinheiro, não haveria? Não creio que
uma competição dessa monta seja isenta de fraudes. Há muita coisa em jogo
(muito mais que uma bola). Há interesses políticos, econômicos e sociais. Para
vencer uma copa ou jogo, muitos pagam. A copa de 98 levou muitos a refletir
sobre isso. As apostas são milionárias! Se o Brasil ganhar, muita gente ganha.
Por isso, acredito que a copa já está comprada.
Quem
comprou não sei, mas não consigo olhar para o futebol, de um modo geral, e
manter a inocência de alguns. É só pesquisar um pouco que encontramos os
indícios de que a coisa não é tão “séria” quanto se pensa. Na edição 1924 da
revista Veja, por exemplo, em novembro de 2005, foi exposta a “máfia do apito”,
na qual o então árbitro da FIFA, Edilson Pereira de Carvalho, recebia cerca de
R$ 15.000,00 por jogo “vendido”. Segundo a revista, a máfia envolvia
um grupo de empresários,
donos de bingos em São Paulo e Piracicaba (no interior paulista) e o árbitro
Edilson Pereira de Carvalho, um dos dez juízes brasileiros pertencentes aos
quadros da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que reúne a elite da
arbitragem mundial. Com os resultados acertados com o juiz, a quadrilha lucrava
em apostas milionárias em sites de jogatina na internet (RIZEK, 2005, p. 72).
No mesmo
artigo, outras fraudes futebolísticas foram apresentadas. O que chama atenção,
porém, é que elas não se limitam ao Brasil. Porquanto, também em 2005, o
árbitro alemão Robert Hoyzer foi acusado de manipular resultados de jogos da
segunda e terceira divisão e da Copa da Alemanha. E não para por aí. A coisa
não envolve só juízes, mas atletas também. Recentemente, por exemplo, o clube
espanhol Hércules foi acusado de comprar resultados para ascender à primeira
divisão. Para tanto, um dos acionistas do time teria oferecido dinheiro ao
goleiro da equipe adversária para que este entregasse o jogo[2]!
Sinto muito, mas não dá para depositar fé nesse sistema.
Outro
ponto assaz importante para esta discussão é o livro, lançado este ano, escrito
pelos repórteres Amaury
Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastiner, cujo título
(Jogo Sujo) expressa claramente seu conteúdo e corrobora muitas das palavras
ditas até aqui. De acordo com o site R7, “a obra mostra a trama de propinas, negociatas, traições e escândalos que
envolvem Ricardo Teixeira e João Havelange no comando da CBF e da Fifa,
respectivamente”[3].
Isso não é novidade nenhuma, pois, já em
1982, na edição 648 da revista Placar uma das maiores fraudes do futebol
brasileiro foi posta às claras, a saber, a máfia da loteria esportiva. Esta, de
acordo com a reportagem,
consistia em um
esquema que “fabricava” resultados dos jogos de futebol visando beneficiar
apostadores da loteria esportiva. A Loteca tinha 13 jogos por rodada e o
apostador marcava em uma ou duas opções: sobre o time vencedor ou empate. Uma
agência de notícias enviava à Caixa Econômica uma sugestão de partidas para
serem inscritas nos bilhetes da Loteca. Cabia à CEF apenas pagar os vencedores.
A reportagem deixa clara a lisura do órgão. O radialista e testemunha-chave,
também: “A loteria esportiva é séria até a bola rolar”. Esse jornalista
trabalhou durante sete anos no esquema. Apostadores de todo o Brasil o
procuravam para sugerir as partidas que já haviam “fabricado” o resultado. Para
essa produção, os apostadores – que eram desde empresários a cartolas, bicheiros
e principalmente donos de lotéricas – subornavam árbitros, jogadores, técnicos
e dirigentes (MAGAGNIN,
2009).
Há ainda outro livro,
publicado em 1998, sob o título “como eles roubaram o jogo”, onde um jornalista
inglês coloca em dúvida a honestidade das instituições que comandam o futebol
em todo o mundo, sobretudo a FIFA. De acordo com o autor, um dos grandes
maestros da corrupção no âmbito do futebol foi o brasileiro João Havelange, que
presidiu o futebol mundial por 24 anos.
Isto, no entanto, é só
a ponta do iceberg. Como esses, há muitos outros casos, só não foram
descobertos. Por isso, há muito tempo deixei o romantismo de lado. Não torço
mais. Não perco mais meu tempo vibrando por cidadãos que, cheios dos milhões,
pouco se importam conosco. Para essa indústria somos somente “pagantes”. É
assim que eles nos chamam. E tem gente que ainda briga por eles.
A coisa é tão gritante, que Ralf Mutschke, diretor de
segurança da FIFA declarou publicamente que estava declarando guerra à
manipulação de resultados das partidas de futebol em todo o mundo. Mutschke
sublinhou que está, inclusive, sendo ajudado pela Interpol para a detecção das
fraudes. Isso prova que o negócio existe mesmo. Até a instituição que coordena
as competições mundiais reconhece isso! Por que muitos não enxergam?
A paixão pelo time é tão forte que alguns chegam a dizer que
tem corrupção nos jogos de todos os outros clubes, mas quando o dele joga, é só
honestidade. Uns poucos até admitem a manipulação, mas creem que só ocorre nas
finais. Quanta inocência! As apostas são feitas ao longo de todo o campeonato!
Logo, os corruptos vão tentar manipular tudo que for possível.
Ademais, não só os resultados são objeto de manipulação. O
povo também é. Digo isso, em tese, mas é o que penso. Acredito que o futebol é
mais um instrumento de manipulação das massas. O objetivo é manter o povo sem
cultura, desejando mais ser jogador de futebol do que médico ou professor. É
assim que a elite faz a manutenção de sua condição e nós fazemos a manutenção da
nossa. Acerca disso, Schlatter (2009) salienta que “O futebol é um elemento
marcante na trajetória política brasileira, tendo sido em diversos momentos
usado como ferramenta por estadistas, que aproveitaram seu apelo popular como
meio de manipulação e condução das massas”. Isto, sem dúvida, ocorreu não
apenas no Brasil. Há registros históricos da utilização de conquistas
esportivas para manipulação do povo em todo o mundo. Em 1934, por exemplo, o
ditador italiano Benito Mussolini, aproveitou a conquista da Copa do Mundo pela
Itália para divulgar o fascismo.
Estão nos dando “pão e circo” como faziam os imperadores
romanos, e nós estamos gostando disso. Nossos filhos estão imitando o andar
malandro e o corte de cabelo dos jogadores, achando que basta jogar futebol
para vencer na vida. É uma propaganda anti-educação, uma estratégia que promove
a imbecilização do povo, que visa manter-nos exatamente onde estamos. Quanto
mais peões melhor. Que tristeza!
Em virtude disso, prefiro assumir uma posição de indiferença
frente às competições profissionais. Não torço por nenhum time. Tenho mais o
que fazer do que gastar meu tempo sofrendo, com os nervos à flor da pele, por
causa de pessoas que nem sabem que eu existo. Considero que vivo melhor assim.
Não discuto com ninguém por causa de futebol, não dou meu dinheiro suado para
essa indústria milionária, e passo muito mais tempo com minha família. Não
estou dizendo para você fazer o mesmo, só te convido à reflexão. Deus o abençoe!
Pr.
Cremilson Meirelles
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MAGAGNIN, Anna
Catarina Lucca da Cunha. Reportagens
Investigativas no Jornalismo Esportivo. Porto Alegre, 2009. Monografia
(Graduação em Comunicação Social) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
RIZEK, André; OYAMA,
Thaís. Jogo Sujo. Revista Veja. Rio
de Janeiro: Abril, n. 1924, p. 72-80, 2005.
SCHLATTER,
Bruno Belloc Nunes. Futebol
e populismo: o esporte das multidões e a política das massas.
Revista Historiador. Número 02. Ano 02. Dezembro de 2009. Disponível em:
http://www.historialivre.com/revistahistoriador
YALLOP, David A. Como
eles roubaram o jogo. Rio de Janeiro: Record, 1998.
[1] A
dopamina é comumente associado com o sistema de prazer do cérebro,
proporcionando sensações de prazer e de reforço para motivar uma pessoa
proativa para realizar determinadas atividades.
[2] Disponível em
http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,hercules-da-espanha-e-acusado-de-suborno-para-garantir-acesso,589778
[3] Disponível em
http://esportes.r7.com/futebol/livro-que-denuncia-corrupcao-no-futebol-mundial-ganha-destaque-na-midia-17052014
RUMO AO $HEXA$
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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