Pastoral redigida para o Boletim
Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
Conquanto
teçamos, enquanto crentes evangélicos, uma série de críticas à religiosidade
católica, alegando que esta se afastou bastante do Cristianismo original, nosso
“mundo gospel” está igualmente distante do evangelho de Cristo. Foi erigida, ao
longo do tempo, uma estrutura litúrgica que nos levou a uma perspectiva quase
judaica da fé cristã. O templo, tal como ocorria no judaísmo, assumiu um lugar
central, de modo que tudo o que diz respeito à vivência da igreja ficou
circunscrito aos limites territoriais da edificação chamada templo.
Por
causa dessa visão limitada, problemas que não aparecem na igreja primitiva,
tornaram-se extremamente comuns no cristianismo pós-moderno. Hoje, por exemplo,
muitas pessoas deixam suas comunidades de fé (e, em alguns casos, até o próprio
Cristo) se, por acaso, não receberem oportunidades para cantar, pregar ou
dirigir cultos. Isso evidencia a centralidade do templo na religiosidade desses
indivíduos. Porquanto, são capazes de negar a fé em Jesus ou abandonar uma
congregação por não se apresentarem nas programações públicas. Muitos,
inclusive, entendem que isso, e apenas isso, é fazer a obra de Deus.
Esquecem-se de amar porque só querem se apresentar e assistir apresentações.
Assim
como ocorre com frequência em outras religiões, o templo se tornou o “centro do
mundo” na cultura evangélica contemporânea. É como se fora do templo não
houvesse vida cristã. E, de fato, para alguns não há, pois vivem uma
espiritualidade dualista. Isto é, o que acontece no templo é sagrado, os
objetos que lá se encontram estão revestidos de sacralidade, assim como aqueles
que o frequentam assiduamente. Por outro lado, os mesmos indivíduos entendem
que tudo o que ocorre fora dos limites do templo ou em desacordo com os
costumes observados no templo, é profano. Por isso, muitos pensam que, para
tornar-se “mais santo”, é necessário ir muitas vezes ao templo. Porquanto,
conforme creem, só assim poderão desfrutar da santidade inerente ao prédio no
qual a igreja se reúne.
Pensar
dessa maneira é reduzir o Evangelho, transformando as boas novas em normas e
regras de uma associação humana que vive em função de apresentações que se
assemelham aos programas de auditório exibidos na tv. Definitivamente,
esse não é o ideal de Cristo para nós. Ele nos chamou para vivermos algo novo,
para sermos nova criação. A vida cristã deve ser algo dinâmico, que acontece
todos os dias, em todo lugar; no trabalho, na escola, na vizinhança. Afinal, se
é vida, não pode ser restrita a um único lugar. Precisamos ultrapassar os
limites do templo e sermos igreja 24 horas por dia. O templo não é a igreja, é
o lugar no qual a igreja se reúne.
Quando
vivemos a dinâmica de ser igreja, deixamos de lado as coisinhas, pois
entendemos que não estamos em um show, não nos tornamos crentes para sermos
paparicados, agradados. Nossa visão é completamente alterada, passamos a fazer
tudo para agradar a Deus, o único digno de toda honra, toda glória, todo
louvor. Por conta disso, nem pensamos em deixar nossa congregação, porque temos
a convicção que o Senhor nos colocou nela, um grupo repleto de pessoas
defeituosas, para exercitarmos as maiores virtudes cristãs, a saber: o amor, o
perdão e a fé.
O
que precisamos, na verdade, não é abandonarmos nossa comunidade de fé ou
deixarmos de frequentarmos o templo, mas descentralizarmos a nossa fé, ou seja,
o exercício da nossa espiritualidade. É necessário viver a fé fora do templo,
demonstrar os preceitos bíblicos com a vida e não somente com palavras. Vamos
nos amar, nos perdoar, nos colocarmos no lugar dos outros. Enfim, vivamos o
evangelho.
Pr. Cremilson Meirelles
DESCENTRALIZANDO A FÉ
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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20:05
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