Para
muitas crianças a figura principal na época de natal é o “bom velhinho”, isto
é, o Papai Noel. Há, inclusive, quem ache estranha a exibição de filmes sobre o
nascimento de Jesus nesse período do ano, afinal, o Papai Noel é a figura de
destaque, logo, se algum filme deve ser exibido, o protagonista tem de ser ele.
Infelizmente, esse tem sido o pensamento predominante no Ocidente.
Com
o fito de combater essa ideia, cristãos sinceros têm buscado, a partir da
análise da origem dessa figura natalícia, extirpá-la, pelo menos, do contexto
cristão. Todavia, isso não tem sido fácil, pois até mesmo pais cristãos têm
incentivado tal crença. Por conta disso, ao invés de tratar do contexto
histórico que originou o mito do “bom velhinho”, pretendo apontar neste artigo,
não o que o Papai Noel significou um dia, mas aquilo que ele significa hoje, ou
seja, a verdadeira identidade desse personagem mítico.
Olhando
por esse prisma, a primeira asserção que pode ser feita acerca da pergunta
utilizada como título desse artigo é que Papai Noel é o reflexo dos anseios da
sociedade. Isto é, ele tem, segundo o mito, condições de atender um dos maiores
desejos do homem moderno, a saber, obter o maior número de bens com o mínimo de
esforço. Sem dúvida, a melhor figura para representar tais anseios é a de um
vovô bonzinho, que distribui presentes. A criança não precisa fazer nada, basta
ser “boazinha”. Porém, mesmo que a criança não seja “boazinha” ela acaba sendo
presenteada. Todos os anos, fazendo bem ou mal, as crianças recebem presentes
do Papai Noel, ou seja, não é necessário fazer nada.
O
próprio velhinho (Papai Noel) é o retrato dessa realidade. Ele não trabalha,
não faz esforço algum, porquanto tem um monte de gente (duendes, gnomos ou
coisa parecida) que realiza o serviço pesado por ele. O que ele faz? É simples:
anda por aí com seu potente carrão (trenó) voador e resplandecente, tirando
onda, rindo para aqueles que olham para ele (ho, ho, ho), a fim de mostrar que
sua “vida boa” lhe dá muita felicidade. Além disso, ele é claramente um
sedentário (por isso possui aquela barriga imensa), não faz nada, mas vive
feliz. Mas em que consiste essa felicidade? Simples: ele é feliz porque tem
dinheiro. De outro modo, como poderia presentear todo o mundo? Eis a mensagem
inserida nesse contexto: quando somos ricos, somos felizes, podemos aproveitar
a vida ao longo de todo o ano, desfilando em nossos carrões, tendo pessoas para
trabalhar pra nós, e uma vez no ano ajudamos as pessoas (não é assim que
acontece?) e posamos como pessoas bondosas diante da opinião pública.
O
maior problema é que, com a chegada da adolescência o mito é desmascarado e o
indivíduo descobre que eram os próprios pais que lhe davam presentes,
alimentando a fantasia infantil. Entretanto, ainda que o mito seja desfeito, o
anseio por reviver as sensações proporcionadas por ele permanece, ou seja, a
felicidade continua sendo associada à recepção de presentes. O material segue
prevalecendo em detrimento do espiritual, do abstrato. É isso que Papai Noel ensina:
“a felicidade só é possível mediante a aquisição de bens”. Contudo, quando
crescemos descobrimos que os bens só podem ser adquiridos com dinheiro, daí
pode-se depreender que Papai Noel implanta nos infantes o germe do consumismo,
visto que torna o dinheiro o bem mais importante, afinal, é esse elemento que
viabiliza a “felicidade”.
A
partir daí, é possível perceber que o Papai Noel é uma figura incentivadora do
consumismo. É por causa dele que ter se torna mais importante do que ser. É
ele quem nos desperta para o consumismo. Quando a criança recebe o presente,
recebe com ele uma semente do consumismo. Ela passa a entender que, sem os
bens (presentes), não é possível ser feliz. Cabe ressaltar, no entanto, que os
bens concedidos pelo Papai Noel não são permanentes, precisam ser
constantemente substituídos. A cada ano é necessário receber um novo presente.
Essa necessidade de renovação é levada para a idade adulta e é ultra
dimensionada no contexto capitalista, ou seja, tal como ocorria quando éramos
crianças, como adultos continuamos a buscar essa renovação material, o que
temos nunca é bom o suficiente, sempre existirá algo novo, melhor, de última
geração, algo que na verdade não precisamos, mas se não obtivermos ficaremos
frustrados e, consequentemente, infelizes.
Enquanto
somos crianças tudo isso é legal. Porém, ao adentrar na adolescência nos
deparamos com o mundo verdadeiro, onde as coisas são mais difíceis, onde
precisamos entender as dificuldades financeiras de nossos pais. Só aí
descobrimos que, se quisermos suprir a necessidade de aquisição e renovação dos
bens implantada em nós desde cedo, é necessário trabalhar bastante, assim como
fazem os empregados do Papai Noel. Por falar nisso, você percebeu que os
“gnomos” do “bom velhinho” são anões? Papai Noel, que não faz nada, é grande e
gordo, mas os gnomos (ou duendes), que realmente trabalham, são pequenos e mais
magros que ele. Os coitados são explorados por um homem, que não é tão velho
(só tem barba e cabelo branco), comilão e sedentário (a barriga evidencia
isso). O trabalho deles nunca termina. Eles são escravos, nunca podem sair de
lá. Sempre que vemos os gnomos nas estórias eles estão trabalhando. Esse é o
retrato da vida do homem na pós-modernidade, pois este se tornou escravo das coisas. E por causa delas continua trabalhando mesmo depois de aposentado, a
fim de suprir sua necessidade de consumir. Uns poucos possuem abundância (Papai
Noel), enquanto outros perseguem constantemente a utopia consumista: preencher
o vazio em seus corações com os bens adquiridos. Em outras palavras, uns se
tornam anões, isto é cativos do consumismo, enquanto outros se tornam velhos
obesos e ricos, que dominam os anões.
Outro
aspecto terrível desse personagem mítico chamado Papai Noel, é a aceitação da
mentira como válida. Isto porque, a mentira contada, por anos, pelos pais
introduz no inconsciente do indivíduo a idéia de que, dependendo do propósito,
mentir é perfeitamente aceitável, e pode, inclusive, trazer felicidade. O
problema é que, mesmo depois de mentir por tanto tempo, os pais cobram a
verdade de seus filhos. Quando estes utilizam o expediente usado por aqueles
são duramente repreendidos. Como será que fica a cabeça de alguém diante de
tantas contradições? Certamente, isso desperta o desejo de retornar ao tempo da
mentira, quando tudo era maravilhoso. Assim, a mentira passa a ser vista com
bons olhos e a verdade como algo ruim.
Confesso
que isso aconteceu comigo. Quando descobri que Papai Noel não existia, fiquei
profundamente decepcionado. O Natal perdeu o sentido, foi despojado de sua
beleza, se tornou um dia como outro qualquer. Passei a sentir falta da mentira
que me contaram, pois o mundo real era ruim, sem graça, sem alegria. Aos meus
olhos, até mesmo a imagem de meus pais ficou manchada, afinal, eles mentiram
para mim. A partir daí, achei que deveria criar meu próprio mundo e não aceitar
aquilo que criavam para mim. Meus pais, na minha concepção (como pensam muitos
adolescentes) não sabiam de nada. Só eu podia me conduzir. Graças a Deus um dia
recebi a Cristo como Salvador e essa visão foi alterada. Não obstante, a partir
desse testemunho vemos o prejuízo que o “bom velhinho” pode causar.
Apesar
disso, a consequência mais danosa da inserção do Papai Noel no contexto
natalino é a propaganda negativa da figura divina. Porquanto, Papai Noel é, na
verdade, um “substituto de Deus”, alguém que possui características
transcendentes. Você já se perguntou por que ele é chamado de pai? Ele tem
filhos? Há quem diga que ele é o pai de todas as crianças. Ora, quem é o pai de
todos? Deus. Outrossim, o “bom velhinho”, assim como Deus, tem servos que
trabalham para ele. Porém, alguém pode dizer: “é, mas isso não o torna divino”.
Mas, se olharmos com mais atenção, perceberemos que Noel tem atributos divinos.
1º ele pode estar em vários lugares ao mesmo tempo; na noite de natal ele
entrega presentes em todo o mundo, a todas as crianças. Como ele faz isso? 2º
Papai Noel é um ser transcendente (voa e tens poderes mágicos) e ao mesmo tempo
imanente (se relaciona com as pessoas, dando presentes). 3º É onisciente, pois
conhece todas as crianças do mundo.
Embora tais aspectos pareçam
inofensivos, eles fazem com que uma mensagem muito pior seja transmitida.
Porque, conquanto possua todos os “poderes” mencionados, Papai Noel é uma
figura fraca, pois depende de animais, de anões, da atenção de crianças e dos
comerciantes, os quais fazem sua divulgação. Por conta disso, quando crescemos
somos convidados a abandonar esses “mitos”, afinal, seres onipresentes,
oniscientes fazem parte de um mundo fantasioso, ou seja, não são reais. Como
adultos, precisamos ser independentes, autônomos, é necessário abraçar a
subjetividade e abandonar as verdades absolutas, porque estas não existem, nós
temos que construir nossas verdades. Essa é a mensagem do Papai Noel.
O Senhor Jesus, quando veio ao
mundo, trouxe uma mensagem completamente diferente. Ele mostrou a verdadeira
necessidade humana: Deus. Com isso, fez exatamente o oposto do Papai Noel, pois
não apresentou um deus dependente do humano, mas um homem dependente do
divino. Ademais, provou que Deus não é
uma figura pertencente a um mundo imaginário, mas é um ser que intervém na
história, é o “Deus conosco” (Emanuel). Jesus não incentivou o consumismo, mas
o amor, o qual leva não a adquirir, mas a doar, a Deus e aos homens. Ele
mostrou que o mais importante não são os bens materiais, mas os espirituais.
Não deixemos, portanto, que essa figura estranha ao Natal, chamada Papai Noel,
ofusque o acontecimento mais importante da História: o nascimento de Jesus. Não
minta para seu filho, o pai da mentira é o diabo (Jo 8.44). Apresente a verdade
a ele, a saber: Jesus.
Pr. Cremilson Meirelles
QUEM É O PAPAI NOEL?
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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