Infelizmente, na
atualidade, tem sido bastante comum vermos pessoas que se dizem cristãs
atribuindo super poderes ao Diabo. Dizem crer em Deus, no entanto têm um
tremendo medo de Satanás. Há um discurso, inclusive, que evidencia tal postura.
Diz-se que não se pode orar verbalmente. A oração eficaz deve ser realizada em
pensamento, pois do contrário Satanás poderá ouvir. E se ele ouvir... Ai meu
Deus! A bênção será impedida. Isto porque, segundo os defensores dessa idéia,
ele pode ouvir o que falamos, mas não o que pensamos.
A despeito dessas
declarações, cabe-nos indagar: será que a Bíblia fundamenta esse pensamento?
Obviamente, a resposta é não. Porquanto, existem inúmeros trechos das Escrituras
que relatam orações audíveis e eficazes. Por exemplo, por ocasião da dedicação
do templo, O rei Salomão pôs-se diante do altar e orou verbalmente (1Rs
8.22-53). De igual modo, Ezequias, quando ameaçado por Senaqueribe, orou de
maneira audível (2Rs 19.15-19) e Deus lhe respondeu. Outrossim, Neemias, diante
da desolação de sua terra natal, ora verbalmente ao Senhor (Ne 1.3-11), que o
ouviu dando-lhe graça aos olhos do rei. O próprio Jesus ora ao Pai em voz volta
(Mt 26.39; Jo 17). Será possível que todas essas pessoas, inclusive, Jesus,
agiriam de tal forma se não fosse eficaz? No Getsêmani, Jesus expôs seus
sentimentos, porém não há indícios de que Ele tenha ficado com medo do Diabo
ouvir. Seja sincero, você consegue imaginar Jesus, o próprio Deus, com medo de
orar em voz alta por causa de Satanás? Desculpe-me, mas isso é conferir muito
poder ao Diabo.
É inadmissível que alguém que pede algo a
Deus, tema que isso não se realize porque Satanás ouviu. Se pensarmos assim,
temos que concluir que com Satanás, nem Deus pode. Ora, vamos raciocinar: eu
estou pedindo a Deus, o soberano, o todo-poderoso, aquele que criou tudo o que
existe, inclusive Satanás. Portanto, se Ele quiser que algo aconteça ninguém
poderá impedir. Satanás pode ouvir, pode até ver, mas não pode fazer nada que
contrarie a vontade de Deus. Um exemplo clássico disso é o texto de Jó, onde
Deus delimita a ação do Diabo na vida do seu servo (Jó 1.12; 2.6). Além disso,
como fica o texto de Isaías 43.13 ([..] operando eu, quem impedirá?), se
Satanás pode impedir o agir de Deus? Como fica a soberania de Deus? Complicado,
não é?
Outro problema
relacionado a essa concepção é a invalidade das orações públicas feitas em
nossas igrejas. Até porque, já que Satanás pode ouvir e impedir a “bênção”, por
que oramos em voz alta em nossos cultos públicos? O mais interessante é que
orações públicas são realizadas em todas as igrejas, inclusive nas que crêem
nessa heresia. Contraditório, não é? Como pode um ponto de vista que não é fundamentado
pela Bíblia e nem pela prática conseguir tantos adeptos? Só uma coisa pode
fazer isso: a falta de conhecimento. Por isso, Deus afirma em Oséias 4.3a: “o
meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento”.
De fato, o
desconhecimento da Escritura tem dado a Satanás mais poderes que o Superman.
Nada pode detê-lo. Ele não pode mais apenas ser expulso, tem de ser “amarrado”
(com cordas espirituais?!?!?). Nem o que a Bíblia diz (1Jo 5.18) é capaz de
impedi-lo, visto que, conforme defendem alguns, ele pode “possuir” até crentes
genuínos. Sabe, parece até aqueles filmes norte-americanos, nos quais ninguém
consegue vencer o Diabo. Pode ir padre, pastor, caça-fantasmas, etc. Não há
como vencê-lo. Ele entra em igrejas, rasga Bíblias, bate em pastores, etc.
De acordo com os
idealizadores do Super Diabo, para que consigamos prevalecer, é necessário
aprendermos as estratégias do Inimigo. É a partir daí que ex-satanistas passam
a ensinar nas igrejas receitas para enfrentar a “batalha espiritual”, deixando
a Bíblia de lado e tomando por base o que diz o satanismo sobre a ação de
Satanás. Olha só que absurdo! A Bíblia não é mais suficiente. O ensino agora
tem de vir do próprio Satanás! Isso lhe confere mais autoridade que a Palavra
de Deus.
O pior de tudo é a
idéia, defendida por alguns crentes, de que em um culto só há manifestação de
poder se pessoas ficarem endemoninhadas. Tal pensamento revela a primazia de
Satanás no coração dessas pessoas. A transformação que Deus opera nos corações
não é tão relevante, não proporciona entretenimento. Isto porque, nos dias de
hoje, poder está associado a show, a efeitos especiais, a performances
teatrais. Nesse contexto, uma mera conversão não chama atenção. É triste, mas
esse é o pensamento de muitos no meio “evangélico”.
Ademais, há pessoas que
tem tanto medo do Diabo que a simples menção de um de seus nomes já causa
temor. Por conta disso, surgem diversos apelidos eufêmicos, tais como:
encardido, capiroto, vermelhinho, bicho ruim, etc. Há, inclusive, quem se
refira a ele sem dizer nada, só fazendo um sinal com a mão, apontando para o
chão. Muitos agem assim por pensarem que pronunciar o seu nome atrai coisas
ruins. Como exemplo, quero citar uma frase que ouvi de um evangélico após a
pregação de um pastor: “não gostei da mensagem daquele pastor. Ele falou muitas
vezes no Diabo. Que coisa horrível! Igreja não é lugar disso! Atrai até coisa
ruim!”
Sem dúvida, o argumento
supracitado carece de base bíblica. É um absurdo dizer que referir-se a Satanás
verbalmente, pode atraí-lo ou atrair coisas ruins. Primeiro, porque a Bíblia
diz que ele já “anda em derredor” (1Pe 5.8), ou seja, não há a necessidade de
atraí-lo, pois ele já está “buscando a quem possa tragar”. Segundo, porque as
Escrituras se referem inúmeras vezes, de forma direta, a Satanás. Só no Antigo
Testamento, o hebraico Satan aparece
27 vezes (MITCHEL, 1996). No Novo Testamento, Jesus (Lc 22.31), Paulo (1Ts
2.18), Pedro (1Pe 5.8) usam o nome Satanás. Em adição, o nome Diabo, de acordo
com Russel Shedd (1995, p. 87), aparece “nada menos de 35 vezes na Biblia”. É
importante frisar também que as Escrituras usam outros nomes para referir-se a
esse personagem. Shedd (Ibid.) enumera alguns deles, a saber: tentador (Mt
4.3), Belzebu (Mt 12.24), Belial (2Co 6.15), Serpente (2Co 11.3), Dragão (Ap
12.12), Leão que Ruge (1Pe 5.8), deus deste mundo (2Co 4.4), Maligno (Mt
13.19), etc. Ora, se a própria Bíblia fala tantas vezes de Satanás, por que eu
devo ter medo de proferir um de seus nomes, achando que isto pode atraí-lo ou
mesmo trazer coisas ruins? Se assim fosse, quando lêssemos, em nossas igrejas,
esses textos em voz alta, estaríamos atraindo Satanás ou trazendo “maus
fluidos”.
O mais espantoso é que
tal comportamento demonstra um respeito muito maior para com o Diabo do que
para com Deus. Porquanto, referências ao Senhor são freqüentes nas interjeições
(Ai meu Deus! Jesus!), nas respostas (se Deus quiser!), nas piadas, nos jargões
pentecostais (Fala Deus! É Jeová! Êta Jeová!), os quais são muitas vezes
empregados em gracejos, etc. É como se o pensamento fosse esse: “com Deus eu
posso brincar, posso deturpar a Sua Palavra, fingir que sou crente, roubar sua
Igreja, desobedecê-lo, fazer piadas com seu nome, porque Ele é bom demais. Mas
com Satanás... ah, com esse não se brinca, pois ele arrebenta mesmo!”
Olhando por esse
prisma, parece que há uma batalha desigual. Parece que Deus é semelhante a um
menino “nerd” e Satanás equivale ao espertalhão que espanca os amigos desse
menino. Parece que o “mal” é sempre mais poderoso. É por advogar esse
pensamento que muitos crentes andam por aí com medo de macumbas, feitiçarias,
buscando refúgio em palavras mágicas (Tá repreendido!) e em amuletos (rosa
ungida, sal grosso, etc). Existem cristãos que tremem de medo quando vêem
alguém endemoninhado. A primeira coisa que fazem é chamar o pastor. Dizem crer
em um Deus todo-poderoso, que os guarda, mas vivem com medo de uma das
criaturas desse Deus. Como isso é possível?
A Bíblia não confere
super poderes ao Diabo. Ao contrário, ela afirma que “o poder pertence a Deus”
(Sl 62.11). Jesus disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18);
e completou: “e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos” (Mt 28.20). O Deus todo-poderoso está conosco, não precisamos ter medo
do Diabo. Até porque, a Bíblia diz que “o que de Deus é gerado conserva-se a si
mesmo, e o maligno não lhe toca” (1Jo 5.18).
Segundo a Escritura
Satanás foi o primeiro Ser a ser destituído da glória de Deus (Is 14.12-15; Ez
28. 12-18; Ap 12.4). Em função disso, ele ganhou um passaporte garantido para o
tormento eterno (Mt 25.41; Ap 20.10). Faça o que fizer, ele não pode mudar seu
futuro. Isto revela a soberania de Deus e a pequenez do Diabo. Ao contrário do
que muitos pensam, ele não pode fazer o que quer. Só pode transitar dentro dos
limites que Deus lhe impôs. Por que temer quem está manietado (Mt 12.29)? As Escrituras
declaram que Jesus veio “para desfazer as obras do Diabo” (1Jo 3.8), ou seja,
nem as suas obras podem ser permanentes. Onde está, então, todo o poder que lhe
atribuem? Simplesmente não existe.
A Bíblia nos ensina com
clareza a postura que devemos assumir ante as astutas ciladas de Satanás.
Vigilância (1Pe 5.8), resistência (1Pe 5.9, Tg 4.7), não dar lugar ao Diabo (Ef
4.27), orar (Ef 6.18), fé (Ef 6.16), sujeição a Deus (Tg 4.7), buscar forças no
Senhor (Ef 6.10), etc. Em momento algum a Palavra de Deus nos diz para termos
medo dele. Até porque, se Satanás está em derredor, Jesus está conosco (Mt
28.20). Não precisamos temer as macumbas, as feitiçarias, o endemoninhado, etc;
não precisamos andar por aí repreendendo tudo, usando amuletos ou participando
de rituais, afinal somos cristãos, não pagãos. O que realmente precisamos é ter
mais contato com Deus e com sua Palavra.
Pr. Cremilson Meirelles
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Tradução de João Ferreira de
Almeida. Rio de Janeiro: CPAD. 1995. 2012 p.
MITCHEL, Larry A. Estudos do vocabulário do Antigo Testamento.
Tradução de Luiz Alberto T. Sayão. São Paulo: Vida Nova, 1996. 152 p.
SHEDD, Russel
P. O Mundo, a Carne e o Diabo. São
Paulo: Vida Nova, 1995. 126 p.
O SUPER DIABO
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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Gostei! O tema é bastante legal. Infelizmente ainda há crentes com medo do diabo isso porque os líderes que não ensinam.
ResponderExcluirVerdade. Muitos preferem não ensinar, e muitos preferem não aprender. A situação está cômoda.
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