Noutro dia, deparei-me, na
internet, com um sermão intitulado “Jesus: o Deus promíscuo”. Embora o título,
por si só, tenha produzido certa desconfiança em relação ao conteúdo, decidi
assistir, a fim de verificar do que se tratava. Surpreendi-me ao perceber que o
pregador, um teólogo de renome, fez considerações que davam a entender que a
conversa entre Jesus e a mulher samaritana (João 4.3-42) poderia ter uma
conotação sexual. Isto porque, de acordo com o referido pregador, a expressão
“água viva” (João 4.10), utilizada pelo Filho de Deus, seria um eufemismo
(figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis a fim de suavizar uma
expressão) para a ejaculação do sêmen. Sendo assim, ao oferecer a “água viva”,
a declaração de Jesus teria dado margem para que a mulher imaginasse que o
Cristo desejava ter intimidade com ela, o que, conforme defendeu o pregador,
provavelmente, passou pela cabeça dela. Será que essa argumentação tem
fundamento? A fim de responder esse questionamento, analisaremos o uso da
expressão “água viva” ao longo das Escrituras Sagradas.
Em primeiro lugar, é
importante salientar que, se realmente “água viva” é uma expressão de “duplo sentido”,
podendo significar, inclusive, “esguicho de sêmen”, como disse o pregador, quem
ouviu o discurso de Jesus em João 7.37,38 deveria ter concluído que, se cresse
n’Ele, nunca mais correria o risco de se tornar impotente. No entanto, a
conclusão dos ouvintes não foi essa. Ao contrário, como diz a Bíblia, “muitos
da multidão, ouvindo essa palavra, diziam: Verdadeiramente, este é o Profeta”
(João 7.40). Ora, se Jesus, usando as mesmas palavras gregas, ydor
(água) e záo (viva), sem nem ao menos explicar o sentido em que
as empregou (quem explica, na verdade, é o evangelista – João 7.39), foi
reconhecido como “o profeta” (certamente, uma referência ao profeta anunciado
por Moisés, em Deuteronômio 18.15), como, pois, a mulher samaritana poderia
pensar diferente?
Outrossim, conquanto a
expressão “água viva” permita uma dupla interpretação, claramente, à luz do
contexto, pode-se perceber que nenhum dos caminhos hermenêuticos levaria a
mulher a cogitar a conjunção carnal com o Filho de Deus. Porquanto, na resposta
da mulher fica evidente que a mesma entendera literalmente a assertiva de
Jesus: “Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens
a água viva?” Isto é, ela entendeu que a “água viva” seria o mesmo que “água
nascente” ou “água corrente”, expressão que aparece em Gênesis 26.19
referindo-se à água que brota do solo. Por isso, os obstáculos colocados por
ela são: a falta de um balde com corda e a profundidade do poço (João 4.11).
Afinal, como alguém conseguiria extrair a tal “água viva”, que borbulha no
fundo do poço, por baixo da água parada, que fica na parte superior, sem nenhum
equipamento? Sendo assim, fica bem claro que a “dupla interpretação” presente
no texto é literal (entendimento da mulher) e metafórica (perspectiva de Jesus),
e não eufêmica, como afirmou o pregador.
Não obstante, é importante
ressaltar que há, no hebraico bíblico, um termo que, embora signifique “emissão
de sêmen” (shᵉkābâ), é usado, de certa forma, para referir-se à água.
Todavia, isso só ocorre em um único texto (Êx 16.13,14), no qual o termo
designa a “camada” de orvalho no chão, e não a água corrente ou nascente. Em
todos os outros textos, entretanto, a mesma palavra (shᵉkābâ) dá a ideia
de “ejaculação”. Além disso, há uma expressão hebraica bem específica para
designar “água viva”. Trata-se do hebraico mayim hayyîm, normalmente,
traduzido como “água viva”, “água nascente” ou “água corrente” (Gênesis 26.19;
Levítico 14.5; Números 19.17). Essa expressão, em momento algum dá margem para
uma tradução “imprópria para menores” ou com “conotação sexual”. Logo, a
declaração do pregador é falsa.
Apesar disso, alguns
intérpretes, visando absolvê-lo, argumentam, com base nas informações do
dicionário online de hebraico e grego bíblico, disponível no site http://dosenhor.com,
que o termo mayim pode significar, por eufemismo, “urina” ou “esperma”.
É bem verdade que o eufemismo relativo à urina é muito bem atestado por
diversos dicionários. Porém, o suposto sentido de “sêmen” carece que respaldo
linguístico. Acerca disso, é importante sublinhar que o dicionário de
Hebraico-Português e Aramaico-Português (KIRST, 2004) coloca em dúvida esse
“eufemismo”. Até porque, mesmo que houvesse tal possibilidade, o fato de essa
palavra ser usada nas Escrituras com vários sentidos diferentes, torna difícil
concluir que, com tantas interpretações possíveis, a mulher samaritana optasse
logo por um eufemismo incerto. Senão vejamos: o hebraico mayim é
empregado na Bíblia como “águas dos rios” (Nm 24.6) e “dos mares” (Êx 14.21),
“água para ablução ritual” (Êx 29.4), “suco”, como metáfora para o anelo por
Deus (Sl 42.1), e como lágrimas que escorrem (Jr 9.18). Ademais, ainda que esse
“significado” (esperma) fosse válido, diria respeito apenas ao termo mayim, e
não à expressão mayim hayyîm, haja vista que esta nunca foi utilizada
como referência ao “jorro” do líquido seminal.
Outro aspecto importante no
tocante ao uso de mayim, é que, no contexto conjugal, o termo aparece
como metáfora para a conjunção carnal. Dessa maneira, “beber da própria fonte
descreve o prazer sexual com a esposa (Pv 5.15; Ct 4.15), enquanto beber águas
roubadas descreve relacionamentos ilícitos com uma meretriz (Pv 9.17)”
(VANGEMEREN, 2011, p. 931). No entanto, assim como mencionamos acima, além de
se tratar de uma metáfora restrita ao casamento, esse significado diz respeito
somente ao hebraico mayim, e não à expressão mayim hayyîm, visto
que esta não possui essa conotação. Basta verificar seu uso nas Escrituras!
Inobstante, temos de
reconhecer que, conquanto seja necessário traçar um histórico do uso da
expressão “água viva”, a fim de apresentar o pano de fundo cultural do diálogo
entre Jesus e a samaritana, essas informações são insuficientes para fechar a
questão. Isto porque, embora o encontro narrado em João 4 tenha sido escrito em
grego, o diálogo se deu em aramaico. Logo, para uma análise mais precisa,
é imprescindível verificar a versão aramaica das Escrituras: a Peshita. Ao
fazer isso, fica evidente a correspondência de sentido, uma vez que a expressão
“água viva”, usada em João 4.10, é traduzida pelo aramaico mayāʼ chayēʼ, construção
bastante similar ao hebraico mayim hayyîm, que significa, literalmente, “água
viva”, sem qualquer conotação sexual.
Em face disso, resta-nos agora
analisar a expressão no grego koiné (idioma empregado na redação do Novo
Testamento). Todavia, como os textos neotestamentários foram construídos a
partir de uma mentalidade judaica, a expressão “água viva” deve ser analisada à
luz do grego da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento). Porquanto, só
assim os “hebraísmos” dos evangelhos poderão ser reconstruídos. Seguindo esse
raciocínio, verificamos que em Gênesis 26.19, na Septuaginta, a expressão grega
usada para traduzir o hebraico mayim hayyîm, é mesma empregada pelo
evangelista em João 4.10 e em 7.37,38, a saber: ydratos (outra forma de ydor
= água) zontos (outra forma de záo = viva). Ora, essas
palavras não têm ligação alguma com a ejaculação. Aliás, o grego possui uma
palavra bem específica para isso; trata-se do termo “esperma”. Por conseguinte,
a conclusão inevitável é que, se as palavras são as mesmas, o sentido também
deve ser o mesmo. Até a mulher samaritana compreendeu isso! Tanto, que associou
a “água viva” ao poço, tal como ocorre em Gênesis 26.19. Portanto, a afirmação
feita pelo pregador não tem fundamento.
Outra imprecisão que
aparece na prédica em questão é a afirmação de que Jesus teria empregado
o termo bā‘al ao solicitar que a mulher chamasse seu marido, haja vista
que, conforme o pregador, marido, na Bíblia, é bā‘al. No entanto, ainda
que o termo bā‘al, dependendo do contexto, possa ser traduzido como
marido, não é a única palavra utilizada para isso; pois, tanto no hebraico
quanto no grego há mais de uma palavra empregada com referência ao marido. A
primeira palavra usada nesse sentido é o hebraico îsh (Gn 3.6), que
também pode ser traduzido como “homem”. Acerca desse termo, é necessário frisar
que ele está presente na esmagadora maioria das vezes em que a palavra “marido”
aparece em nossas Bíblias. O hebraico bā‘al, ao contrário, só é usado
como referência ao cônjuge varão quando o contexto indica senhorio ou
pertencimento. Por exemplo: quando Abimeleque tomou Sara, pensando que fosse
solteira, Deus o advertiu em sonhos, declarando que ela tinha um bā‘al
(Gênesis 20.3). Isto é, ela pertencia a outro homem. Há ainda outros termos
utilizados com menor frequência para designar o marido, porém é muito mais provável
que o termo ʼîsh tenha sido usado na fala de Jesus. Afinal de contas,
esse é o uso mais comum da palavra. Talvez, por essa razão, as versões
hebraicas do Novo Testamento tragam ʼîsh como tradução do grego andra
(marido). Entretanto, a bem da verdade, cabe sublinhar que, no versículo 18 do
capítulo 4 de João, as versões hebraicas traduzem o grego andras (maridos)
pelo hebraico bā‘alîm. É claro, no entanto, que a utilização dessa
palavra tem o propósito de destacar que a mulher samaritana “pertenceu” a cinco
homens, concordando com o uso veterotestamentário do termo. Contudo, embora
esse dado forneça alguma fundamentação para o argumento do pregador em pauta, à
luz do que foi apresentado acima, fica bem claro que Jesus não mandou a mulher
chamar o seu bā‘al, mas sim o seu ʼîsh.
Ademais, como se não bastasse,
o pregador foi ainda mais longe: comparou os fundamentalistas cristãos aos
fundamentalistas islâmicos! Ora, isso é claramente um absurdo! O
fundamentalismo cristão nada tem a ver com o fundamentalismo islâmico! Na
verdade, o chamado “fundamentalista cristão” é o cristão que defende os
fundamentos da sua fé. Foi assim que os conservadores norte-americanos ficaram
conhecidos a partir de 1920, em razão de seus embates com os adeptos do
liberalismo teológico. Há quem pense que o nome tenha sido cunhado por Curtis
Lee Laws, uma vez que, em 1920, ele o utilizou no jornal the baptist
watchman examiner para referir-se àqueles que lutavam pelos fundamentos da
fé cristã, a saber: a crença na inerrância da Bíblia; o nascimento virginal e a
divindade de Cristo; a morte vicária e expiatória de Jesus Cristo; a
ressurreição pessoal de Jesus Cristo e a segunda vinda de Cristo. Apesar disso,
segundo Leonardo Boff (2002), “o termo foi cunhado em 1915, quando professores
de teologia da Universidade de Princeton publicaram uma enorme coleção de doze
livros que vinha sob o título Fundamentals. A Testemony of the Truth (1909-1915)”.
Contudo, enquanto o
fundamentalismo cristão surgiu como uma reação a um movimento que brotou no
seio do cristianismo, o fundamentalismo islâmico originou-se da insatisfação
dos muçulmanos diante do domínio britânico no Egito e da criação do Estado de
Israel. Isto é, sua origem está muito mais ligada à política que à religião.
Senão vejamos: em 1928, propulsionados pelos ensinos de Hasan Al Banna (1906-1949),
um professor egípcio da cidade do Cairo, os muçulmanos da região se uniram e
fundaram a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos; uma irmandade caracterizada pela
rejeição do colonialismo britânico e dos valores ocidentais. Seguindo esse
espírito, Banna formulou alguns pontos fundamentais que passaram nortear
suas ações: “(1) interpretação do Alcorão no espírito da época; (2) unidade das
nações islâmicas; (3) melhoria do padrão de vida e conquista de justiça e ordem
social; (4) combate ao analfabetismo e à pobreza; (5) emancipação do domínio
estrangeiro; (6) promoção da paz e da fraternidade islâmicas no mundo.”
(ARMSTRONG, 2001, p. 188).
Após a criação do Estado de
Israel e a derrota dos exércitos árabes diante dos israelitas, a revolta levou
a irmandade a fazer do terrorismo o meio para a consecução de seus objetivos.
Então, em 1951, Abul Ala Mawdudi (1903-1979), jornalista e político
paquistanês, baseando-se na doutrina da soberania divina, redigiu diversos
textos nos quais advogava a instauração do Estado islâmico, ou seja, um Estado
baseado no alcorão e nos fundamentos do Islã, o qual, segundo Mawdudi,
deveria ser totalitário. Partindo desse pressuposto, Mawdudi propunha
uma jihad (luta) universal; uma espécie de “luta revolucionária para
assumir o poder pelo bem de toda a humanidade”. Sayyid Qutb (1906-1966),
influenciado por esse pensamento, desenvolveu ideias ainda mais radicais, cuja
divulgação levou os muçulmanos a se revoltarem contra toda cultura ocidental. A
partir daí, diversos outros grupos extremistas surgiram, disseminando o terror
no mundo.
Sem dúvida, a ação terrorista
de fundamentalistas islâmicos fez com que houvesse uma generalização do
fundamentalismo como uma postura que, inevitavelmente, conduz à violência,
fanatismo, bombas, etc. Todavia, como podemos perceber, o fundamentalismo
islâmico se alinha muito mais com essa perspectiva, pois visa à instituição de
Estados islâmicos e a eliminação de toda cultura ocidental por meio do
terrorismo, tal como fizeram os defensores do marxismo no passado. O
fundamentalismo cristão, por outro lado, busca vencer a secularização (e não
toda a cultura ocidental) através da pregação e do ensino, como fez John
Gresham Machen (1881-1937) no Seminário de Princeton no início do século
XX. Isto é, enquanto a “luta” do fundamentalismo islâmico se dá no campo
físico, a do fundamentalismo cristão se dá no intelectual. Até porque, se
levarmos em conta que os fundamentalistas defendem a inerrância e
infalibilidade das Escrituras, e estas os concitam a amar até os inimigos, não
seria lógico propagar o ódio contra quem quer que seja.
O grande problema é que o discurso
dos fundamentalistas cristãos contraria o pensamento secularizado da maioria,
que, embora defenda o acolhimento das mais variadas ideologias, costuma encarar
toda e qualquer convicção que não se alinhe com seus pressupostos, como
fanatismo, radicalismo, terrorismo, ou qualquer outro adjetivo que indique
inferioridade intelectual e violência; o que é uma imensa contradição.
Por falar em contradições, no
vídeo em questão, o pregador, depois de asseverar que os homossexuais e as
prostitutas deveriam ser recebidos à mesa pelos cristãos, e insinuar que os
cristãos fundamentalistas jamais permitiriam tal coisa, sugeriu que se um
fundamentalista cristão estivesse diante de um cristão liberal e um
fundamentalista islâmico, e tivesse de escolher um deles para jantar,
certamente, escolheria o muçulmano, haja vista que, segundo o pregador, todo
fundamentalista pensa e age da mesma maneira. Ao fazer essa declaração, ele
incorreu no mesmo erro de que acusou os cristãos fundamentalistas. Afinal de
contas, por que um fundamentalista islâmico deve ser desprezado enquanto
prostitutas e homossexuais são acolhidos? Ainda que a situação seja hipotética,
não seria isso acepção de pessoas? Sinceramente, creio que um verdadeiro
fundamentalista cristão receberia tanto o liberal quanto o muçulmano, uma vez
que a pregação do evangelho, enquanto comunicação verbal da mensagem salvífica,
a toda criatura (sem exceções) é algo defendido por todo cristão
fundamentalista. Assim, enquanto o liberal faz sua opção pelos pobres e marginalizados,
o fundamentalista escolhe as Sagradas Escrituras, cujo conteúdo o ensina a não
fazer acepção de pessoas.
Além disso, não se pode
circunscrever a violência, a intolerância e a inflexibilidade aos arraiais
fundamentalistas. Basta ouvir o testemunho da história, a qual, entre 1914 e
1945, registrou cerca de 70 milhões de mortes violentas na Europa e na União
Soviética, nenhuma das quais foi motivada pelo fundamentalismo cristão. Ao
contrário, como ressalta Armstrong (2001, p. 171),
Algumas
das piores atrocidades foram cometidas pelos alemães, que viviam numa das
sociedades mais refinadas do continente. Não se podia mais esperar que uma
educação racional impedisse a barbárie, pois o Holocausto revelou que o mesmo
bairro que abrigava uma grande universidade podia abrigar também um campo de
concentração. [...] Até então nenhuma sociedade sequer sonhara em implementar
planos de extermínio tão ambiciosos. Os horrores da II Guerra Mundial (1939-45)
só terminaram com a explosão das primeiras bombas atômicas sobre as cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Foi uma terrível demonstração do poder da
ciência moderna e o germe do niilismo na cultura moderna. Durante décadas
sonhou-se com um apocalipse efetuado por Deus; agora parecia que a humanidade
não precisava mais de uma força sobrenatural para destruir o mundo. Com sua
prodigiosa capacidade e seus vastos conhecimentos, encontrara os meios de fazer
isso por si mesma.
Destarte, mesmo que o referido
pregador e seus seguidores vejam o fundamentalismo como algo extremamente
maléfico e violento, não encontro razões suficientes para esse raciocínio. Porquanto,
do mesmo modo que alguns fundamentalistas demonstram-se violentos e agressivos,
muitos liberais, relativistas e esquerdistas agem da mesma forma quando
contrariados.
Uma contribuição importante a
respeito dessas contradições é feita por Aldo Natale Terrin (1998, p.44), o
qual destaca que
ninguém
pode olhar a realidade a partir de um Unmaked Place (lugar
não-determinado), de um ponto de vista “neutro”, “objetivo”, capaz de captar os
limites das posições dos outros sem incorrer, por sua vez, num olhar
“deformador” da realidade, que corresponde à sua esfera de influência ou à sua
concepção de verdade, isso significa que acusar de fundamentalismo um movimento
ou uma religião é já uma “transgressão”, uma vez que se usa um critério de
avaliação geral muito aleatório, dado que nasce e se situa inevitavelmente num
contexto “perspectivo”, colocando-se com habilidade fora de contextos análogos
e além de um horizonte limitado.
À luz de todas essas considerações, e
contrariando o pensamento corrente, vejo mais benefícios que malefícios no
chamado “fundamentalismo cristão”, visto que, conforme explica o antropólogo
Ernest Gellner (1994, p.13),
O fundamentalismo
é útil para a sociedade no sentido de que esse movimento torna-se um aliado no
reconhecimento do caráter absoluto da verdade, evitando a auto ilusão fácil
personificada pelo relativismo universal, nossos antepassados intelectuais. Sem
ceder à tentação da veneração excessiva da ancestralidade, é importante referir
que lhes devemos o nosso respeito
Outrossim, além das
dificuldades mencionadas acima, há afirmações na referida preleção que
dão margem para conclusões universalistas. A mais evidente é: “Deus não é
exclusividade dos cristãos”. Isto porque, tal asserção é, na verdade, uma
insinuação de que nos outros segmentos religiosos cultua-se a mesma divindade
que se revelou por meio da Bíblia. É claro, entretanto, que, ao ler isso,
alguém pode objetar argumentando que aquela declaração visava somente
desencorajar a ideia de superioridade do cristão em relação ao pagão, e
incentivar a prática do amor; só que não é isso o histórico desse pregador dá a
entender.
Não obstante, mesmo que
saibamos, como cristãos, que somos exclusividade de Deus, devemos entender
também que esse Deus que exige exclusividade, exige também que não seja
confundido com nenhuma outra divindade. Por isso, em Sua Palavra diz que todos
os povos devem saber disso: “[...] para que todos os povos da terra saibam que
o SENHOR é Deus e que não há outro” (1Reis 8.60). “Para que se saiba desde o
nascente do sol e desde o poente que fora de mim não há outro; eu sou o SENHOR,
e não há outro” (Is 45.6).
Visto isso, conquanto o
pregador em tela seja detentor de grande carisma e conhecimento, e, por isso,
venerado por muitos, penso que suas conclusões e argumentações no vídeo
analisado estão equivocadas. Pois, por mais que sua formação o habilite a
realizar pesquisas profundas sobre o assunto, expor suas especulações diante de
um público que não possui as mesmas ferramentas hermenêuticas, apresentando-as
como verdade absoluta, é um grande erro. Porque, inevitavelmente, em razão de
sua fama, muitos abraçarão suas declarações como absolutas, trilhando um
caminho assaz perigoso e cheio de contradições. Sendo assim, o melhor a fazer é
permanecer fiel às Escrituras, e não a pregadores famosos.
Deus o abençoe!
Pr.
Cremilson Meirelles
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VANGEMEREN,
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de Teologia e Exegese do Novo Testamento. Traduzido por Equipe de
colaboradores da Editora Cultura Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. 2 v.
DEUS PROMÍSCUO? EU HEIN!
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
on
23:57
Rating:
Excelente artigo, não deixa margem para dúvidas sobre a polêmica criada sobre o termo "água viva" parabéns!!!
ResponderExcluirObrigado. Fico feliz em poder ajudar.
ExcluirO pregador foi infeliz devido aos ouvidos não preparados para aquele detalhe fatídico da mensagem. No entanto, penso que ele usou uma possibilidade do que poderia passar pela cabeça de uma "mulher da vida" diante de um homem que se propõe ao diálogo. Uma mulher no 5° marido pode ser candidata a ter relações com um 6°. Mas... O povão evangélico não tá preparado pra ouvir nada que não seja
Excluir"politicamente correto".
Digo, 5a relação afetiva.
ExcluirObservação: o artigo do pr. Cremilson foi muito bem elaborado. Concordo plenamente com o conteúdo e foi bem esclarecedor.
ExcluirParabéns pela bela exposição!
ResponderExcluirObrigado. Deus o abençoe! Há mais textos relevantes no blog. Navegue por ele e confira.
ExcluirEu não assisti o vídeo e acho que não vou assistir. Fico me perguntando: com que finalidade o renomado pregador fez isso? Vivemos tempos difíceis! Um excelente artigo. Um grande abraço.
ResponderExcluirÉ verdade... os tempos são trabalhosos (2Tm 3.1).
ExcluirEm tempos difíceis, eu me pergunto porque pastores renomados, fazem apologia a violência, a armas, ouvi o Augusto Nicodemos quase se divertindo falando sobre ter uma arma(até falou o modelo) e atirar entre os olhos de um suposto bandido. Isso me causa estranheza ao pensar no Cristo.
ExcluirExcelente artigo. Fiquei muito intrigada com o sermão citado
ResponderExcluire sua explicação trouxe luz às minhas dúvidas.
Obrigada
Fico feliz em poder ajudar.
ExcluirHá outros textos igualmente esclarecedores e relevantes neste blog. Para ter acesso, basta navegar no blog através das abas localizadas na parte superior da página. Na aba artigos, você encontrará textos mais longos e abordagens mais trabalhadas; na aba pastorais, estão os textos que escrevo dominicalmente para o rebanho que pastoreio; na aba vídeos há uma série de vídeos nos quais discorro sobre o tema "batalha espiritual", criticando as heresias associadas ao moderno movimento de "batalha espiritual" (embora o áudio não esteja muito bom, pelo conteúdo vale a pena assistir); e na aba pregações, estão alguns dos sermões que já preguei, uns escritos e outros em áudio.
Espero que possa contribuir ainda mais para sua reflexão.
Seu texto realmente foi bem interessante, mas à semelhança de quem usa uma bazuca pra acertar um mosquito. O pastor pregou uma série de oito mensagens, me parece, tinha uma linha de raciocínio, tinha contexto, assunto. Não acha que exagerou ao pretender refutá-lo por uma expressão que, para quem quiser entender, encontra coerência no assunto e contexto de oito mensagens?
ResponderExcluirPorque não faz o mesmo caminho considerando não apenas essa mensagem, mas se valha da série completa. Talvez perceba onde estará o sentido da expressão. ,A não ser, que apenas aproveitasse da oportunidade pra vaidade escapar.
Obrigado por comentar. Esse feedback é muito importante. A partir dele é possível identificar as ideias que permeiam o imaginário evangélico.
ExcluirDessa forma, tenho percebido que quem tem um grande apreço pelo pregador mencionado no texto em questão, a fim de absolvê-lo, procura desqualificar a crítica ou o autor dela, argumentando que o material analisado é insuficiente ou que o crítico não tem o conhecimento necessário para compreender a exposição daquele pregador. De modo que, se o crítico analisar um trecho da mensagem, ele falhou porque não assistiu todo o sermão; se criticar todo o sermão, ele falhou porque não assistiu toda a série de mensagens; se ele criticar a série de mensagens, ele terá falhado por não ter assistido todos sermões que o indivíduo pregou naquele ano, e assim por diante.
Ao que parece, não há ser humano que seja suficientemente capaz de tecer alguma crítica contra o tal pregador.
Me desculpe, mas isso tem aparência de idolatria.