Pastoral redigida para o Boletim Dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa
“Não
julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes
sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”
(Mateus 7.1,2). Este, certamente, é um dos versículos mais mal interpretados de
toda a Sagrada Escritura. Porquanto, o usam para defender a ideia de que Jesus
condena a utilização do senso crítico, o que nada tem a ver com o contexto. A
advertência do Mestre é direcionada ao julgamento hipócrita, praticado
continuamente pelos fariseus. Até porque, se Sua intenção fosse proibir
qualquer tipo de julgamento, teríamos de admitir que o Filho de Deus se
contradisse, pois, em João 7.24, afirmou: “não julgueis segundo a aparência,
mas julgai segundo a reta justiça.” Ora, como poderia o Rei dos reis dizer algo
numa ocasião e, logo em seguida, mudar de ideia, sem nem explicar o porquê?
Seria, no mínimo, estranho.
Além
disso, há outras passagens bíblicas que incentivam o julgamento. Paulo, por
exemplo, ao orientar os coríntios acerca da resolução de conflitos no interior
da igreja, ressalta: “não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora,
se o mundo deve ser julgado por vós, sois, porventura, indignos de julgar as
coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as
coisas pertencentes a esta vida?” (1Coríntios 6.2,3)
Se
vamos julgar os anjos, como podemos ser impedidos de julgar questões menores?
Aliás, na mesma carta, o apóstolo declarou categoricamente: “e falem dois ou
três profetas, e os outros julguem” (1Coríntios 14.29). Mas como fazemos esse
tipo de julgamento? Da mesma forma que procederam os crentes de Beréia, os
quais “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se
estas coisas eram assim” (Atos 17.11).
O
mais interessante é que, se lermos todo o capítulo 7 de Mateus, veremos que, no
mesmo contexto (o sermão do monte), o mesmo Jesus que disse “não julgueis”,
ensina seus discípulos a julgar os profetas por meio de seus frutos (Mateus
7.15-20). Além do mais, em Mateus 12.34,
Jesus claramente julga os maus atos dos fariseus, chamando-os de “raça de
víboras” e de “maus”. Da mesma forma, em Mateus 23, Ele denuncia publicamente a
hipocrisia dos líderes religiosos, chamando-os de “insensatos e cegos” (Mateus
23.19).
Definitivamente,
é impossível ser um cristão de verdade sem julgar. Como saberemos, por exemplo,
que alguém anuncia um “outro evangelho” (Gálatas 1.8) se não julgarmos? Como
saberemos quem é herege (Tito 3.10, 2Pedro 2.1) se não julgarmos? Como
poderemos “condenar as obras infrutuosas das trevas”, se não julgarmos?
Mesmo
depois dessas explicações, ainda há aqueles que ficam com medo de condenar as
atitudes dos “apóstolos”, “bispos”, “missionários” e “pastores” que propagam
heresias a torto e a direito, porque os consideram “ungidos do Senhor”.
Querido, no Novo Testamento, todos somos ungidos do Senhor (1João 2.20). Não
existem “super crentes”! Davi disse que
não MATARIA Saul por ele ter sido ungido pelo Senhor, mas não deixou de
criticá-lo. Basta ler 1Samuel 24.10-16 para perceber que Davi critica Saul por
sua maldade.
Portanto,
alimentemo-nos constantemente da Palavra, de modo que possamos julgar
sabiamente, denunciando o falso ensino sempre que se nomear entre nós,
apontando os falsos apóstolos, tal como Paulo fez (2 Coríntios 11.13), a fim de
que o rebanho seja protegido dos “lobos cruéis” (Atos 20.29) e o Evangelho de
Jesus Cristo seja continuamente proclamado.
Pr. Cremilson
Meirelles
O CRISTÃO PODE JULGAR?
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
on
13:10
Rating:
Nenhum comentário: