Sermão pregado na PIB em Manoel Corrêa, Cabo Frio, no Culto do dia 09/03/2014
Texto Base: Nm 10.1-10
Texto Base: Nm 10.1-10
Em nosso cotidiano, uma
infinidade de sinais sonoros é empregada com o fito de transmitir mensagens.
Essa codificação de sons contribui para organizar as relações sociais, ordenando,
assim, a sociedade como um todo. Há, por exemplo, campainhas que anunciam o
início das aulas nos colégios, sirenes que informam situações de emergência,
sinais de alarme, toques de telefone, etc.
Esse uso do
som, entretanto, é bem mais antigo do que pensamos. O texto em pauta é um
exemplo claro disso, visto que relata um episódio ocorrido há mais de três mil
anos, onde um elaborado sistema de sinalização sonora é dado ao povo a fim de
facilitar as convocações. O próprio Deus, preocupado com a organização do povo
que formara, determinou o uso de duas trombetas para, através delas, organizar
o convívio social e a vida religiosa. É óbvio, no entanto, que esse sistema foi
criado exclusivamente para o povo de Israel. Mesmo assim, ao ler o texto, é
possível perceber que há nele princípios que se aplicam à Igreja de Cristo. Até
porque, assim como as campainhas e os sinais de alarme, as trombetas de Nm 10
transmitem uma mensagem que ecoa ao longo das gerações. Por isso, à luz do
texto quero trazer à lume essa mensagem há muito esquecida, a saber: “a
mensagem da trombeta”.
1 - O sistema das trombetas
aponta para a obediência.
Embora
o sistema das trombetas fosse muito bom, para que funcionasse perfeitamente era
necessário que os ouvintes obedecessem aos toques. Essa obediência evidenciaria
um alto nível de submissão a Deus e ao seu sistema. Até porque, os toques
apenas reproduziriam as ordens do Senhor, não eram, na verdade, a Sua voz. Ora,
fazer com que outros nos obedeçam através de palavras já é uma tarefa árdua,
visto que muitos são naturalmente desobedientes; alguém capaz de obedecer a um
simples sinal sonoro, sem a necessidade de coerção verbal, sem dúvida, alcançou
um elevado patamar de obediência. Até porque, era perfeitamente possível que
alguns descumprissem a ordem sonora se, porventura, estivessem em um local onde
ninguém pudesse vê-los. Afinal de contas, em todo lugar há pessoas que agem
assim. Todavia, a instituição do sistema de trombetas constitui um apelo do
Senhor ao coração do povo, requerendo uma disciplina consciente, ou seja,
obediência sem a necessidade de ameaças ou sermões.
Não
há dúvidas de que esse princípio se aplica à igreja contemporânea, uma vez que,
para ordenar suas ações e o convívio social, a mesma está recheada de regras.
Todavia, nem todos estão dispostos a obedecer às suas normas. As igrejas
locais, de um modo geral, independente da denominação, sempre possuem em seu
rol de membros indivíduos desobedientes, insubmissos e insurgentes. É tétrico,
mas nem todos conseguem seguir regras. O líder convida todos a se porem em pé,
mas sempre tem alguém, com a saúde perfeita, que permanece sentado; pede que
façam silêncio, mas alguns continuam falando; estabelece um horário para início
da programação, mas a maioria não cumpre. Será que nos enquadraríamos no
sistema de trombetas? Ainda bem que era só para Israel... ufa!
As
normas de nossas comunidades de fé também precisam ser cumpridas, pois
viabilizam o bom andamento da obra de Deus, assim como uma boa vida comunitária.
Não obstante, conquanto essas regras digam
respeito, em sua maioria, à igreja local, não devem, por isso, ser
descumpridas. Cada denominação mantém a ordem de maneira particular. Isto,
contudo, não invalida suas normas e preceitos; porquanto, também há textos
bíblicos que comportam inúmeras interpretações, mas estas não invalidam tais
trechos da Escritura. Assim, devemos obedecer às regras inerentes ao contexto
eclesiástico do qual decidimos fazer parte. Até porque, muitos acabam gastando,
desnecessariamente, suas energias lutando contra regras da igreja local, quando
poderiam usar suas forças para proclamação do Evangelho.
Outrossim,
quando olhamos mais de perto o texto em questão percebemos que embora o uso das
trombetas fosse ordenado pelo próprio Deus, a execução dos toques era feita
pelos sacerdotes. Isto poderia fazer com que muitos optassem por desobedecer,
advogando seu posicionamento com a seguinte justificativa: “Se fosse Deus
falando, eu obedeceria, mas esse camarada aí... É homem igual a mim. Por que
tenho que obedecê-lo”? Infelizmente, essa tem sido a postura de alguns, na
igreja moderna, que não reconhecem a autoridade do líder. Não estou aqui
falando daquela balela de “ungido do Senhor”, refiro-me à incapacidade de
alguns de se submeterem aos seus líderes, descumprindo o que diz Hebreus 13.1.
Na verdade, nem precisaria dessa citação para condenar a insubmissão, basta
pensar com lógica. Ora, se há um líder e eu faço parte do grupo sobre o qual
ele liderará, eu tenho o dever de seguir suas orientações. Ao desobedecer à
liderança, o indivíduo gera um conflito que pode, inclusive, prejudicar a
consecução da obra evangelística.
Amado,
ajude seu líder; não espere que ele fale duzentas vezes para só então atender
seu pedido. Quando você desobedece ou se insurge, faz com que o líder
concentre, desnecessariamente, suas energias em você, deixando de envidar
esforços para a agregação de mais almas. Ore pelo seu pastor, ouça suas
recomendações, atenda seus pedidos. Ele não é melhor que você, mas é seu líder,
ajude-o.
2 - O sistema das trombetas ressalta
a importância da unidade.
No
texto, fica bem claro que o propósito dos toques é a reunião do povo, fosse
para uma investida militar, solenidades, momentos de alegria ou culto, o foco
era o ajuntamento da nação. Isto mostrava a cada indivíduo que, por mais que
cada um tivesse sua vida, todos faziam parte de algo maior, o povo de Deus.
Toda e qualquer atividade deveria ser realizada em conjunto, como povo; só quem
fosse do “povo” entenderia a mensagem e a atenderia. Era justamente essa
unidade que faria de cada um parte do povo escolhido. Viver em unidade era ser
povo de Deus, não havia como desprezar as reuniões e fazer parte da nação. Por
conta disso, Deus estabelece aquele sistema de sinalização sonora, para que,
como um alarme, apontasse para a identidade e a unidade dos israelitas.
Olhando
por esse prisma, fica evidente a importância que o Senhor dava à unidade do
povo. Esse também é o Seu propósito para a Igreja. Não há como dizer que somos
servos de Deus, que amamos a Cristo, se não amamos a Sua noiva, o Seu corpo.
Seria o mesmo que um homem dizer à sua esposa: “olha, gosto muito de você, mas
não quero relacionamento com o seu corpo”. Que absurdo! Não há como ser de
Cristo sem ser igreja; não há como ser igreja e não se reunir com os irmãos. É
na unidade da igreja que Cristo opera. Foi através dessa unidade que Ele atuou
ao longo da história. Como poderia eu me afastar do Seu corpo com a desculpa de
que lá só existem hipócritas? Seria difícil afirmar que amo o próximo e não
desejar estar com ele, só por causa dos seus defeitos. Afinal de contas, todos
estão cheios de imperfeições; como podemos, pois, julgarmos uns aos outros. Logo,
se somos igreja, temos de estar junto; temos de ouvir a mensagem, entender que
essa convocação à unidade diz respeito a nós, e atendê-la. Conquanto, Deus não
use mais trombetas, mas ainda há uma mensagem, uma convocação feita a cada
momento de culto, por meio da Sua Palavra. Todos os domingos somos convidados a
viver essa comunhão; por que continuamos, então, levantando barreiras que
impedem a unidade? Reunimos-nos no mesmo lugar, mas não nos relacionamos.
O mais
interessante é que, embora entre o povo houvesse pessoas problemáticas,
murmuradoras e insurgentes, como Corá, Data e Abirão (Nm 16), Deus diz que eles
deveriam se reunir. E, como falamos, essas reuniões não eram só para culto; o
Senhor os convoca a se reunirem para tudo, a terem tudo em comum (At 2.44). É
justamente de um grupo, igualmente problemático, cheio de pessoas murmuradoras,
insurgentes, cheias de defeitos, que Deus quer que você faça parte. Esse grupo
se chama igreja. O grande problema, entretanto, é que buscamos perfeição em
nossas comunidades de fé. Infelizmente, neste mundo, nunca a encontraremos. A
perfeição humana só existirá na morada celeste. Até lá, temos que aprender a
conviver. Foi isso que Jesus nos ensinou. Ele disse que devíamos amar nossos
inimigos, perdoar os que nos fazem mal, bendizer os que nos maldizem. Qual o
melhor lugar para exercitar isso senão a igreja? Uma reunião de pessoas
imperfeitas que seguem o único ser perfeito.
O engraçado é
que, quando éramos do mundo, as pessoas nos xingavam, denegriam a imagem de
nossas mulheres e mães, e não dizíamos nada. Era normal. Principalmente, entre
os homens. Contudo, no contexto da igreja, se alguém olhar diferente, respirar
um pouco mais forte, ficamos magoados. Parece que alguns, ao ingressarem na
igreja, adquiriram uma hipersensibilidade. Qualquer coisa que se fala os magoa.
Amado, o
sistema das trombetas mostra o desejo divino de que o povo estivesse unido em
todas as circunstâncias; nos momentos bons (alegria, solenidades, culto) e nos
ruins (guerra). De igual modo, Ele requer isso de Sua igreja. Seja na
adversidade ou na bonança, permaneçamos unidos, conectados. Não deixe que os
problemas, as insatisfações te afastem do corpo de Cristo. Ele tem defeitos,
mas Cristo morreu por Ele e te escolheu para compô-lo. Atenda o apelo sonoro
que o Senhor está levando ao teu coração!
3 - O sistema das trombetas ressalta
o valor da vida social.
O
texto diz que até para os momentos de alegria, ou seja, para as festas, as
trombetas seriam tocadas. Decerto, tal afirmação deixa transparecer o interesse
divino de que todos participassem dessas ocasiões. Porquanto, para Deus o homem
não é somente alma, mas corpo e alma. Sendo assim, não se podem ignorar suas
necessidades sociais e físicas. Porque as relações sociais são de suma
importância para nossa sanidade mental e equilíbrio espiritual.
O próprio
Jesus, em seu ministério, valorizou a vida social. Isto fica patente quando,
tendo arrebanhado seus primeiros discípulos, o mestre decidiu ir a uma festa de
casamento em Caná da Galileia. Pois, como diz a Escritura, alguns de seus
discípulos haviam sido também seguidores de João Batista. Este, como se sabe,
vivia no deserto e era conhecido por seu ascetismo e austeridade. Jesus, no
entanto, em seus primeiros passos ministeriais contraria totalmente o estilo do
batista, visto que um de seus primeiros atos é chamar os discípulos para uma
festa. Isto porque, Ele compreendia que a socialização, além de ser
extremamente necessária, é um exercício da espiritualidade que somos convidados
a viver no templo.
Mesmo
diante do exemplo de Jesus, muitos continuam considerando as atividades sociais
como “não espirituais”, pois entendem que somente ler a Bíblia, orar, ir ao
templo e evangelizar são atitudes que podem ser enquadradas como espirituais.
Pensando assim, alguns deixam de participar desse tipo de programação, alegando
que se trata de eventos meramente carnais. Não obstante, Deus quer que
ultrapassemos os limites do formalismo farisaico que atrai tanto os legalistas
deste tempo. Ele deseja que vivamos a socialização para a qual fomos criados.
Até porque, na verdade, nossa fé está diretamente ligada à socialização. A
igreja primitiva, por exemplo, fazia tudo junto: orações, visitas ao templo,
refeições, etc. De igual modo, somos convidados pelo Senhor a termos mais em
comum. Se não for assim, por que frequentamos o templo? De que adianta ouvir
que devemos amar, se, de fato, não estamos nem um pouco interessados um no
outro; sentamos lado a lado, mas, muitas vezes, nem nos falamos. Estamos mais
preocupados conosco do que com outras pessoas.
Precisamos
fazer mais coisas juntos, como igreja: almoços, passeios, retiros, festas,
reuniões nos lares, conversas após o culto. Fazer parte disso é o que nos torna
uma família; ir apenas ao templo, ao contrário, nos esfria, porque nos tornamos
meros assistentes, não participantes. Só há relacionamento entre o homem e Deus,
não entre homem e homem. No texto que lemos, participar das festas fazia parte
de ser Israel; no contexto da igreja a perspectiva deve ser a mesma: participar
da socialização é parte de ser Igreja. Portanto, envolva-se, participe, seja
parte do corpo!
Conclusão
Por
mais que o sistema de trombetas tenha sido elaborado exclusivamente para o
Israel do Antigo Testamento, há nele princípios fundamentais para a igreja de
Cristo. Daí a importância de atentarmos para os detalhes do texto que lemos.
Porquanto, as verdades que ele destaca vêm sendo ignoradas por muitos no seio
da comunidade cristã. A desobediência à Palavra de Deus, o descaso para com o
outro e o menosprezo pela vida social da igreja são o resultado dessa postura.
Vivemos
hoje uma fé centralizada em coisas sem vida, como o templo, microfones,
instrumentos musicais, quando deveríamos estar focando os seres vivos: Deus e
as pessoas; buscando viver diariamente a unidade apregoada dominicalmente. Esse
é o exemplo do texto. Em uma época em que não havia templo (apenas um santuário
portátil) o povo que não tinha um lugar central para se reunir, tinha Deus como
centro de sua vida, e o outro como parte do todo do qual fazia parte.
Destarte,
à luz do que foi apresentado nesta mensagem, convido-o a mudar sua atitude em
relação ao outro e à igreja. Afinal, é disso que o texto trata: de igualdade,
de amor, de comunhão, companheirismo, etc. Não deixe esses valores morrerem,
lute pela perpetuação deles. Obedeça ao Senhor, aos seus líderes e às regras da
sua denominação; só assim você terá mais energia disponível para a realização
da obra de Deus. Ame a igreja, ela é constituída de pessoas! Não deixe que as
pequenas coisas lhe afastem dela! Vivam as relações sociais, entendendo que
elas fazem parte do exercício de sua espiritualidade!
Pr. Cremilson
Meirelles
A MENSAGEM DA TROMBETA
Reviewed by Pr. Cremilson Meirelles
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