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DÍZIMO? O QUE É ISSO? PARTE III

Pastoral redigida para o boletim dominical da Primeira Igreja Batista em Manoel Corrêa

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O dízimo, no Antigo Testamento, tinha uma abrangência bem ampla, incluindo tanto plantas quanto animais (Levítico 27.30-34). Além disso, de acordo com a lei, os produtos agrícolas podiam ser vendidos e o dinheiro entregue como dízimo, desde que este fosse acrescido de 20% do seu valor. Vale salientar, no entanto, que esse tipo de conversão não se aplicava aos animais. Esse acréscimo sobre o montante, entretanto, tinha como objetivo impedir as falcatruas. Porquanto, alguém poderia dar um valor menor, argumentando que fazia assim por causa da conversão do dízimo em dinheiro.   
É necessário esclarecer também que, no contexto da lei, ninguém estava isento do dízimo. Até quem o recebia tinha de dizimar (Números 18.25-29). Contudo, embora houvesse uma aplicação social daquilo que era entregue, a motivação maior era religiosa. Tanto, que o dízimo era entregue no santuário central (Deuteronômio 12.10,11). Afinal, o ato de dizimar expressava a gratidão ao Senhor pelo sustento concedido, além de evidenciar o princípio de que tudo pertence a Deus, sendo Ele o verdadeiro dono de todas as coisas, tal como afirma o salmo 24.1.
Todavia, conquanto as contribuições, em grande parte, fossem resultado da produção agrícola e pecuária, isto não significa que quem dizima na atualidade tenha que se tornar agricultor ou pecuarista para observar essa prática. O que fazemos, na verdade, é baseado no princípio, também presente no Novo Testamento, da contribuição voluntária em reconhecimento ao senhorio e à bondade de Deus. Isto é mostrado claramente nas epístolas paulinas. Em 1 e 2Coríntios, por exemplo, vemos que os cristãos primitivos eram concitados a colaborar, dando dinheiro para a igreja (2Coríntios 8.1-16; 9.1,2), com generosidade (2Coríntios 9.7) e proporcionalidade (1Coríntios 16.2; 2Coríntios 8.11,12).
Definitivamente, não havia, e nem há, nenhuma injustiça ou erro nisso. Dizimar é uma prática justa e saudável, pois através dela o pobre pode contribuir na mesma proporção do rico. Além disso, por meio dessa contribuição é possível, como já destacamos nas pastorais anteriores, atender as frequentes necessidades da igreja local e atuar de maneira relevante na sociedade.
Apesar disso, vale ressaltar que nenhuma contribuição mencionada pela Bíblia é obrigatória. Por essa razão, o apóstolo Paulo salienta, em 2Coríntios 8.3, o caráter voluntário das contribuições, sublinhando que estas devem ser feitas com alegria (2Coríntios 9.7), e não sob ameaça. Até porque, contribuir para o avanço da obra de Deus, seja no seu aspecto social ou evangelístico, é, na verdade, um privilégio. Assim, a fim de incentivar esse sentimento, Paulo destaca o exemplo dos macedônios, os quais, mesmo enfrentando privações, rogaram ao apóstolo que lhes concedesse o privilégio de contribuir (2Coríntios 8.4). Esta contribuição, ainda que visasse, exclusivamente, o sustento dos pobres da Palestina, revela a liberalidade que deve caracterizar o cristão genuíno.
Algo digno de nota também é o fato de que, mesmo os fariseus tendo criticado Jesus em muitas coisas relativas à prática da lei e à observância de suas tradições, jamais o criticaram por não ser dizimista. Se Ele não fosse ou se pregasse contra o dízimo, sem dúvida, com o dedo em riste, O criticariam. Foi exatamente o que fizeram quando perceberam que seus discípulos não jejuavam (Marcos 2.18). Ademais, embora Jesus condenasse a hipocrisia dos fariseus, incentivou os discípulos a praticar o que eles ensinavam (Mateus 23.1-3). Aliás, no mesmo texto em que faz essa afirmação, o Mestre destaca que, conquanto fizessem algo correto, ou seja, dar o dízimo, os fariseus negligenciavam a essência da lei: “o juízo, a misericórdia e a fé”. De igual modo, quando vivemos em discordância com as Escrituras e, mesmo assim, damos o dízimo achando que isso nos faz retos aos olhos de Deus, somos tão hipócritas quanto eles.
Pr. Cremilson Meirelles
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11 comentários:

  1. Pastor, como vai? Só não entendi o trecho seguinte: "Definitivamente, não havia, e nem há, nenhuma injustiça ou erro nisso. Dizimar é uma prática justa e saudável, pois através dela o pobre pode contribuir na mesma proporção do rico". Como pode ser justo tanto o pobre como o rico contribuir na mesma proporção, sendo que uma das finalidades sociais do dízimo era justamente ajudar o pobre? Acredito que na sociedade judaica o pobre, nem o órfao e nem as viúvas dizimavam. Faz sentido isso?

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    1. Querido, quando digo "pobre", tenho em mente aquele que ganha pouco, e não o que não tem nada.
      Quanto à função social de ajudar o pobre, é importante ter em mente que a Bíblia nunca apregoou o moderno assistencialismo. Mesmo os menos afortunados tinha que participar dando algo para a igreja, proporcionalmente àquilo que podia ajuntar (1Co 16.2).

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  2. Vamos supor uma situação. Um pequeno pecuarista familiar judeu, chamado Zé, tinha dois cordeiros e 4 ovelhas. Consideremos que as quatro ovelhas ficaram prenhas naquele ano com 2 cordeirinhos cada e pariram com sucesso ao todo 8 cordeirinhos. Pergunto, considerando apenas esse aspecto, qual seria o dízimo a ser levado ao templo naquele ano?

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    1. Recomendo a leitura da sequência de textos intitulados: "é certo dar dinheiro para a igreja?"

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    2. Esses textos estão disponíveis aqui no blog.
      Entretanto, ainda estão em construção.

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    3. Pastor, obrigado pelas respostas. Vou ler a série recomendada. Mas a reflexão do pequeno pecuarista judeu é uma interessante reflexão. Esclarecendo, não sou contrário ao dízimo, porém considero que deveria ser tratado com mais clareza e fundamentação bíblica, assim como o senhor vem fazendo nesse espaço. Acredito que estamos nesse caminho. Assim, a título de curiosidade e reflexão, consideraria sua resposta a cerca do pecuarista judeu.

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    4. É importante levar em conta que muitos dos textos que posto aqui no blog são redigidos para o boletim dominical da igreja que pastoreio, e, portanto, nem sempre há espaço para tratar de todas as possibilidades. Nos artigos, ao contrário, busco expor as temáticas com maior profundidade. Contudo, compreendo que o Antigo Testamento, com seus diversos aspectos legais (Cerimonial, Civil e Moral), revela-nos princípios divinos. Estes, por conta de sua natureza, podem nortear perfeitamente a conduta da igreja. Vejo o dízimo como um desses casos. Um princípio revelado pelo próprio Deus. Afinal, se encontra no interior de Sua revelação. Como princípio divino, e não como mandamento, creio que ele se adequa perfeitamente à realidade neotestamentária de uma contribuição proporcional (1Co 16.2) e frequente (1Tm 5.17). Por essa razão, isto é, por utilizá-lo como princípio norteador, creio ser irrelevante se o indivíduo dava cereais, temperos ou animais.
      Outrossim, acredito que para que o indivíduo da pergunta hipotética não precisasse dar 1,2 ou 0,8 de animal, ele poderia converter sua contribuição em dinheiro, tal como foi destacado no texto.
      Deus o abençoe!

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    5. Pastor, obrigado pelo esclarecimento.

      Vou dividir meu comentário em duas partes pois o sistema aceita somente até 4.096 caracteres por postagem.

      Com relação ao caso do pequeno pecuarista judeu, Levítico 27:30-33 ensina com relação ao dízimo: "30 Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. 31 Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. 32 No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. 33 Não se investigará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se de alguma maneira o trocar, tanto um como o outro será santo; não serão resgatados."

      A primeira parte, versículos 31 e 32, ensina sobre as dízimas do campo, que poderiam ser resgatadas, ou seja, caso o dizimista resolvesse recuperar as dizimas do campo entregues ao sacerdote, deveria acrescentar a quinta parte e entregar o dinheiro equivalente, ou seja, o dizimista estaria comprando de volta o dízimo oferecido do sacerdote.

      Na segunda parte, versículos 32 e 33, no tocante às dizimas do rebanho, Levítico ensina que tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo, ou o décimo, será santo, ou seja, separado ao Senhor. Assim, acredito que o pecuarista conduzia seus novos rebanhos à presença do sacerdote, e era realizado uma contagem como que se passassem os animais em fila debaixo da vara, e assim o décimo animal era separado ao Senhor. Observa-se ainda, no final do versículo 33, que é estabelecido que as dízimos do rebanho "não serão resgatados", ou seja, não poderiam ser recomprados por dinheiro.

      Dessa forma, voltando ao caso do pequeno pecuarista judeu, ele deveria colocar seus 8 novos cordeirinhos em fila, na presença do sacerdote, para que passassem debaixo da vara, e assim que o décimo cordeirinho passasse debaixo da vara esse seria posto à parte, separado a Senhor. Ora, é evidente que nesse caso específico não haveria o décimo cordeirinho, pois só haviam 8 animais, e sendo assim não haveria o que se colocar à parte, ou seja, o pequeno pecuarista judeu não dizimaria naquele ano.

      Então, conforme podemos ler em Levítico, não eram todas espécies de dízimas que poderiam ser convertidas em dinheiro e entregue ao sacerdote. Assim, entendo.

      Deixando claro, pastor, que estamos analisando um caso específico e hipotético com a finalidade de reflexão. E como já mencionei, sou a favor das contribuições realizadas à igreja, seja dízimo ou oferta.

      (continua...)

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    6. Prosseguindo, e conforme muito bem colocado pelo senhor, 1 Co 16.2 é bastante esclarecedor com relação à realidade neo-testamentária. Segue o texto: "2 No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar." Acredito que muito mais que proporcional o texto bíblico diz "cada um de vós ponha de parte O QUE PUDER AJUNTAR". Comparando isso com a alíquota de 10% pré estabelecida hoje nas igrejas, isso não me parece razoável. A expressão "O que puder juntar" é muito pessoal e vai da sinceridade do ofertante com Deus. Entendo que a expressão "O que puder juntar" pode ser 15%, 20%, 30%, mas também pode ser 5%, 3%, 1% ou ainda nada. Como disse, é muito pessoal e vai da sinceridade do ofertante com Deus. Por exemplo, cem reais de dízimo pode representar muita coisa para um pai de família com esposa e quatro filhos que recebe R$1.000,00 por mês. Ao contrário, Um Mil reais de dízimo pode ser insignificante para esse mesmo pai de família caso ele ganhasse R$10.000,00 por mês. Já não bastasse o subjugo do Estado com sua taxação média de impostos de 40% com finalidade social questionável, a igreja estabelecer uma alíquota fixa, e muitas vezes obrigatória, é o golpe final pra trucidar o cristão. Assim, "cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade". Com relação à frequência das ofertas, a expressão "No primeiro dia da semana" também é bastante clara, não é necessário maiores comentários. De fato, existia contribuição e existia frequência.

      Com relação à 1 Tm 5:17, assino em baixo. Com efeito os presbíteros que governam bem, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina são dignos do seu salário. Isso é justo.

      Diante do exposto, concordo com o princípio norteador do dízimo, a norma moral que nos ensinou o Senhor Deus quando instituiu o dízimo na sociedade judaica, porém considero desnecessário e imponderado a aplicação do termo "dízimo" e o estabelecimento da alíquota de 10% atualmente em nossas igrejas e ainda mais dentro da nossa realidade social que é totalmente diversa da vivida pelos judeus no velho testamento. Considero que o princípio norteador do dízimo neo-testamentário é muito mais amplo. Envolve muito mais entrega, sinceridade, verdade e compromisso do ofertante. Afinal de contas, todos havemos de prestar contas diante de Deus.

      Agradeço a oportunidade e a reflexão. A paz de Jesus Cristo seja com o irmão.

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    7. Em relação à abordagem do texto de Levítico 27.30-33, ressalto que a forma da aplicação da lei relativa ao dízimo não se aplica à igreja, assim como as leis relativas à pena de morte também não. Porém, conforme destaquei anteriormente, meu entendimento é que tanto o aspecto civil da Lei mosaica quanto o cerimonial são aplicações da Lei moral de Deus. Por essa razão, ainda que os aspectos supracitados não constituam norma para a igreja, carregam consigo princípios subjacentes, resultantes da Lei moral.
      Seguindo esse raciocínio, encaro o dízimo como um princípio para manutenção da atividade religiosa, seja ela qual for. Esta, inclusive, é uma verdade histórica, haja vista que diversas nações o empregaram nesse sentido. Sendo assim, se os hebreus dizimavam por meio de produtos agrícolas ou da atividade pecuária, isso pouco importa pra nós. O que salta aos olhos, na verdade, é a necessidade da igreja ter uma receita mensal, a fim de sustentar seus obreiros (1Tm 5.17), missionários e atender às necessidades dos domésticos da fé.
      Penso que o dízimo, enquanto princípio, atende bem essa necessidade de uma receita mensal. Afinal de contas, ele é frequente (como eram as contribuições neotestamentárias - até porque, se não fosse assim, os obreiros não teriam o que comer), justo (pois, obedece ao princípio da proporcionalidade, de modo que o que pode ajuntar pouco, dá pouco, e o que o pode ajuntar muito dá muito - 1Co 16.2).
      Deus continue a abençoá-lo!

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    8. Pastor, obrigado pela resposta. Que Deus o abençoe.

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